Três noites antes percorrer mais um tapete vermelho estendido na entrada de um cinema para a estreia de Liga da Justiça, no início de novembro, em uma gélida Londres – cuja temperatura se aproximava do 0º C -, Gal Gadot ouviu de um amigo a teoria de que o filme protagonizado por ela, Mulher-Maravilha, lançado em junho deste ano, havia mudado o jogo de Hollywood para sempre – e para o bem. Depois de experiências positivas com protagonistas femininas no cinemão blockbuster, principalmente com a franquia Jogos Vorazes, de Jennifer Lawrence, o longa-metragem dirigido por Patty Jenkins, enfim, mexia no universo dos super-heróis que mais parecia um vestiário masculino. Tantas produções depois, uma personagem feminina, uma heroína, ganhou o lugar de maior destaque do cartaz – e que passa com louvor pelo teste de Bechdel, aquele criado para determinar o papel das personagens femininas em produções de cinema e televisão independentemente de pares masculinos.
“Ele me disse que, mesmo subconscientemente, aquele filme transformou as coisas. Com se ele tivesse sido um gatilho para que algo mudasse”, conta Gal, sentada em uma das duas poltronas posicionadas no centro do quarto decorado como o local de trabalho da arqueóloga Diana Prince, a versão “civil” da Mulher Maravilha – sim, heróis também têm empregos. “E, dias depois, estamos conversando aqui de novo. Isso me faz pensar que talvez seja verdade.”
A presença da força do feminino no Clube do Bolinha mais rentável (os filmes de heróis) de um ambiente já exageradamente machista e abusivo (Hollywood) é fundamental no discurso de igualdade de gêneros. Coincidência ou não, meses depois de Mulher Maravilha, o filme, o antigo sistema parece ter rachado.
Carreiras de abusadores passaram a afundar, um a um, a partir das denúncias contra o produtor todo-poderoso Harvey Weinstein. Vimos tombos enormes, como de Kevin Spacey, chutado para fora da série House of Cards e carta fora do baralho de Hollywood. “Se for isso, mesmo, eu fico feliz”, diz Gadot. “Acho que a ideia de alguém usar o poder que tem para manipular e conseguir algo de alguém contra a vontade dela é inaceitável. Apoio a todos aqueles que estão passando a limpo e torço para que essa mentalidade mude logo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.