Os três meses de concessão trouxeram transformações na paisagem do Horto Florestal e do Parque da Cantareira – na zona norte de São Paulo e em Mairiporã – com carrinhos elétricos, venda de bebidas e alimentos, novas visitas guiadas, um parque infantil pago e a reabertura do portão de ligação entre os espaços. As mudanças dividem opiniões entre os frequentadores, sobretudo pelos reajustes de preços de serviços e de entradas em parte das atrações.
A nova gestora é a Urbia, braço da Construcap, também responsável pelo Parque do Ibirapuera. Entre as obrigações do contrato (de 30 anos) e propostas próprias, a empresa planeja mudanças, o que inclui uma nova cara para o Museu Florestal e até um circuito aventura e passarelas no Cantareira.
Nesse fim de semana, a principal novidade foi a estreia da oferta de café da manhã colonial no Palácio de Verão, antiga residência de veraneio de governadores erguida nos anos 1930. O serviço passa a ser oferecido aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 12h, pelo restaurante As Véia, do tradicional complexo O Velhão.
O bufê – com bebidas, pães, bolos etc – custa R$ 49,90. A Urbia também tem planos de oferecer o palácio para atividades culturais e eventos diversos. Pelo contrato com o Estado, também é prevista restauração completa do espaço – e das demais edificações tombadas dos dois parques.
"A grande intenção é embalar essa mensagem (de valorização da natureza) de outra forma, para que a Floresta Cantareira esteja na lista de desejos dos que moram em São Paulo e de turistas que vêm à cidade, por muito tempo conhecida apenas como uma floresta de pedra ", afirma Samuel Lloyd, diretor comercial da Urbia.
Um dos pontos-chave para isso é potencializar o público das estruturas já existentes no Horto e torná-lo a principal porta de entrada do núcleo Pedra Grande, o mais popular do Cantareira. O Museu Florestal – cuja proposta museológica está em revisão para ter "pegada mais contemporânea" – seria o primeiro passo antes de o visitante se encaminhar para uma trilha ou outra atividade.
A ideia é que o espaço se torne mais abrangente, envolvendo também temas sobre recuperação ambiental, reflorestamento, sistemas de produção sustentáveis e outros.
<b>CALENDÁRIO</b>
As mudanças já implementadas incluem calendário de eventos no Horto, como o arraial nos dias 23, 24, 30 e 31 de julho, das 11h às 18h. Professores voluntários são cadastrados para aulas gratuitas de danças, esportes e afins, assim como há uma feira gastronômica com produtores locais nos fins de semana, das 10h às 17h, e carrinhos de alimentos e bebidas em vários pontos.
O Horto também ganhou visitas guiadas com carrinhos elétricos, de até 45 minutos e que percorrem as principais atrações do parque, com informações ambientais e históricas. O custo é de R$ 15 por pessoa. Também há passeios a pé, um deles focado nas abelhas nativas do parque (como as jataí), com custo de R$ 10. Todos têm saídas entre 9h e 17h.
No Cantareira, o ingresso subiu de R$ 19 para R$ 30 e um espaço expositivo no mirante da Pedra Grande foi transformado em cafeteria, com mesas internas e externas. É oferecido ainda guiamento para as trilhas por R$ 10, sem precisar de agendamento para os núcleos Engordador e Pedra Grande.
Outra novidade foi o Jump Mania no Horto, parquinho com trampolins e brinquedos infláveis, com valores de R$ 8 a R$ 80. Funciona das 10h às 18h, nos fins de semana e feriados e em todos os dias de julho. Além disso, o Museu Florestal passou a abrir também no fim de semana, com entrada a R$ 15 (nas terças é grátis).
A concessão abrange somente áreas de uso público – 3,6% do total dos dois parques, que integram reserva de Mata Atlântica. Pela concessão, a Construcap pagou R$ 851 mil e aceitou obrigações contratuais avaliadas em R$ 56,7 milhões. A receita estimada pelo Estado é de R$ 882,1 milhões, com retorno a partir do 7º ano.
