Mundo das Palavras

História dos prazeres: os cheiros

Não seria exagero enxergar no livro de Diane Ackerman, “Uma História Natural dos Sentidos” uma versão moderna do Kama Sutra. No Ocidente, amilenar obra indiana é apresentada de modo distorcidocomo um vulgar manual de sexo, quando, na realidade, se constitui num tratado brilhante sobre como podem ser desfrutados com muito refinamento os prazeres físicos humanos obtidos através dos sentidos.
 
Próximo desta obra está o trabalho de Ackerman. Contemporânea da geração dos hippies nos Estados Unidos, dos quais preservou o amor pela vida natural e livre, Ackerman se tornou uma poeta, aviadora e aventureira,dedicada a pesquisas sobre animais em extinção em áreas distantes entre si do nosso planeta como nossa Mata Atlântica, Havaí, Patagônia e Japão.
 
Interessada na preservação de micos-leões-dourados, baleias jubarte, borboletas monarca, focas-monge, albatrozes de cauda curta.
 
Dentro de sua especialidade, as Artes, quando teve de apresentar uma tese de Doutorado na Universidade de Cornell, Ackerman exigiu que sua banca examinadora tivesse, ao lado de algum poeta,o consagrado astrônomo Carl Sagan. 
 
O livro dela atinge a sofisticação de um novo Kama Sutra logo no primeiro capítulo,dedicado ao olfato. Distante do ensaio acadêmico convencional, a obra toda transpira Hedonismo como se sua autora quisesse sobretudo cantar o amor à vida. “Um odor pode ser inesperado, momentâneo e fugaz e, mesmo assim, conjurar todo um verão da nossa infância… O olfato é o sentido mudo.
 
O que não tem palavras. Na ausência de um vocabulário, ficamos de língua atada, buscando as palavras em um mar de prazer e exaltação inarticulados…Tente agora você: descreva o cheiro de seu amado, de seu filho, de seu pai… Você consegue descrever o aroma de sua cadeira favorita, de seu sótão ou de seu carro?… Para conseguirmos uma cartografia dos aromas, precisamos de mapeadores sensuais que inventem palavras novas…
 
Deveria haver uma palavra que pudesse designar o cheiro da cabeça de uma criança, de talco e frescor… Em um mundo onde tudo pode ser dito, os cheiros estão na ponta de nossa língua. Mas não mais que isso. O que lhes confere uma espécie de distância mágica, mistério, poder sem nome, qualidade sagrada”.
 
Esta magia misteriosa o pintor mexicano Eduardo Merino Urbano tentou expressar com cores e traços no seu quadro “El perfume de la Rosa”.
 

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