“E, aí, comeu?”. A pergunta surge na mesa do bar onde costumam se reunir três amigos, profissionais da classe média carioca. Um é arquiteto, outro jornalista e o último, escritor. São personagens de uma comédia escrita por Marcelo Paiva, lançada há cinco anos. E aquela mesa serve de extensão das casas deles, diz o site do filme. Lá, eles se juntam para relaxarem, verem, serem visto, falarem dos problemas, de trabalho, da vida. “E, claro, de mulheres”.
É sobre uma mulher que a pergunta se refere, algo que também ocorre hoje, frequentemente, no mesmo tipo de ambiente da vida real. Com a pergunta, há busca de atualização sobre as novidades da vida sexual de algum frequentador de uma daquelas mesas. Ela é ouvida com naturalidade, embora num passado remoto pudesse chocar quem julgasse que os eventos da sexualidade humana devessem ficar encerrados na intimidade da vida privada das pessoas. Desde há 60 anos, porém, esta associação pública entre alimento e sexo ecoava nos lares brasileiros através dos aparelhos de rádio, todas as vezes que neles se ouvia uma música de sucesso, gravada por Sylvia Telles, com o título de “Amendoim torradinho”. Moça também da classe média do Rio de Janeiro, Sylvia cantava: “Meu bem, esse teu corpo parece, do jeito que ele me aquece, um amendoim torradinho”.
Depois dos anos 60, com a Revolução Sexual, a mesma associação iria se tornar corriqueira em muitas conversas femininas. Nelas, homens atraentes passaram a ser classificados de “gostosos”. Exatamente como, quando crianças, aqueles jovens viram em cenas de filmes norte-americanos personagens masculinos chamarem suas mulheres de “docinho”.
“Por que a comida é tão sexual?”, indaga Diane Ackerman, no livro “Uma História Natural dos Sentidos”. A autora oferece uma tríplice resposta. 1ª) Para povos primitivos, o processo de criação universal da terra onde nasciam os alimentos se confundia com o processo sexual individual de geração de filhos. 2ª) Muitos alimentos humanos surgem da sexualidade dos animais e das plantas. 3ª) Há grande variedade de alimentos com formas fálicas – cenouras, pepinos, por exemplo – e outros que lembram formas dos corpos femininos. Como os pêssegos, “com seus traseiros calipígios”, diz a autora.