A bola da vez é a hipocrisia que existe na manifestação da Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal ao pedir para o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) suspender a campanha publicitária “Hope ensina”, que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a “melhor maneira” de contar más notícias ao marido.
A manifestação da Secretaria acaba por enxergar preconceitos que não aparecem no comercial de lingerie. Aliás, trata-se de uma peça publicitária que usa o bom humor e exalta a alegria de viver. São questões que parecem não figurar nas pessoas que comandam essas pastas, criadas – ao que parece – para ocupar pessoas que vivem fora deste mundo. Em nome de proteger as mulheres, que nem sempre precisam de tanta proteção assim, beiram ao ridículo.
Em um dos comerciais, Gisele aparece usando roupas normais para falar que bateu o carro. Imediatamente surge uma tarja: “errado”. No segundo momento, a forma “correta” sugerida: a modelo repete a notícia, usando apenas lingerie. “Você é brasileira, use seu charme”, conclui a peça publicitária.
Para a Secretaria, “a propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”. Lamento muito que exista gente no governo federal, muito bem paga pela sociedade, que não tenha o que fazer.
Ao mesmo tempo em que atacam a lingerie, não fazem nada (ou fazem pouco) contra a exploração de meninas em nossas ruas em plena luz do dia. Também ignoram exposições ridículas de mulheres travestidas de frutas até nos programas infantis expondo seus corpos e menosprezando a imagem feminina.
Gente, qual mulher que não gosta de se mostrar ao marido ou ao homem de seus sonhos? Sedução. Algo que também existe no universo masculino. Um exercício rápido. Será que as propagandas de cuecas também devem deixar de mostrar modelos em trajes sumários? Será que uma Secretaria de Políticas para o sexo masculino deve ser criada para defender os pobres marmanjos? Óbvio que não.
Como a hipocrisia geralmente impera, é provável que o comercial saia do ar. Mas a fabricante não irá falir por causa disso. Ah, as mulheres que querem seduzir seus maridos, aquelas que têm bom senso, não vão deixar de comprar lingeries da marca que Gisele divulga. Mas a Secretaria terá a certeza de que cumpriu sua missão e salvou da lama as mulheres que tanto defende.
Ernesto Zanon
Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo
No Twitter: @ZanonJr