Estadão

Ibovespa acumula perda de 2,56% na semana, sem acompanhar Nova York

Pela terceira semana consecutiva, o Ibovespa acumulou perdas e, desta vez a maior da série, a 2,56% no intervalo mais recente. Uma sequência negativa como a atual não era vista desde a passagem de julho para agosto do ano passado, quando o índice da B3 encadeou quatro retrações semanais, que o fizeram descer dos 120,2 mil para os 115,4 mil pontos. Na correção em curso, que coincidiu com a virada para 2024, o Ibovespa saiu de nível recorde, a 134,1 mil pontos, e chega agora a 127,6 mil, em ajuste de cerca de 6,5 mil pontos.

Nesta sexta, 19, parecia até o meio da tarde que o índice fecharia também em baixa pelo quarto dia, mas a acentuação de ganhos em Nova York acabou sendo acompanhada, ainda que ao longe, pelo Ibovespa, que virou e fechou em leve alta de 0,25%, a 127.635,65 pontos, entre mínima de 126.533,00 e máxima de 127.820,13 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 127.319,31. O giro nesta sexta-feira de vencimento de opções sobre ações subiu para R$ 27,6 bilhões. No ano, o Ibovespa cai 4,88%.

Como nesta quinta, 18, o índice da B3 não conseguiu se alinhar à boa retomada vista em Nova York, que colocou os três principais índices de ações por lá em alta na semana, de 0,72% (Dow Jones), 1,17% (S&P 500) e 2,26% (Nasdaq). Nesta sexta-feira, tais índices subiram, respectivamente, 1,05%, 1,23% e 1,70%, renovando picos da sessão ao longo da tarde, o que contribuiu para moderar e ao fim zerar as perdas do Ibovespa, deixando-o na marca dos 127 mil como no fechamento anterior.

"O índice mostrou volatilidade hoje, desde cedo, e à tarde conseguiu em certo momento se conectar a Nova York, onde houve renovação de máximas históricas. Nos Estados Unidos, além do bom momento das ações de tecnologia, o dado de confiança divulgado hoje, acima do esperado, contribuiu para a tese do pouso suave de que a economia americana se acomodou sem solavancos à elevação dos custos de crédito, sem mergulhar em recessão", diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

O índice de sentimento do consumidor nos Estados Unidos, da Universidade de Michigan, avançou de 69,6 em dezembro para 78,8 na leitura preliminar de janeiro, conforme divulgado pela instituição nesta sexta-feira. Analistas ouvidos pela FactSet previam 69,5 para a prévia de janeiro.

O ânimo visto nos EUA, contudo, não tem se espelhado no desempenho do Ibovespa neste início de ano. Carro-chefe da B3, as ações de commodities, como Vale (ON -1,30%) e Petrobras (ON -0,08%, PN -0,53%), voltaram a ser penalizadas pela correção em andamento na Bolsa brasileira, assim como parte das ações de grandes bancos – exceção para BB (ON +1,05%), Itaú (PN +0,24%) e Santander (Unit +1,00%) nesta sexta-feira. Na ponta perdedora, Locaweb (-2,04%), RaiaDrogasil (-1,82%) e SLC Agrícola (-1,46%). No lado oposto, Gol (+6,02%), BRF (+4,75%) e Azul (+3,88%).

Analistas consideram que o descolamento visto nas últimas sessões sugere retirada de recursos da B3 por estrangeiros, em reposicionamento ante a quebra da aposta, predominante ao longo de dezembro, de que haveria espaço para o Federal Reserve antecipar para março o momento de corte de juros nos Estados Unidos. Assim, mesmo com os juros dos Treasuries mostrando ainda realinhamento nesta semana, para cima, os principais índices de ações em Nova York também obtiveram avanço – com o índice amplo, o S&P 500, trazendo nova máxima histórica intradia e de fechamento nesta sexta-feira, assim como o índice mais restrito, Dow Jones.

Enquanto os investidores voltam a concentrar apostas em ações americanas – em momento no qual a atividade econômica dos EUA continua a mostrar resiliência, postergando as apostas quanto ao timing da redução de juros por lá -, o Ibovespa vai em sentido oposto neste início de ano, dragado pela perspectiva ainda fraca para a economia chinesa em meio à crise no setor imobiliário, que traz efeito para a demanda por commodities, como minério especialmente, a que a B3 tem exposição. Como corolário, a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, que corresponde a 14,1% do índice, acumula nessas 14 primeiras sessões de 2024 perda de quase 12%.

Dessa forma, no ano, enquanto o Ibovespa perde quase 5%, os ganhos em Nova York, apesar da recente retomada dos rendimentos dos Treasuries, chegam a 1,47% (S&P 500) e 2,00% (Nasdaq) no intervalo. "As empresas de chips listadas nos Estados Unidos têm reportado bons resultados e perspectiva favorável, o que contribui para esse fortalecimento em Nova York. Trouxe ânimo extra para os investidores", diz Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, mencionando o contraponto à recente decepção sobre a trajetória dos juros, de que cairiam mais "rápido e fundo".

Por outro lado, além da volatilidade nos preços do minério, que afeta diretamente a performance da ação de maior peso no Ibovespa, Ferrer observa que desdobramentos recentes – como a retomada de investimentos que se mostraram custosos no passado, na Refinaria Abreu e Lima – trazem um pouco de "escuridão" a outros ativos fundamentais na B3: Petrobras PN, que corresponde a quase 7,5% do Ibovespa, e Petrobras ON, com cerca de 4,1%. No ano, Petrobras ON cai 0,08% e a PN sobe 0,78%.

Nesse contexto, o Termômetro Broadcast Bolsa desta semana mostra um mercado indeciso em relação à direção do Ibovespa nos próximos dias. Embora os participantes tenham ficado menos pessimistas – com o porcentual dos que esperam queda do índice diminuindo para 33,33%, de 66,67% na semana passada, os demais cenários, de estabilidade e de alta do índice, também contam com 33,33% de probabilidade, ante 16,67% cada, na leitura anterior.

Posso ajudar?