Traduzir o "dialeto" economês para o português é um talento que poucos têm, mas foi exatamente por essa habilidade que o jornalista Joelmir Beting ficou conhecido no País. Antes mesmo do termo multimídia ser moda, Joelmir atuou no rádio, na TV e em jornais, inclusive no jornal O Estado de S. Paulo. Ele também era sociólogo formado pela USP, da mesma turma de nomes como Ruth Cardoso e Francisco Weffort.
Essa jornada é retratada em uma biografia recém-lançada: Joelmir Beting – O jornalista de economia mais influente da história do Brasil. Escrito por Edvaldo Pereira Lima, jornalista e professor universitário, o livro é um registro do profissional e do ser humano que foi Joelmir, apresentando sua relação com familiares e amigos próximos.
A iniciativa da biografia autorizada partiu do filho mais velho de Joelmir, Gianfranco Beting, mais conhecido como Panda. Ele é publicitário, especialista em aviação e um dos fundadores da companhia aérea Azul.
As andanças pelo mundo fizeram os caminhos de Panda e Edvaldo se cruzarem. E, por já conhecer o trabalho do escritor, Panda o convocou para escrever a história do pai.
Em cerca de dois anos de pesquisa, Edvaldo afirma que o biografado, mais do que um ícone do jornalismo, foi um pensador social. "Ele colocava a economia em um contexto mais universal, de entendimento para toda a população", diz.
Segundo o autor, um dos momentos que mais retratou a ligação do jornalista econômico com a sociedade foi a sua expressão de espanto na <i>TV Globo</i>, ao vivo, em reação ao anúncio do Plano Collor, que resultou no confisco da poupança, em março de 1990. Encarando a câmera, ele arregalou os olhos e escancarou a boca, como se informasse, sem dizer uma palavra, a dimensão do que a medida significava.
A imagem foi usada pela edição do <i>Jornal do Brasil</i> do dia seguinte, sob a manchete "A cara da nação". Segundo Edvaldo, Joelmir tinha um jeito próprio, traduzindo para uma linguagem compreensível ao cidadão comum medidas econômicas anunciadas por diferentes governos.
<b>Trajetória</b>
Nascido em 1936, Joelmir passou a infância em Tambaú, no interior de São Paulo. Neto de imigrantes alemães que ficaram ricos na lavoura e depois perderam tudo, Joelmir José Beting começou trabalhando como boia-fria aos 7 anos, para ajudar o pai na colheita de jabuticaba e de limão. Chegou a São Paulo em 1955, aos 19 anos. Pouco tempo depois, já estava trabalhando como jornalista.
O livro conta que, embora tenha revolucionado a cobertura da área econômica, o palmeirense fanático iniciou sua carreira jornalística como repórter esportivo no <i>O Esporte</i> e <i>Diário Popular</i>, em 1957, ainda como universitário.
Ao se formar em Ciências Sociais, Joelmir trocou o jornalismo esportivo pelo econômico, em 1962. Quatro anos mais tarde, foi convidado a lançar uma editoria de Automóveis na <i>Folha de S.Paulo</i>. Em 1968, foi nomeado editor de Economia do jornal e, em 1970, passou a assinar uma coluna diária.
Em 1991, chegou ao <i>Estadão</i>. Sua coluna era publicada, na época, em mais de 50 jornais no País. Durante toda sua carreira profissional, participou, em paralelo, de programas nas rádios <i>Jovem Pan</i>, <i>Bandeirantes</i>, <i>Excelsior</i> e <i>CBN</i>.
Na TV, teve passagens pela <i>Bandeirantes</i>, como comentarista e apresentador, em dois períodos: de 1974 a 1985 e, depois, de 2003 a 2012, ano de seu falecimento. Na <i>Globo</i>, atuou entre 1985 e 2003. Na estreia da <i>GloboNews</i>, foi um dos apresentadores do Espaço Aberto. Teve ainda passagem pelas redes <i>Gazeta</i> e <i>Record</i>.
Para Edvaldo, o livro vem também para valorizar o trabalho da imprensa, "nesse momento de grande crise, confronto ideológico, em que o jornalismo sério e competente está sendo combatido de maneira tão vil por aqueles que não têm interesse que uma imprensa livre continue a existir".
O livro está disponível para venda desde a segunda-feira, 3, e pode ser adquirido no site da editora Beting Books (https://www.betingbooks.com.br/).