O Ibovespa aprofundou a queda, renovando mínimas a 110 mil pontos, logo após a divulgação do relatório de trabalho americano (10h30, de Brasília). Houve criação de 467 mil empregos em janeiro, ante previsão de 150 mil. O salário médio por hora subiu 0,73% no mês passando ante dezembro (projeção de alta de 0,50%). Já a taxa de desemprego avançou a 4% em janeiro, ante expectativa de 3,9%.
Os dados reforçam a aceleração do mercado de trabalho dos EUA, colocando ainda mais pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que tende a subir juros em março, e pode elevar a dose e a velocidade dos aumentos.
"Pressionou o Fed esse resultado, principalmente o custo médio por hora trabalhada", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
"Os indicadores vieram bem além, pressionando mais a expectativa do mercado quanto ao próximo encontro do Fed março", analisa Eduardo Teles, especialista em renda variável da Blue3, emendando: "Como veio forte, acima do esperado, mostra aquecimento da economia dos EUA, com desenvolvimento econômicos. Com isso, é mais consumo, mais salários, o que acaba por voltar àquela máxima: será que os dados de inflação terão um arrefecimento?", questiona.
O nível de emprego está subindo muito nos Estados Unidos, pressiona custos de produção e os juros, fazendo com que muitos investidores voltem para a renda fixa, avalia Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. No entanto, observa que ainda há um "buraco" considerável nas cadeias de produção e, mesmo com inflação pressionada, tem tido espaço para repasses. "Os EUA injetaram renda artificial, o que elevou o consumo, só que a produção está escassa. Talvez a postura do Banco Central Europeu (BCE) seja a melhor", completa.
Na contramão do Banco da Inglaterra (BoE), que na quinta-feira subiu o juro e na iminente alta em março nos EUA e com ritmo e magnitude acelerados, o BCE manteve a taxa no nível atual. Porém, as falas da presidente Cristine Lagarde foram lidas como mais hawkish ao falar de inflação.
Nem mesmo o resultado da Amazon impede quedas dos índices futuros americanos e europeus. Depois da pressão da véspera nas bolsas de Nova York, sobretudo pela decepção com o balanço da Met (ex-Facebbok), o índice futuro Nasdaq sobe, na esteira do resultado trimestral da Amazon. A empresa teve lucro líquido de US$ 14,3 bilhões (US$ 27,75 por ação) no quarto trimestre, quase o dobro dos US$ 7,2 bilhões de igual. As ações da Amazon dispararam.
Ontem, o Ibovespa fechou em queda de 0,18%, aos 111.695,94 pontos. Para indicar tração, o índice teria que retomar a marca dos 112 mil pontos e, em seguida, recuperar os 115 mil pontos, observa em comentário o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira.
Enquanto o petróleo sobe perto de 2% no exterior, o minério de ferro em Cingapura (futuro) subiu 0,35%, a US$ 145,05 pontos. As altas amenizar um pouco a queda do Ibovespa hoje. As ações da Petrobras subiam 1,75% (PN) e 1,45% (ON) pouco antes do fechamento deste texto, enquanto Vale tinha alta de 0,15%.
O índice Bovespa, por sua vez, cedia 0,93%, aos 110.654,40 pontos, ante mínima diária aos 110.320,84 pontos (-1,23%) e máxima aos 111.696,29 (variação zero). Já o dólar subia 0,57%, a R$ 5,3253.
Apesar da queda, Teles, da Blue3, pondera que o Ibovespa pode continuar atraindo recursos externos, caso os resultados corporativos no Brasil venham bons. "Precisa olhar no detalhe, ver como está a situação das empresas, se estão saudáveis. Ainda há boas oportunidades na Bolsa, e o gringo tem vindo", afirma o especialista.