Estadão

Ibovespa acompanha piora em Nova York e cai 1,38%, aos 105 mil pontos

Em sessão negativa em Nova York, na véspera da divulgação do relatório oficial sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos (payroll), o Ibovespa devolveu parte da alta de 2,22% vista ontem, quando retomou o nível de 106,5 mil pontos em fechamento, no que foi seu maior ganho porcentual desde novembro. Hoje, oscilou entre mínima de 105.053,24 (-1,40%), bem perto do ajuste final, e máxima de 106.723,99, saindo de abertura a 106.539,92 pontos. Ao fim, mostrava baixa de 1,38%, a 105.071,19 pontos, com perda um pouco menor do que a vista em Nova York (Dow Jones -1,66%, S&P 500 -1,85%, Nasdaq -2,05%) e giro de R$ 32,2 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 1,16%, com leve ganho de 0,13% no mês – no ano, cai 4,25%.

Sem prover detalhes sobre a proposta, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse hoje, após almoço com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em que trataram do arcabouço fiscal, que o formato está alinhado à responsabilidade fiscal e que agora é "questão de colocar os números no papel". "Do lado orçamentário-fiscal, saímos muito satisfeitos", resumiu Tebet. "O mais importante: o arcabouço vai agradar a todos", disse a ministra, referindo-se também ao mercado financeiro.

"Há muita gente no governo falando sobre o arcabouço e a atitude do mercado tem sido a de esperar para ver. Está fácil vender Bolsa, mas difícil comprar mesmo com empresas muito descontadas, algumas precificadas a patamares de 2008. Com renda fixa oferecendo 14% ao ano, fica difícil convencer o investidor a tomar risco quando os juros se mantêm tão atrativos", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, acrescentando que, mesmo nos dias com alguma recuperação de volume, como hoje, a Bolsa tem se mantido de lado, sem conseguir progredir. "Hoje, basicamente devolveu parte do ganho de ontem, quando tinha sido muito favorecida pela queda dos DIs."

Na B3, Azul (+18,95%) e CVC (+9,74%) seguiram na ponta do Ibovespa nesta quinta-feira, ao lado de Dexco (+8,80%), após balanço, e de Gol (+9,15%). Pouco atrás entre as maiores vencedoras do dia, destaque na sessão para alta de 7,52% em Locaweb e de 6,38% em MRV, outra empresa a divulgar resultados trimestrais na noite anterior. No lado oposto do Ibovespa, forte correção em Hapvida (-33,56%), após a empresa ter divulgado na noite de ontem nota com esclarecimentos ao mercado sobre alternativas para fortalecer a estrutura financeira, com possibilidade de aumento de capital por meio de emissão de ações.

Do lado negativo do Ibovespa na sessão, destaque também para CSN (-8,06%), com resultados trimestrais considerados mistos, observa Luiz Adriano Martinez, gestor de renda variável e sócio da Kilima Asset. "Os fatores micro se sobrepuseram aos macro, num dia sem grandes novidades", acrescenta. Na sessão, ajustes negativos também para 3R Petroleum (-6,09%) e Petz (-7,09%). Entre as blue chips, Petrobras (ON -1,24%, PN -0,43%) ao fim não conseguiu evitar perdas, em dia de retração superior a 1% para o petróleo. Vale ON fechou o dia em baixa de 1,31% e, entre os grandes bancos, as perdas no fechamento da sessão chegaram a 2,17% (BB ON, mínima do dia no encerramento, assim como Unit do Santander Brasil, -1,35%).

"O ambiente nos mercados segue caracterizado por maior aversão ao risco, com investidores avaliando as chances de juro maior e, eventualmente, recessão nos Estados Unidos", aponta em nota a Guide Investimentos. "O BC americano segue muito dependente dos dados que estão para sair antes da próxima decisão, no dia 22. Após os últimos números de emprego e inflação terem superado estimativas, o relatório oficial de fevereiro (payroll), amanhã, e os dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) referentes ao mesmo mês, no início da semana que vem (dias 14 e 15, respectivamente), serão chave para calibrar as apostas do mercado no próximo movimento do Fed", acrescenta a casa.

Em Nova York, a aversão a risco piorou à tarde "após o Credit Suisse anunciar um atraso na publicação do relatório anual referente a 2022, por conta de um pedido dos reguladores do mercado de ações dos Estados Unidos por mais informações sobre demonstrações dos anos de 2019 e 2020 do banco", diz Lucas Martins, especialista em renda variável da Blue3.

Na agenda de dados domésticos, o Caged registrou a criação de 83,3 mil empregos com carteira assinada em janeiro, na série com ajustes, "uma retomada dos empregos formais após mais de 440 mil demissões em dezembro", observa o economista Rafael Perez, da Suno Research.

"No acumulado dos últimos 12 meses, houve a criação de quase 2 milhões de vagas. E quatro dos cinco grandes grupos de atividade econômica tiveram expansão no número de contratações, influenciada principalmente pelos setores de serviços, construção e indústria", acrescenta o economista, ressalvando que "apesar do dado positivo, nota-se uma desaceleração do mercado de trabalho, por conta do ciclo de alta dos juros e da perda de tração da economia brasileira nos últimos meses".

"O resultado do Caged de janeiro conta uma história parecida com a dos números da Pnad: apesar de um headline positivo, o mercado de trabalho está em franco desaquecimento. A criação de vagas já não alcança todos os setores e sequencialmente o saldo é cada vez mais baixo", aponta em nota a Terra Investimentos, que projeta, para a leitura de fevereiro, abertura de 333 mil vagas.

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