Economia

IBGE: setores atrelados ao câmbio influenciam alta no IPP de março

A desvalorização do real ante o dólar é um dos principais fatores por trás da alta de 1,93% no Índice de Preços ao Produtor (IPP) de março ante fevereiro, um recorde na série do indicador apurado desde janeiro de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Setores muito atrelados ao câmbio estão aparecendo como as principais influências”, afirmou Alexandre Brandão, gerente do IPP. Segundo ele, a desvalorização do real foi de 11,5% em março ante fevereiro.

O IBGE anunciou nesta manhã que o IPP registrou alta de 1,93% em março, ante 0,26% em fevereiro. O indicador acumula altas de 2,22% no ano e de 4,94% em 12 meses até março. O IPP mede a evolução dos preços de produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e fretes, de 23 setores da indústria de transformação.

Entre os setores afetados pelo dólar mais caro estão outros equipamentos de transporte (7,86%), com destaque para aviões, negociados em moeda americana no mercado internacional. Também sofrem influência papel e celulose (4,91%), fumo (5,58%), outros produtos químicos (5,56%) e metalurgia (2,55%).

Outro fator de peso sobre os preços na indústria de transformação é o aumento da energia elétrica. “Também tem um fator de custo que é a energia elétrica, que afeta vários setores. Alguns são mais (influenciados), como química, metalurgia, que são bastante intensivos no uso de energia elétrica”, explicou Brandão.

Nas atividades de maior peso no IPP, o refino de petróleo e produção de álcool foi o único a apresentar queda de preços em março (-0,66%). Segundo o IBGE, além do recuo nas cotações da commodity no mercado internacional, estoques altos no caso do álcool também influenciaram o resultado.

Carne

Os alimentos ficaram 1,77% mais caros na indústria de transformação em março ante fevereiro, mas o resultado poderia ter sido maior sem uma ajuda “surpreendente”. Mesmo com a desvalorização do real ante o dólar, que afeta diretamente bens de exportação, as carnes bovinas registraram queda de preços no âmbito do IPP. Relatos de que a demanda externa diminuiu no período explicam o dado.

“É um pouco surpreendente essa queda (nos preços de carnes), mas esteve atrelada, segundo os informantes, a uma demanda externa mais fraca. Isso significa que a demanda externa por carne brasileira, a despeito do dólar mais valorizado, caiu”, afirmou Brandão. “Às vezes tem uma questão sanitária, mas não parece ter sido isso. Desta vez, parece que é o mercado que realmente não está demandando, e nossos informantes relataram isso”, acrescentou.

Mesmo assim, a desvalorização do real em 11,5% ante o dólar no mês de março atingiu os preços da soja e de seus derivados. Uma demanda mais aquecida por esses produtos potencializou o movimento. Além disso, o leite também ficou mais caro, diante do período de entressafra. Ao todo, os alimentos contribuíram com 0,35 ponto porcentual na alta do IPP de março.

Maiores aumentos

Segundo IBGE, setores da indústria de transformação afetados pelo câmbio acumulam aumentos de preços que chegam a dois dígitos apenas nos três primeiros meses de 2015. Enquanto o IPP subiu 2,22% em média no período, a atividade de outros equipamentos de transporte (que inclui aviões, cotados em dólar) acumula avanço de 14,14% no primeiro trimestre deste ano.

Taxas significativas também são observadas em fumo (13,62%), papel de celulose (8,85%), madeira (7,82%), calçados e artigos de couro (7,01%) e metalurgia (3,91%). Todos esses setores são impactados pelo câmbio, que avançou 18,9% entre dezembro de 2014 e março deste ano, mencionou Brandão. “O câmbio teve desvalorização bastante grande nesse período, e nada mais razoável que os setores mais atrelados exibissem os maiores aumentos nessa perspectiva”, disse.

Em 12 meses, o quadro persiste diante da desvalorização de aproximadamente 35% do real ante o dólar, segundo o IBGE. Enquanto o IPP subiu em média 4,94%, os outros equipamentos de transporte avançaram 24,77%. Outras taxas consideráveis são de fumo (22,66%), papel e celulose (16,13%), calçados e artigos de couro (14,80%), madeira (13,06%) e metalurgia (9,19%).

A atividade de outros produtos químicos, embora tenha figurado como destaque de alta em março (5,56%) devido ao câmbio e ao preço da energia elétrica, ainda mantém preços comportados em um período mais longo graças a recuos em meses anteriores. Com isso, a categoria acumula alta de 0,45% no primeiro trimestre de 2015 e queda de 1,07% em 12 meses até março. “Apesar do aumento recente, outros produtos químicos ainda não suplantaram o nível de preços que havia no ano passado”, afirmou Brandão.

Projeção

De acordo com Brandão, após sucessivas valorizações do dólar neste início de ano, o recente arrefecimento na cotação da moeda americana ante o real pode levar a uma trégua nos preços. “Há espaço para a recente queda do dólar ante o real aparecer no IPP de abril”, disse.

Para abril, um efeito do arrefecimento do câmbio é esperado, embora ainda não seja possível mensurar a influência em números. “É de se esperar que os preços dos produtos caiam. Agora, não é só isso, pode ser que coincidam outros aumentos contratuais”, ponderou Brandão.

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