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História de Dona Maria, 45 anos de Taboão, se confunde com a do próprio bairro

Maria de Jesus Salles tem 81 anos, 10 filhos, 24 netos e 13 bisnetos. Há 45 anos, ela mora no coração do Taboão, um dos bairros mais conhecidos e populosos de Guarulhos. A casa dela fica a apenas 400 metros da praça 8 de Dezembro, cujo nome é uma homenagem à data de fundação da cidade.  
 
Dona Maria, como é conhecida no bairro, mudou-se para o bairro em 19 de março de 1972. Na época, estava grávida de 7 meses da filha caçula, hoje com 45 anos. No local não existia energia elétrica, iluminação pública, água encanada ou esgoto na região. Segundo ela, mesmo grávida, era obrigada a carregar balde até o bairro Santa Emília, onde havia uma bica, de onde coletava água para as necessidades da família.
 
A mulher conta que o momento do banho era batante complicado. “Eu tinha que preparar uma pequena fogueira com madeiras e colocava em cima um tambor com água para esquentar”, relembra.
 
No começo foi difícil conviver com a mudança de hábitos. “Eu morei antes no Tranquilidade, onde já havia mercado e alguma estrutura. Quando me mudei para cá as pessoas falavam que eu estava indo para a terra dos índios”, lembrou Dona Maria.
 
 
Compras feitas no Tranquilidade eram entregues de caminhão
 
Durante muito tempo já morando no Taboão, Dona Maria ainda ia até o Jardim Tranquilidade para fazer suas compras, que eram entregues por um caminhão em sua residência. “Às vezes pegava carona de volta com os entregadores, porque o pessoal ficava com dó de me ver voltando de ônibus com criança pequena”, contou. O ponto final do ônibus era na Praça 8. “Todas as pessoas que moravam em bairros da região tinham que descer até lá para se locomover e demorava muito”, completou. 
 
Dona Maria se lembra também de um momento de dificuldade que passou após o nascimento de sua última filha. “Fui chamada na escola pela professora da minha caçula, ela me disse que ela tinha um problema e que eu precisava prestar mais atenção nos movimentos dela”, lembrou-se.
 
A menina tinha uma doença que atingia os nervos e fazia com que ela não conseguisse realizar alguns movimentos básicos como andar ou escrever. “Na época não havia posto de saúde”, explicou. Apesar de toda a dificuldade, que incluía os outros filhos para criar, a falta de estrutura não impediu que Dona Maria conseguisse um tratamento para a filha. Hoje ela é casada, tem dois filhos e não tem mais dificuldades nos movimentos.
 
 “Eu me considero uma guerreira, depois de tudo o que passei. Mas tenho muito amor pelos meus filhos e faria tudo de novo”, emociona-se. Atualmente Dona Maria e o marido, com quem é casada há 62 anos, aproveitam a fase de aposentadoria, para viajar. 
 
 
 
“Se eu comparar este bairro com a época em que cheguei aqui, posso dizer que está uma maravilha. Eu comparo a Praça 8 com a 25 de Março. Aqui tem tudo, até banco”
 

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