O Ibovespa começa a quarta-feira (5) em queda, renovando mínimas e já testando os 102 mil pontos, acompanhando o recuo dos índices futuros de Nova York. Investidores mundo afora esperam a divulgação, às 16h, da ata do Fed. "O mercado já está trabalhando com alta de juros iniciando em março, e isso está precificado. A questão é saber se serão dois ou três aumentos", avalia Cássio Bambirra, sócio da One Investimentos.
"O documento pode dar pistas sobre quando o Banco Central planeja começar a aumentar as taxas de juros no País. A expectativa atual é que sejam realizados três aumentos nesse ano de 2022", escreve em nota Antônio Sanches, especialista em investimentos da Rico.
Além da preocupação em relação a como ficará a política monetária americana, Bambirra cita outros fatores que deixam o investidor na defensiva, como questões geopolíticas (Rússia/Ucrânia), crescimento da reprovação do presidente dos EUA, Joe Biden, avanço da variante Ômicron de coronavírus no mundo e de casos de covid-19 no Brasil, além de temores relacionados a pedidos de outras categorias de aumento salarial do funcionalismo público, bem como a questão eleitoral.
Nem mesmo a alta das commodities – leia-se petróleo e minério de ferro – impede o Ibovespa de cair às mínimas. Depois de ficar na faixa dos 103 mil pontos nos dois últimos fechamentos, hoje vai além e testa os 102 mil pontos, em meio a fatores externos e a internos, especialmente na seara fiscal. Diante dessas preocupações e de olho no cenário eleitoral, os juros futuros sobem, enquanto o dólar cede moderadamente, após altas recentes.
Enquanto investidores esperam a divulgação da ata do Fed, à tarde, avaliam dados do mercado de trabalho dos EUA informados há pouco. O setor privado do país criou 807 mil empregos em dezembro, segundo pesquisa ADP, superando as expectativas.
Internamente, o destaque é a alta do presidente Jair Bolsonaro do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde estava internado desde a madrugada de segunda-feira, devido a obstrução intestinal. Em entrevista coletiva à imprensa, o médico-cirurgião Antônio Luiz Macedo, responsável pelo tratamento do mandatário, disse que o chefe do Executivo está "curado" e pronto para o trabalho. Já Bolsonaro afirmou que "volto à minha normalidade agora, trabalhar 100%."
Ao abordar assunto que tem gerado polêmica por beneficiar alguns setores em detrimento de outros e ainda elevar dúvidas sobre arrecadação, o presidente ainda comentou sobre a desoneração da folha de pagamentos a 17 setores da economia. "Assinar desoneração da folha não é fácil, tem implicações jurídicas", afirmou. Após a entrevista, a comitiva de Bolsonaro deixou o hospital e seguiu para aeroporto em São Paulo.
Nem mesmo a valorização do petróleo no exterior ajuda a limitar a queda do Ibovespa, com as ações da Petrobras cedendo entre 0,17% (PN) e 0,28% (ON), às 10h45. Já Vale ON subia, porém reduzia o ritmo de alta a 0,32%, após elevação do minério de ferro na China. A commodity metálica fechou com alta de 1,44%, no porto chinês de Qingdao, a US$ 124,89 a tonelada.
Apesar do recuo, o grande driver será a ata do Fed, conforme os analistas. O Ibovespa tem demonstrado instabilidade neste começo de ano. Na segunda e na terça, tentou subir, mas fechou as duas sessões em queda de 0,86% (103.921,59 pontos) e de 0,39% (103.513,64 pontos), respectivamente.
Na avaliação de Raphael Figueiredo, da Eleven Financial, os três primeiros meses do ano serão complicados para que o índice Bovespa encontre um norte. "Os meses serão difíceis para encontrar um preço. Ora vai subir, ora cair, ficar mais agitado, engasgado", cita em análise matinal a clientes.
O analista explica que essa dificuldade deve-se a alguns "drivers", como a eleição deste ano, além do exterior, sobre como ficará a política monetária americana. Entre as dúvidas internas eleitorais, menciona aquelas sobre como será a chapa do PT e como serão as estratégias sobretudo em relação à formação da equipe econômica. "Outro driver é o internacional. A ata Fed pode dar um pouco mais de ritmo", diz.
Às 10h47 desta quarta, o Ibovespa cedia 0,80%, aos 102.690,03 pontos, após mínima diária aos 102.440,11 pontos (-1,04%) e máxima aos 103.513,64 pontos, marca também da abertura. O dólar à vista tinha queda de 0,33%, a R$ 5,6703.