Uma obra de profissional. Descobrir, em 2013 – 83 anos depois que ele nasceu, em Berlim -, o que aconteceu com Sérgio Gunther, o filho que Sérgio Buarque teve ainda solteiro. E de quem ele foi definitivamente separado pela 2ª Guerra Mundial. Quem realizou este trabalho foi o pesquisador brasileiro João Klug auxiliado por Dieter Lange, museólogo alemão. Em 2014, Klug revelou, para a Deutsche Welle – DW, detalhes de como foi reconstituída a vida de Sérgio Gunther até 1981, quando ele morreu, aos 50 anos de idade.
"O historiador Sidney Chalhoud, da Unicamp, estava em Berlim, como eu, e me chamou para conversar porque Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras havia pedido auxílio para o livro 'O irmão alemão' que o Chico Buarque estava começando a escrever. Tínhamos, no início, duas ou três cartas, dos anos de 1930, do Sérgio Buarque de Holanda, trocadas com o Ministério alemão das Relações Exteriores, falando dessa criança e do interesse do Sérgio de repatriar esse menino. Mas, em uma correspondência de 1934, era exigido do Sérgio Buarque um atestado de arianismo e claro que ele não tinha. Em 1935, não havia mais nada sobre esse filho. Fiz uma cópia dos documentos e conversei com meu amigo Dieter Lange que conhece muito bem esses caminhos da Arquivologia. Resolvemos pesquisar em alguns arquivos. Ainda não está claro por que a mãe entregou Sérgio para a adoção do Estado. Descobrimos que ele havia entrado para o coral do Exército na Alemanha Oriental Comunista – RDA, aos 16 anos. E que se projetou em função da sua voz, além de ter sido apresentador da TV. Apresentava, por exemplo, o programa 'Berlim permanece Berlim', no qual saía pelos bairros fazendo entrevistas, com o objetivo de mostrar como tudo funcionava bem e era harmônico na RDA. Eu e o Dieter frequentávamos um bar, onde se reuniam algumas pessoas da velha guarda da RDA. Entre elas, dois jornalistas, o Werner Reinhardt e o Manfred. Numa tarde, lançamos a pergunta: alguém conhece um tal de Sergio Günther? No ato, o Werner disse "ele foi muito meu amigo". O Werner tinha trabalhado junto com o Sergio Günther. E, nos forneceu muitas informações. O Chico veio para Berlim e fizemos uma trilha, seguindo os rastros do seu pai – onde ele provavelmente morou, que cafés frequentava – e também do Sérgio Gunther. Esse irmão do Chico era um ótimo cantor. Quando eu enviei a primeira música que achei dele para o Chico, ainda brinquei: 'Isso aí que é voz! Não a tua!'. O Chico respondeu: 'É, o alemão tem lá o seu suingue'."
Ouça a voz de Sérgio Gunther:
https://www.youtube.com/watch?v=qvMHtWkMCXE
