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Hollywood corrige erro e opta por não ignorar os negros desta vez no Oscar 2017

Deu o que mais ou menos estava previsto nas indicações do Oscar 2017: muitas foram para “La La Land”, talvez o filme do ano pelas simpatias que vem angariando. Também estava no script que, ao contrário de 2016, quando a comunidade negra de Hollywood foi ignorada, desta vez há pelo menos três filmes com atores e temática afro-americana estão nas cabeças: “Cercas”, “Estrelas Além do Tempo” e “Moonlight”.

Entre os diretores, desponta o óbvio Damien Chazelle, de “La La Land”, mas também, concorrendo com ele, Kenneth Logan, de “Manchester à Beira-Mar”, e Barry Jenkins, de “Moonlight”. A (relativa) surpresa nessa categoria foi a presença de Mel Gibson, que andava meio queimado na Academia. Além disso, “Até o último Homem” concorre entre os nove indicados a melhor filme. E o ator, o herói da história da 2ª Guerra, Andrew Garfield, está entre indicados.

Talvez Garfield não leve o prêmio. Ryan Gosling, de “La La Land”, e Casey Affleck, de “Manchester” são os favoritos, mas a sua simples presença é significativa, pois trata-se de um herói de guerra que jamais pegou numa arma.

A estatueta deve ficar entre os favoritos, a não ser que a Academia resolva radicalizar na causa afro-americana e entregar o prêmio a Denzel Washington, maravilhoso no papel de um trabalhador dos anos 1950 em Pittisburgh.

Foi estranha sua ausência entre os diretores indicados. Talvez a estrutura do filme, adaptado de uma peça teatral, tenha incomodado os votantes. Mas “Cercas” é de fato muito forte, em especial pelas atuações de Washington e Viola Davis.

Viola concorre como atriz coadjuvante e está entre as favoritas nessa categoria, apesar da concorrência forte com Naomi Harris (“Moonlight”), Otavia Spencer (“Estrelas Além do Tempo”) e Michelle Williams (“Manchester”).

Entre as atrizes, chama a atenção a presença de Isabelle Huppert, por “Elle”. É, talvez, a grande atriz da atualidade, uma unanimidade na Europa, e aqui interpreta um papel surpreendente, difícil, do jeito que ela gosta de encarar.

Mas há a favorita “Emma Stone”, uma graça em “La La Land”. E não se pode descartar a caracterização de Natalie Portman como Jacqueline Kennedy em Jackie, interessante “docudrama” de Pablo Larraín.

Entre os documentários, os especialistas dão como favorito “O.J.: Made in America”, sobre o caso de O.J. Simpson. No entanto, o italiano “Fogo no Mar”, de Gianfranco Rosi, é nada menos que estupendo, com a história trágica dos refugiados da África que tentam atingir a Europa pelo Mediterrâneo. Não se trata apenas do tema urgente. É grande cinema e venceu o Festival de Berlim. Mas talvez os votantes prefiram um tema americano.

Entre os atores coadjuvantes, há também muita concorrência e Dev Patel tem sido apontado como forte candidato por sua atuação em “Lion”. Mas um destaque é o veterano Jeff Bridges em sua caracterização como xerife cético em “A Qualquer Custo”, surpreendente história de roubo a banco ambientada no Texas.

Entre os candidatos a filme estrangeiro há a força inventiva do iraniano “O Apartamento”, mas Asghar Fahradi já venceu um Oscar e a comédia alemã Toni Erdmann vem atropelando concorrentes por onde passa.

O Oscar deste ano tem uma característica interessante. Talvez não haja nenhum grande, imenso filme, daqueles capazes de reunir unanimidade em torno de si. Há a simpatia de “La La Land”, com sua suavidade propícia num tempo difícil para os Estados Unidos e para o mundo. Seria antipático tachá-lo de escapista. É apenas bonito e romântico.

Mas há também dramas sólidos como “Manchester à Beira Mar”, “Cercas” e “Moonlight”, todos merecendo atenção tanto dos votantes quanto dos cinéfilos. Falam de coisas sérias e atuais, como a culpa que não passa, a paternidade problemática, a homossexualidade difícil de ser assumida em determinados meios e circunstâncias.

São filmes muito bons e, junto com “Até o Último Homem”, um drama de guerra, “Estrelas Além do Tempo”, sobre mulheres negras que trabalharam em missões espaciais da Nasa, e “A Chegada”, uma ficção científica nada banal, compõem um panorama bastante interessante de um cinema que não se ocupa apenas de blockbusters desmiolados.

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