No 1º ano, a concessionária deve criar sistema de transporte que ligue o estacionamento do Horto ao mirante da Pedra Grande. Em três anos, deve ser ativado ao menos um "circuito de aventura" (como tirolesa, arvorismo ou outro) no Cantareira. Em quatro anos, é a vez de entregar o novo mirante e a passarela da Pedra Grande e o restauro do Palácio de Verão e, em seis anos, restaurar a Casa da Bomba, entre outras intervenções obrigatórias.
<b>CRÍTICAS</b>
Os valores do ingresso no Cantareira e de serviços no Horto motivam críticas de parte dos frequentadores. Na entrada dos espaços, comentários sobre preços são comuns, assim como nas redes sociais.
Moradora da região e frequentadora desde a infância, a fotógrafa Heloísa Priedols, de 47 anos, considera que os brinquedos infláveis poluíram o visual, que a cobrança de estacionamento lotou as vagas de ruas do entorno e a entrada paga do museu desestimula o acesso. "É parque público, deveria ser acessível a todos", diz ela, que vê risco de elitização.
O preço da entrada na Cantareira está entre as principais críticas. O valor já havia passado por reajustes recentes. Há oferta de meia entrada para as categorias previstas em lei e gratuidade para vizinhos de baixa renda e grupos escolares. No Horto, o contrato prevê entrada livre. O estacionamento custa de R$ 5 a R$ 9 para motos, e de R$ 8 a R$ 12 para carros.
A auxiliar de saúde bucal Fabiana Reis, de 34 anos, achou a infraestrutura aprimorada. "A conservação está melhor do que antes. Como é a primeira vez que eu venho (desde a concessão), não vi como estão os preços das coisas, mas achei razoável o do estacionamento", opina ela.
Já a médica veterinária Jéssica Souza, de 32 anos, afirma ter visitado o Cantareira em um dia em que os banheiros estavam sem energia e água. Também critica a transformação do espaço na Pedra Grande em café, com a retirada dos itens expositivos.
Ao <b>Estadão</b>, Samuel Lloyd justificou que os serviços pagos e a bilheteria são necessários para manter os espaços e que há a ideia de ampliar parcerias com marcas, como no Ibirapuera. Também ressaltou que a entrada é gratuita no museu para grupos escolares.
Lloyd afirmou que o espaço do café da Cantareira voltará a ter uma parte expositiva em prazo indefinido, em conjunto com a venda de alimentos e bebidas. "A ideia é que também tenha exposições que falem da fauna, flores, da floresta, que trazem o conceito de educação ambiental." Por fim, disse que a trabalha para reduzir casos de falta de luz e água no Cantareira. Como exemplo, cita que a única fonte de abastecimento energético do novo café é o sistema fotovoltaico, que por vezes é insuficiente diante das características do clima local e demanda. "Estamos pensando em alternativas."
<b>PROGRAME-SE</b>
<b>Parque da Cantareira</b>
Ingresso: R$ 30 (na portaria ou pelo urbiaaguasclaras.com.br).
Núcleo Águas Claras: Av. Sen. José Ermírio Moraes, s/nº – Mairiporã. Sábados e domingos, das 8 horas às 17 horas.
Núcleo Engordador: Av. Cel. Sezefredo Fagundes, 19.100, distrito Tremembé – São Paulo. De quarta-feira a domingo, das 8 horas às 17 horas.
Núcleo Pedra Grande: R. do Horto, 1.799, distrito Mandaqui – São Paulo. De quarta-feira a domingo, das 8 horas às 17 horas.
<b>Horto Florestal</b>
Diariamente, das 6 horas às 18 horas, na R. do Horto, 931, distrito Mandaqui.
Museu: de terça-feira a domingo, das 9 horas às 17 horas, com entrada a R$ 15 (com gratuidade nas terças)
Entrada de animais é vetada.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>