Cidades

Hospitais veterinários fechados por Lucas não atenderão mais em Guarulhos, nem por preços populares

Hospital Animal de Guarulhos

Os hospitais públicos veterinários de Guarulhos, fechados pelo prefeito Lucas Sanches na última semana, não realizarão mais atendimentos na cidade, nem mesmo a preços populares, como vinham fazendo desde o rompimento do contrato com a Prefeitura.

Logo após o fechamento da unidade do HAG (Hospital Animal de Guarulhos) na rua Luiz Gama, no Centro, a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV) passou a cobrar R$ 26 pelas consultas, valor que permitia que famílias de baixa renda do município conseguissem atendimento para seus pets.

No entanto, a medida não agradou ao governo Lucas, que enviou equipes de fiscalização ao local para que também fossem interrompidos os atendimentos a preços populares. Segundo relatou Wilson Grassi, médico-veterinário responsável da SPMV, a Prefeitura alegou que faltavam documentos para que o hospital pudesse funcionar. Isso, de acordo com Grassi, não faria sentido, já que, há sete meses, o atendimento gratuito vinha sendo realizado normalmente no local.

“Até ontem a gente podia estar aberto. Hoje, não mais. Os cachorros não sabem quem é o prefeito. Isso é um absurdo”, declarou.

Para não deixar os animais doentes desamparados, médicos-veterinários da SPMV passaram a realizar os atendimentos na calçada, conforme mostrou o GWeb na quinta-feira. Novamente, a ação não agradou ao prefeito, que fez críticas em seu Instagram, em vídeo no qual anuncia o Castramóvel improvisado, visto como uma tentativa de substituir emergencialmente os hospitais implantados na gestão Guti. Segundo ele, a imprensa (tratada, na ocasião, como “jornalzinho”) estaria “tentando sensibilizar as pessoas com mentiras”. Lucas também ironizou os atendimentos emergenciais: “Agora eles querem cobrar pelo serviço, atender na calçada”, disse, em tom de deboche.

Veterinários atendem na calçada da Rua Luiz Gama, em Guarulhos

Veterinários da SPMV realizam atendimentos na calçada da rua Luiz Gama (Veja o vídeo clicando aqui)

Em entrevista ao GWeb nesta segunda-feira (14), Eduardo Ceresetti, um dos responsáveis pelos hospitais da SPMV na região Norte e coordenador dos cursos de pós-graduação da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, confirmou que as operações em Guarulhos foram interrompidas.

Segundo ele, a entidade recebeu ameaças e promessas de perseguição por parte do governo Lucas, caso os atendimentos não fossem encerrados. Ceresetti afirmou ainda que “Guarulhos está na contramão de tudo que é correto” e que não valeria a pena continuar prestando o serviço na cidade.

O veterinário contou que, nesta semana, a SPMV, que já possui 20 operações no Brasil, deve firmar parcerias com duas novas cidades. “Temos um ótimo tratamento e uma ótima relação com as prefeituras”, disse.

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Entenda o caso

Os dois hospitais veterinários públicos de Guarulhos, inaugurados em 2023 durante a gestão do ex-prefeito Guti, deixaram de prestar atendimento gratuito à população após decisão do atual prefeito Lucas Sanches (PL). A mudança começou a valer no dia 10 de julho, quando a unidade do Centro passou a cobrar preços populares, e será concluída no dia 27, com o fim da gratuidade também no hospital do Pimentas.

A medida ocorreu após o rompimento do contrato entre a Prefeitura e a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), que administrava os serviços. No entanto, desde o início do governo Lucas, os repasses para a entidade vinham sofrendo atrasos e cortes, dificultando a manutenção dos atendimentos. Apesar disso, os serviços eram bem avaliados pela população, o que gerou forte repercussão negativa nas redes sociais e na imprensa.

Em resposta à crise, o prefeito anunciou a implantação de novos hospitais veterinários 24 horas, mas sem apresentar local, data ou detalhes do projeto. Enquanto isso, a solução emergencial foi instalar um Castramóvel na Praça Getúlio Vargas, no Centro, anunciado por Lucas em vídeo nas redes sociais. Porém, o veículo ficou no local por apenas algumas horas e desapareceu, pegando os moradores de surpresa.

A Prefeitura, inicialmente, afirmou que o serviço funcionaria em ponto fixo de segunda a sexta-feira, mas, diante das críticas, mudou a versão, dizendo se tratar de um atendimento itinerante. A falta de planejamento e as declarações contraditórias aumentaram o desgaste do governo municipal, que ainda não apresentou alternativas concretas para retomar os serviços gratuitos à população.

Entidades de proteção animal, tutores e cuidadores vêm se mobilizando por meio de protestos, abaixo-assinados e manifestações online, pedindo a reativação dos hospitais até que os novos entrem em funcionamento. Especialistas em licitação afirmam que a criação de novas unidades pode levar ao menos 60 a 90 dias, o que deixaria a cidade sem atendimento gratuito até outubro ou novembro.