Emissários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) procuraram o empresário e apresentador Luciano Huck, consultando sobre seu voto no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto, mas ele cobra uma "âncora programática" e tem criticado, no seu grupo de estudos sobre o Brasil, a falta de propostas, de clareza e de sinalização sobre a equipe de um eventual governo. Nas reuniões, Huck deixa claro que tende para o petista, mas se diz contra "um movimento de adesão de graça, no escuro".
De acordo com seus interlocutores, Huck considerou que o apoio da ex-candidata do MDB à Presidência da República, Simone Tebet, foi o mais importante e objetivo para a campanha de Lula, mas ele discorda da forma. Acha que o petista perdeu uma ótima chance de mostrar o tipo de políticos que quer para compor um eventual novo governo.
Bastaria convidar Tebet para o Ministério da Agricultura, por exemplo. Mesmo que a senadora dissesse não, como previsto, estaria dada uma sinalização importante de que Lula não pretende, se eleito, promover uma guinada à esquerda no campo.
Terceira colocada na primeira fase da corrida presidencial, Simone Tebet anunciou voto no petista, mas criticou a campanha pelo voto útil do primeiro turno sem a apresentação de um programa de governo ao País e, neste segundo turno, levou propostas ao PT, além de exigir respeito à responsabilidade fiscal.
Huck testou possibilidades, contratou pesquisas e reuniu esse grupo multidisciplinar para avaliar suas condições de disputar a Presidência e chegou a participar de debates com presidenciáveis, mas concluiu que não era hora e optou por continuar como apresentador da TV Globo. Até por isso, precisa apurar se há restrições contratuais para anunciar um apoio público.
De toda forma, Huck é um crítico do presidente Jair Bolsonaro (PL) – candidato à reeleição -, engrossa o coro da defesa das eleições, da urna eletrônica, da Constituição e da democracia. Se anunciar apoio a um dos dois candidatos, em algum momento, será a favor de Lula.
COMPROMISSOS. O apresentador e seu grupo de estudos, porém, ainda aguardam posições mais claras de Lula, por exemplo, sobre a economia, e acham que o apoio de economistas identificados com os tucanos, como Pedro Malan, Persio Arida, Edmar Bacha e Armínio Fraga, tem sido um "apoio ocioso", mais contra Bolsonaro do que pró-Lula e sem exigir compromissos claros com a responsabilidade fiscal e os avanços liberais.
"Falta coordenação", diagnosticou Huck numa das reuniões, conforme relatos. Disse também que o ex-presidente precisa mirar mais diretamente alguns segmentos inseguros do eleitorado.
TEMAS. Segundo ele, o petista deveria anular as fake news bolsonaristas na área religiosa, deixando claro suas posições quanto a temas espinhosos, além de especificar se vai ou não recriar o imposto sindical e como vai tratar o Movimento dos Sem Terra (MST) e dar segurança jurídica ao agronegócio e aos setores produtivo e financeiro.
Assim, as conversas entre ele e a equipe de campanha de Lula continuam, porque Huck tem um público muito numeroso e ramificado pelo País inteiro, principalmente no eleitorado mais numeroso, como mulheres e os de renda baixa e média. Um apoio público tende, ou tenderia, a ter impacto.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>