A Associação Internacional de Federações de Atletismo (a IAAF, na sigla em inglês) voltou a ser alvo de denúncias do canal de televisão ARD e do jornal The Sunday Times neste fim de semana. Desta vez, o periódico britânico e o canal alemão denunciaram um suposto veto da entidade a um estudo que revelava casos de doping no atletismo. A IAAF rejeitou a denúncia e negou o veto.
Realizado em 2011, durante o Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, o estudo apontaria que um terço dos atletas que competem em alto nível ao redor do globo admitem que utilizaram métodos ilegais para incrementar suas performances. Para realizar a pesquisa, os autores entrevistaram cerca de 1.800 atletas.
Para o jornal britânico, os pesquisadores revelaram que assinaram um acordo de confidencialidade um mês depois da realização do estudo para não divulgar as informações coletadas. As novas revelações aumentam a pressão sobre a IAAF, às vésperas do Mundial de Atletismo, que terá início no dia 22, em Pequim.
No início do mês, o jornal e o canal de TV revelaram ter tido acesso ao resultado de 12 mil testes de sangue de 5 mil atletas ao longo de uma década. As informações foram tiradas do banco de dados da própria IAAF e vazadas por uma fonte não identificada.
Os documentos levantam suspeitas sobre um terço das medalhas conquistadas em provas de resistência em Mundiais e Jogos Olímpicos disputados em uma década. De acordo com a análise, 800 atletas, competindo dos 800 metros à maratona, registraram testes de sangue com resultados suspeitos ou abaixo dos padrões da Agência Mundial Antidoping (Wada).
O documentário “Doping Ultrassecreto: O Sombrio Mundo do Atletismo”, do canal ARD, mostra ainda que 146 medalhas de Mundiais e Jogos Olímpicos, sendo 55 de ouro, foram conquistadas por atletas que apresentaram estes resultados suspeitos nos testes. Nenhum deles perdeu as medalhas em eventuais provas antidoping.
As revelações mobilizaram atletas, entidades e até a Agência Mundial Antidoping, que saiu em defesa dos esportistas e iniciou uma investigação independente sobre o caso. Pressionada, a IAAF revelou na semana passada que refez, nos últimos meses, com tecnologia mais avançada, a análise de amostras colhidas durante os Mundiais de Atletismo de 2005 a 2007. Nelas, encontrou mais 32 casos positivos. A IAAF, entretanto, não explicou por que só anunciou o resultado desta reanálise após as denúncias e porque ela só contempla os Mundiais de Helsinque e Osaka.
Neste domingo, após a publicação das novas denúncias, a entidade negou que tenha vetado a publicação do estudo. E explicou que os resultados não foram divulgados porque a pesquisa utiliza metodologia das ciências sociais, conduzida pela Wada e um grupo de pesquisados na vila dos atletas no Mundial de 2011.
De acordo com a entidade, o estudo não foi publicado porque não foi aprovado por revistas especializadas. Por fim, a IAAF questionou as interpretações dos pesquisadores quanto aos dados obtidos no estudo. “A IAAF verbalizou estas preocupações diretamente ao grupo de pesquisa, mas nunca recebeu uma resposta sobre estes questionamentos.”