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Hollywood quis valorizar a arte, mas temas urgentes dominam festa do Oscar

A Academia de Hollywood bem que tentou, organizando uma cerimônia do Oscar focada no cinema – em sua 90.ª edição, a festa recebeu veteranos (Eva Marie Saint, 93 anos, Christopher Plummer, 88, e Rita Moreno, 86), além de exibir inesquecíveis cenas históricas. Mas o presente se impôs ao passado e o evento comandado pelo comediante Jimmy Kimmel será mais lembrado pelos posicionamentos políticos e sociais – temas como assédio sexual, visibilidade latina, transgêneros, “dreamers” culminando com o discurso catártico de Frances McDormand, a noite de domingo foi pontilhada por recados do mundo mais rico do cinema. “As pessoas marginalizadas merecem sentir como pertencentes – e a representação importa”, disse o Lee Unkrich, diretor da animação vencedora Viva – A Vida É Uma Festa, ambientada no México.

Para a imprensa americana, a cerimônia do Oscar foi uma espécie de dança em que tanto se honrou como se corrigiu o passado. “Se fosse no ano passado, a 90.ª entrega do Oscar provavelmente teria sido um festival de nostalgia de cor rosa”, observou Lindsey Bahr, da agência Associated Press. “Mas, este ano, com a avalanche provocada pela revelação de toda uma cultura escondida ao longo de décadas de má conduta sexual, pelo cinema como um negócio em declínio, por um clima político volátil e pela confusão dos envelopes em 2017, a Academia de cinema e seu anfitrião organizaram uma dança complexa e às vezes incongruente de tentar honrar e expiar o passado.”

O momento mais catártico e significativo foi o discurso de agradecimento de Frances McDormand, pelo Oscar de melhor atriz por Três Anúncios Para Um Crime. Ao final, depois de convocar as mulheres da plateia a ficar em pé, Frances pregou que todas deveriam, a partir de agora, incluir uma “inclusion riders” em seus contratos de trabalho, ou seja, uma cláusula de inclusão, um termo do acordo em que o artista pode exigir a presença de uma certa porcentagem de pessoas representativas da diversidade de gênero ou étnica, como mais atrizes, latinos ou profissionais LGBT, por exemplo.
“Descobri isso na semana passada”, disse Frances, na entrevista coletiva depois da cerimônia, onde foi muito aplaudida. “Sempre existiu essa cláusula que permite pedir (ou exigir) pelo menos 50% de diversidade, não só no elenco, mas também na equipe. Estou há 35 anos no negócio do cinema e sempre vi tendências: femininas, afro-americanas. Isso muda agora, porque o poder passa a ter regras. Iniciamos uma conversa que mudará algo.”

Na cerimônia que premiou ainda A Forma da Água (como melhor filme), Guillermo del Toro (direção), Gary Oldman (ator), Sam Rockwell (ator coadjuvante) e Allison Janney (atriz coadjuvante), alguns discursos sobressaíram. Del Toro, por exemplo, dizia que, há alguns anos, jamais imaginaria que um latino como ele poderia estar no alto do pódio, recebendo a estatueta dourada. Idêntica sensação revelou Jordan Peele, vencedor do Oscar de roteiro original por Corra! “Interrompi a escrita desse filme cerca de 20 vezes porque achei que era impossível alguém se interessar em produzir ou mesmo de assistir”, comentou.

O temor de Peele, em especial, era sensato, uma vez que, há alguns anos, a presença de artistas negros na cadeia de produção era muito escassa. Os movimentos iniciados em 2016 pediam mais presença afro e contratos mais equânimes para as mulheres. Filmes de super-heróis como Mulher-Maravilha e Pantera Negra ajudaram a reencaminhar o processo, mas as comediantes Tiffany Haddish e Maya Rudolph fizeram questão de mostrar que ainda não é tempo de comemoração.

Em um dos momentos mais divertidos da festa, elas entraram segurando os sapatos, antes de apresentar as categorias de curtas. Depois de brincarem com as dores nos pés (“Menina, meu dedo mindinho caiu”, disse Maya), elas trataram de acalmar os temores de quem acredita que o Oscar agora é “muito mais negro”, depois de anos de #OscarsSoWhite. “Não se preocupem. Ainda tem muitas pessoas brancas para vir”, disse Maya. “Muita!”, concordou Tiffany. “Nós acabamos de chegar dos bastidores, e lá há toneladas delas.”

MOMENTOS

Jimmy Kimmel
Em seu discurso de abertura, o comediante brincou com os maus-tratos sofridos pelas mulheres (“Foi feito um filme chamado O Que as Mulheres Querem, estrelado por Mel Gibson”) e com o vice-presidente (“Só dois dos finalistas a melhor filme arrecadaram mais de US$ 100 milhões, mas não fazemos longas como Me Chame Pelo Seu Nome por dinheiro, mas para chatear Mike Pence”).

Momento #MeToo
Ashley Judd, Salma Hayek e Annabella Sciorra alertaram sobre a importância de as mulheres continuarem a revelar casos de assédio sexual.

Audiência
Mesmo com tanta diversidade, a audiência da transmissão pela TV aberta caiu 16% em relação a 2017. Mais pessoas rumam para o streaming, que não é aferido.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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