As duas últimas semanas de dezembro, entre os festejos de Natal e Ano-Novo, são marcadas por uma intensa queda na procura por emprego, e 2015 não foi diferente, notou a técnica Adriana Beringuy, da Coordenação de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso pode ter ajudado na queda da taxa de desemprego, de 7,5% em novembro para 6,9% em dezembro, apontou.
“Quem tenta o trabalho temporário se insere até o início de dezembro. Nas duas últimas semanas, há uma queda acentuada na procura, que gera redução na população desocupada”, observou Adriana. “Então, o crescimento da inatividade pode ter contribuído para que essa taxa (de desemprego em dezembro) não fosse mais alta.”
Segundo o IBGE, o número de inativos (que não trabalham nem buscam emprego) cresceu 1,0% na passagem do mês, com 203 mil pessoas a mais nesta condição. Já o contingente de desocupados diminuiu 7,6% no período, com 142 mil pessoas a menos na fila por uma vaga.
A população ocupada, por sua vez, avançou apenas 0,3% em dezembro ante novembro, uma estabilidade segundo o órgão. A pesquisa aponta que 58 mil vagas foram abertas no período.
“Já a comparação dezembro de 2014 mantém os mesmos movimentos vistos ao longo de 2015: queda acentuada na ocupação e, por outro lado, a desocupação crescendo num porcentual bastante elevado”, afirmou Adriana.
Comércio
A contratação de temporários para trabalhar no Comércio na época do Natal foi mais tímida em 2015, sem render grandes frutos ao setor ou àqueles que contavam com um bico para melhorar sua situação. A atividade abriu 96 mil vagas entre novembro em dezembro, alta de 2,2% na população ocupada ante novembro, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego.
“Nem mesmo o comércio, que tem essa prática de fim de ano de contratar temporários, apresentou expansão importante na população ocupada no fim de 2015”, afirmou Adriana. “A variação foi muito discreta em relação ao que era visto em anos anteriores”, destacou.
Prova de que o Natal foi menos favorável ao comércio em 2015, o setor cortou 112 mil vagas em dezembro na comparação com igual mês de 2014, um recuo de 2,5% nesta base comparativa.
Cenário de cortes
A queda no contingente de pessoas empregadas em 2015 foi provocada por um processo de dispensas que se estendeu a todas as atividades, à exceção dos serviços domésticos, destacou Adriana. Ao todo, a população ocupada encolheu 1,6% ante 2014, com extinção de 369 mil vagas.
Só a indústria foi responsável por 201 mil demissões no ano passado, com redução de 5,5% no número de trabalhadores em relação a 2014, apontou o IBGE. Com isso, a atividade inclusive perdeu participação na população ocupada das seis regiões metropolitanas do País, que passou de 15,5% em 2014 para 14,9% no ano passado.
“Houve processo de dispensas em setores importantes, como indústria, construção e alguns serviços”, disse Adriana. Na construção, foram 64 mil dispensados, enquanto nos outros serviços houve demissão de 43 mil.
Na contramão, os serviços domésticos cresceram 1,5% em 2015 ante 2014, com 22 mil vagas a mais. “O que pode estar associado ao aumento do trabalho doméstico é esse processo de dispensas no comércio e nos serviços. As pessoas que antes estavam nesses setores, ao perderem o emprego, podem estar retornando ou recorrendo ao emprego doméstico”, explicou Adriana.
Com a alta de 2015, o emprego doméstico interrompeu o processo de queda iniciado em 2010.
Renda real
A primeira retração no rendimento médio real dos brasileiros após uma década de avanços foi provocada pelo baixo poder de barganha dos trabalhadores em pleitear reajustes maiores e pelo avanço da inflação, explicou Adriana Beringuy. Em 2015, a renda média encolheu 3,7% ante o ano anterior.
“Em alguns meses de 2015 houve, inclusive, queda no rendimento nominal. Além disso, houve um indicador bastante elevado para a inflação, o que contribuiu para a queda”, destacou a pesquisadora. No ano passado, os salários nominais (ou seja, o valor bruto, sem descontar a inflação), cresceu 5,5% ante 2014, bem abaixo do aumento médio de preços, que atingiu 10,67% em 2015.
“Além disso, as pessoas que perderam o emprego foram principalmente da indústria, atividade que tem salários maiores. Isso impacta tanto o rendimento quanto o vínculo (carteira assinada, que também caiu)”, acrescentou Adriana.