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Homenageada em festival, Inés Efron quer entender funcionamento da sociedade

Inés Efron parece ainda mais jovem que seus 34 anos. Antes, admite que se incomodava. “Queria ser mais velha, achava que daria mais força e validade ao meu trabalho.” Agora, mesmo com a cara ainda de garota, gostaria que o tempo parasse. “A gente é assim mesmo”, brinca. Inés foi a grande homenageada internacional do 13º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. “Foi uma grande surpresa, mas é claro que é lisonjeiro. Ninguém espera receber um prêmio de carreira tão cedo”, confessa.

Nesta quarta, 1º, o festival encerra-se com a outorga do prêmio de melhor filme, segundo o júri popular, e melhor filme do júri oficial, ao qual concorrem os filmes de alunos de escolas de cinema. Como homenageada, Inés deu entrevistas, participou de debates, apresentou seus filmes. Dois, entre os que integram a programação, foram realizados por Lucía Puenzo – XXY, de 2007, O Menino Peixe, de 2009. São filmes que abordam questões de gênero, e identidade. “Hoje, todas essas questões estão na mídia, mas há dez anos Lucía estava se antecipando num debate que se tornou necessário em nossas sociedades conservadoras”, comenta.

O Menino Peixe é sobre adolescente que se apaixona pela empregada da família. A diferença de classes e a falta de apoio para que formalizem a união despertam sentimentos violentos, e ambas cometem um crime. “O curioso é que não estava nem um pouco certa de que era a melhor escolha para o papel no segundo filme. Não conseguia entender a personagem, me colocar na sua pele, mas Lucía insistiu e terminei fazendo.” Não se arrepende. O filme repercutiu, de público e crítica, lhe deu até prêmios.

“E hoje somos muito amigas, Lucía e eu. Não faço TV, somente teatro e cinema. No teatro, você tem de dominar a personagem, porque senão o público percebe a falsidade. O cinema é mais internalizado. Tem a montagem, a música. Às vezes, o diretor ou diretora pedem para simplesmente ficar diante da câmera, sem tentar expressar nada. E depois você vê que a coisa funciona.”

Nascida no México – em 1984 – de pais argentinos, Inés migrou com a família ainda criança. Os pais sempre estimularam a criatividade dos filhos. Ela quis ser atriz. O irmão, Mario, é músico. Em 2005, ainda não tinha completado 20 anos e estreou com Glue. Três anos mais tarde integrou o elenco de Mulher Sem Cabeça, da mais famosa – e importante – diretora autoral da Argentina, Lucrécia Martel. Inés não se interessa por política, e menos ainda por política partidária. Mas acha que, como mulher e como artista, não pode se calar diante desse avanço da direita no mundo. “É revoltante. Direitos estão caindo por terra. Precisamos defender as liberdades individuais e a de expressão.”

Adora ler filosofia. Absorvida pelo teatro, não tem tido tempo de ver muito cinema. “Nos últimos dois anos, não devo ter visto mais que quatro ou cinco filmes.” O melhor? “Foi um filme que vi no avião e me produziu um impacto muito forte, The Square – A Arte da Discórdia. Já havia gostado do filme anterior de Ruben Östlund, Força Maior, de 2014. O diretor sueco tira a gente da zona de conforto. Acho que é a função social da arte. Sacudir a gente, fazer pensar.” E os demais filmes que integraram sua homenagem no Festival Latino – Cerro Bayo, de Victoria Galardi, e Voley, de Martín Piroyansky? “São comédias, e eu adoro fazer humor, o que, para mim, como atriz, é mais difícil. O desafio me estimula. E, nesses casos, os diretores já eram meus amigos.” E se o repórter lhe pedisse para fazer a escolha de Sofia – um só desses filmes todos, qual seria? “Sinto decepcioná-lo, mas não vejo dificuldade em escolher. Cerro Bayo é o meu preferido. Por quê? É uma história muito boa. O impacto do suicídio da matriarca sobre uma família. Ela fica em coma e, ao redor, a família começa a se desintegrar.”

São filmes de mulheres, mas Voley, por exemplo, foi dirigido por um homem. Um grupo de amigos e a estranha sexy que vem perturbar a estabilidade precária em que vivem. Amorosa Soledad, também – por Martín Carranza. Uma mulher, decepcionada com sua vida amorosa, resolve dar um tempo nos relacionamentos. Surge o que parece o homem perfeito. Faz diferença ser dirigida por homem ou mulher? “Não no sentido de como os filmes são feitos. Mas talvez exista, sim, uma sensibilidade feminina. Uma questão de olhar. Uma outra mirada. De qualquer maneira, nós, mulheres, estamos numa fase de empoderamento. Discutem-se os gêneros, mas não quem dirige melhor. O que estamos querendo entender é o funcionamento da sociedade.”

E como é estar num festival que celebra o cinema latino-americano? “O cinema latino já é celebratório. De si mesmo, de nossas histórias, culturas, conquistas. Acho linda essa diversidade e, dentro dela, descobrir que somos filhos da mesma América. Hermanos. O carinho das pessoas em São Paulo tem sido imenso. Estou há quatro dias e já existem pessoas que parecem estar na minha vida há séculos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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