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Ibovespa: Americanas pesa e bolsa cai 0,59%, a 111,8 mil pontos, após seis ganhos

O derretimento das ações de Americanas (-77,33%) – as quais passaram a sessão essencialmente em leilão, com pouca liquidez – lançou a princípio uma onda de choque secundário sobre outras varejistas e também sobre os bancos – neste caso, pela exposição via concessão de crédito, que não se conhece individualmente -, mas o Ibovespa conseguiu conter danos desde o começo da tarde, embora não o suficiente para evitar o viés de baixa no fechamento (-0,59%), aos 111.850,22 pontos, tendo chegado a retomar, pontualmente, o nível de 113 mil nas máximas desta quinta-feira, 12 – quando parecia a caminho do sétimo ganho seguido.

A descoberta e divulgação, na noite anterior, de inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões por Sergio Rial, que deixou assim a função de CEO da Americanas poucos dias depois de assumi-la, afetou as ações não apenas do varejo e de bancos, mas também de companhias ligadas à 3G Capital, como Ambev (-1,33%). Entre as ações de bancos mais negociadas na sessão, destaque para perda de 1,40% em Itaú PN; de 2,34% em Bradesco PN; e de 3,95% em BTG.

Entre as de varejo, Via cedeu 5,38% nesta quinta-feira, com os investidores atentos à alavancagem da empresa, mas outros nomes do segmento conseguiram mudar de sinal e encerrar o dia em alta, como Magazine Luiza (+5,28%), na ponta do Ibovespa, e Renner (+2,02%), quinto maior ganho da carteira do índice, na sessão.

O giro financeiro do Ibovespa foi de R$ 32,6 bilhões nesta quinta-feira, em que o índice oscilou entre mínima de 110.981,59 e máxima de 113.128,80, maior nível intradia desde 2 de dezembro (113.760,75), saindo de abertura aos 112.516,40 pontos. Na semana, a referência da B3 sustenta ganho de 2,65% e, em 2023, de 1,93%.

Hoje, o agora ex-CEO Rial afirmou esperar conseguir um acordo de standstill com os bancos credores da varejista, mecanismo que permite a suspensão das cobranças das dívidas. Enquanto ganha tempo para pagá-las, o executivo afirmou que a empresa pode discutir um plano para se recapitalizar, e o grupo certamente não vai precisar de milhões de reais, mas sim de bilhões.

A Americanas vai conseguir uma extensão de prazo junto aos bancos para rolar dívidas, mas não sairá ilesa do processo. Pelo porte de seus negócios e das linhas de crédito que possui, a varejista deve conseguir suspender prazos, mas as instituições podem endurecer as condições. Reuniões já aconteceram entre a administração e os principais credores e a sinalização dos bancos foi positiva, reportam Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior, do Broadcast, indicação que contribuiu para a descompressão dos ativos do setor ao longo desta tarde.

No fechamento, o índice de consumo (ICON) ainda mostrava perda de 2,42%, mas o desempenho favorável dos materiais básicos (IMAT +0,62%), embora um pouco enfraquecido em direção ao fechamento, foi contraponto à pressão negativa vista também no setor financeiro na sessão. Vale ON subiu hoje 0,53% e Petrobras avançou 0,54% (ON) e 1,44% (PN).

"Por regulamento, os grandes fundos acabam saindo logo do papel, vendendo o que tem a qualquer preço. Mas quem pode segurar, espera um momento melhor para decidir o que fazer. Não se sabe ainda ao certo o que aconteceu. Então, num primeiro momento, se procura olhar para as empresas do setor e as expostas à situação, buscando diferenciá-las – entender, por exemplo, quem faz a auditoria delas, ver se nomes de empresas se repetem ou não", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, observando também que, como as ações permaneceram em leilão ao longo de boa parte da sessão, a liquidez do papel foi reduzida.

A empresa responsável pela auditoria independente da Americanas foi a PwC que, procurada pelo Broadcast, não quis se manifestar, reporta Juliana Garçon, da sucursal da Agência Estado no Rio.

No cenário mais amplo, "o mercado aguardava as medidas fiscais do ministro da Fazenda, Fernando Haddad", diz Rafael Azevedo, especialista em renda variável da Blue3. Mas, ao serem anunciadas nesta tarde, foram recebidas a princípio como um não evento, sem fazer preço nos ativos, tampouco permitindo que o Ibovespa mudasse de sinal, já negativo – aliás, trajetória moderadamente aguçada após os anúncios, mesmo com a promessa de superávit primário de R$ 11 bilhões para o ano.

"O fato mais relevante na Bolsa foi realmente a surpresa relacionada à inconsistência contábil na Americanas. O conselho da empresa criou um comitê independente para apurar a situação. Ainda não é possível determinar todos os impactos dessa inconsistência, como reconhece a própria empresa", acrescenta o analista, referindo-se também ao efeito sobre a alavancagem da companhia.

"A inconsistência foi muito grande, muito robusta, o que pode resultar em patrimônio líquido negativo, passivo a descoberto, no momento em que, com a ação em mínimas históricas, precisaria ir a mercado para fazer um follow on , em situação desfavorável não apenas para a empresa, mas ruim também para a captação de recursos em geral", diz José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.

"Esse eventual follow on , a captação a mercado, faz lembrar a situação do IRB. Uma diluição muito grande nas ações, na eventualidade de follow on , o que explica também a forte queda de hoje, além das inconsistências propriamente", acrescenta.

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