Após o leve avanço da quarta-feira (de 0,17%), o Ibovespa retomou o sinal negativo nesta quinta-feira, 5, em baixa moderada a 0,28% no fechamento, aos 113.284,08 pontos, ainda rondando os menores níveis desde o início de junho. Assim, acumula agora perda de 2,81%, o equivalente a cerca de 3,2 mil pontos em relação ao nível em que estava no fim da semana passada, aos 116,5 mil. Nesta quinta, a referência da B3 oscilou entre mínima de 112.704,87 e máxima de 114.359,33 pontos, saindo de abertura aos 113.608,78. No ano, o Ibovespa ainda avança 3,23%.
O giro financeiro se manteve fraco, a R$ 17,0 bilhões, nesta véspera de divulgação dos dados mais aguardados da semana: o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em setembro, com a geração líquida de vagas, a taxa de desemprego e a evolução média do ganho salarial no país.
Nesta quinta-feira, o desempenho de bancos como Santander (Unit +2,38%) e Itaú (PN +1,58%) em meio a expectativa mais favorável quanto a uma solução do governo para a questão do JCP (distribuição de juros sobre capital próprio, frequente entre instituições financeiras), assim como de Vale (embora muito enfraquecido, com a ON em alta de apenas 0,05% no fechamento), não foi o suficiente para se contrapor ao efeito de Petrobras (no fechamento, ON -0,39%, PN +0,34%), de utilities como Eletrobras (ON -1,36%, PNB -1,05%) e de siderúrgicas como Gerdau (PN -1,43%).
As empresas de construção também foram mal na sessão, com MRV (-3,61%) à frente, entre as maiores perdas do dia na carteira Ibovespa junto com Hapvida (-4,81%), Magazine Luiza (-4,23%), Grupo Casas Bahia (-3,45%) e 3R Petroleum (-3,12%). Na ponta ganhadora, além de Santander e Itaú, destaque também para CVC (+3,50%), TIM (+1,74%) e Petz (+1,63%).
"Dólar em alta e Bolsa em queda desde os futuros, pela manhã. Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego, nos Estados Unidos, vieram um pouco abaixo do que se esperava para a semana, mostrando que a economia americana segue muito aquecida, corroborando o cenário de juros altos por mais tempo, até que se tenha controle da inflação", diz Stefany Oliveira, head de análise de trade da Toro Investimentos.
"A inflação americana permanece acima da meta, e a atividade econômica tem se mostrado resiliente. É bem mais difícil trazê-la de 4% para 2% meta do Federal Reserve do que de 8% para 4% ao ano. A tarefa do Fed se mostra agora, no ponto em que se encontra, mais desafiadora", diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, referindo-se ao recente movimento dos juros americanos, com a ponta longa da curva especialmente pressionada em contexto ainda marcado por política fiscal expansionista nos Estados Unidos, que afeta diretamente as expectativas do mercado para a inflação.
Miraglia observa também, na ponta longa da curva de juros em todo o mundo, o efeito sobre as expectativas de inflação derivado do forte avanço do petróleo em relação ao início de setembro, passando da casa de US$ 80 para a de US$ 90 por barril – ora em correção, com o Brent de volta aos US$ 84 e o WTI aos US$ 82 por barril nesta quinta-feira, em meio a preocupações, no mercado da commodity, de que a escalada de juros global deteriore a demanda por petróleo.
"A recuperação de preços do petróleo tem sido observada desde julho, em tendência de alta a partir de então, uma melhora que ganhou peso com o corte de oferta por produtores como Arábia Saudita e Rússia. Mais recentemente, dado o aperto de juros nos Estados Unidos, que segura as economias como um todo, veio a percepção de que a demanda deve se enfraquecer", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
"A tendência de alta de preços deve se manter, com o inverno europeu, que apoia o consumo da commodity", acrescenta. "Abaixo de US$ 80, vem corte de produção da Opep, que dita os preços, e próximo de US$ 100 tende a haver aumento da oferta."
No quadro mais amplo, "essa alta dos preços do insumo foi muito rápida e expressiva, o que trouxe o receio de uma segunda onda inflacionária", diz Miraglia, do Integral Group. "Com o petróleo caindo agora, caso venha a se firmar abaixo de US$ 90 o barril, a curva de juros americana pode fechar mais de 20 pontos-base, talvez até um pouco mais do que isso, em relação ao que se vê no momento", acrescenta o economista.
"Nessas últimas duas semanas, nos ativos brasileiros como no resto do mundo, 80% do que se vê, do que tem ocorrido com os preços, decorre da curva longa nos Estados Unidos. Uma abertura maior na curva de juros americana resultaria em deterioração adicional para os ativos brasileiros, como nos demais emergentes. E uma melhora, por outro lado, traria alívio", aponta Miraglia.
Após ter chegado a 4,80% recentemente, o rendimento da T-note de 10 anos retrocedeu nesta quinta para a faixa de 4,69% na mínima do dia, enquanto o de 2 anos, que chegou a 5,15%, recuou nesta quinta-feira para 5,01%, no piso da sessão e também no fechamento. O Brent, por sua vez, que chegou a tocar recentemente a marca de US$ 96, foi negociado nesta quinta abaixo de US$ 84, a US$ 83,84 na mínima do dia, e fechou a US$ 84,07 para o contrato de dezembro, em baixa de 2% em Londres, estendendo a perda de 5,62% observada no dia anterior.