Desde Game of Thrones ficou estabelecido que os dragões são formidáveis, mas perigosos. Não à toa, sempre foram comparados por George R.R. Martin, o autor dos livros da série As Crônicas de Gelo e Fogo, a bombas nucleares. O final da primeira temporada de A Casa do Dragão, exibido na noite de ontem na HBO e HBO Max, veio provar mais uma vez que isso é verdade.
*** Atenção para os spoilers do final da primeira temporada de a casa do dragão. Só leia se tiver assistido. ***
Mas não só os dragões bichos são perigosos. Os dragões humanos, os Targaryens, também. Eles são estourados e passionais e acabam agindo de maneira intempestiva. Como aconteceu com Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) em Game of Thrones e, agora, em A Casa do Dragão, com Aemond (Ewan Mitchell), o irmão do rei que usurpou o Trono de Ferro de Rhaenyra (Emma DArcy).
Aemond provoca o sobrinho Lucerys (Elliot Grihault), que lhe arrancou um olho no passado. Faz bullying. Age como um motorista bêbado que decide pegar o volante de seu carro potente. E acaba provocando a morte do garoto, o que certamente vai causar o início da Dança dos Dragões, a guerra fratricida entre os Targaryens. Ele sabe que fez besteira, daí seus gritos apavorados para que seu dragão, Vhagar, não atacasse o dragão de Lucerys. Aemond não era um psicopata, o que torna o personagem bem mais interessante. Mas esse acontecimento vai moldá-lo daqui em diante.
É o mesmo com sua irmã mais velha, Rhaenyra. A morte de um filho é motivo de sobra para a transformação de alguém. E, no espaço de um ou dois dias, ela perde dois: um bebê que tenta vir antes do tempo, depois do estresse de ser informada de que seu pai tinha morrido e seu direito de nascença tinha sido usurpado, e Lucerys.
Rhaenyra é filha de seu pai Viserys (Paddy Considine) e estava tentando evitar uma guerra, especialmente uma guerra com dragões. Sua atitude moderada faz com que haja uma cisão em seu casamento com Daemon (Matt Smith), que quer sangue e tem fogo nas ventas.
Daemon é outro personagem de tons cinzentos da série. Ele pode ser violento e inconsequente, mas protege a família. O último episódio trouxe uma cena que está dando o que falar, na qual ele agarra o pescoço de Rhaenyra. O namorado da internet não faria isso, gritam alguns. Mas Daemon também é e sempre será o segundo filho. Ele perde o controle com sua mulher (e sobrinha) ao saber que seu irmão Viserys nunca o levou em conta de verdade como herdeiro. Tanto que Viserys não contou para ele sobre a profecia que é a verdadeira responsabilidade dos Targaryen: manter-se no Trono de Ferro e juntar as outras casas para combater o mal comum, que virá do Norte.
Mas, com a morte de Lucerys, Rhaenyra sabe que não há alternativa: agora é guerra. E é esse plano decisivo, do rosto de uma mater dolorosa, que encerra a boa primeira temporada de A Casa do Dragão.
Havia dúvidas se os conflitos palacianos e familiares seriam suficientes para segurar uma série. Só que o showrunner Ryan Condall conseguiu entregar um novelão daqueles bem-feitos, muito apoiado em atuações fortes de quase todo o elenco, com personagens bem desenvolvidos. Por vezes, A Casa do Dragão apostou no choque pelo choque. Mas talvez isso diga mais sobre nós, espectadores, do que sobre os criadores e roteiristas. Pois todo o mundo espera cenas de cair o queixo no universo Game of Thrones. A segunda temporada promete mais cenas de ação, sem deixar as intrigas de lado. O duro vai ser esperar até 2024.