Estadão

Ibovespa cai 0,36%, a 129,9 mil pontos, com pressão sobre ações do Bradesco

A reação do mercado ao nível de provisões e ao fraco lucro do Bradesco no quarto trimestre de 2023 derrubou as ações do segundo maior banco privado brasileiro nesta quarta-feira, em queda de 13,02% (ON) e de 15,90% (PN) no fechamento, levando o Ibovespa a terreno negativo na sessão. Em sentido contrário ao de Nova York, o índice da B3 caiu hoje 0,36%, aos 129.949,90 pontos, entre mínima de 129.426,40 e máxima de 130.551.96, tendo saído de abertura a 130.412,20 pontos. Vindo de ganhos nas duas sessões anteriores – ontem, de 2,21%, quando retomou os 130 mil e fechou praticamente na máxima do dia -, ainda sobe 2,18% na semana e 1,72% no mês. No ano, o Ibovespa cede 3,16% – mas, em 12 meses, o avanço é de 20,51%.

O giro financeiro foi a R$ 27,9 bilhões na sessão da B3 em que as ações do Bradesco registraram uma de suas maiores perdas da história. A ação preferencial do banco tem peso de quase 4% na composição do Ibovespa (3,84%), superada apenas por Vale ON, Petrobras PN, Itaú PN e Petrobras ON entre as maiores participações relativas na carteira teórica do índice. Em 9 de novembro de 2022, Bradesco PN havia caído 17,38% e a ON, 16,01% – ocasião em que o banco tinha perdido R$ 31 bilhões em valor de mercado, também após uma divulgação de resultado trimestral. Aquela havia sido a queda mais intensa para o papel desde 10 de setembro de 1998, um período marcado pela forte volatilidade em torno da crise cambial da Rússia.

"O Bradesco apresentou lucro fraco no quarto trimestre, abaixo da estimativa de consenso, impactado por provisões e despesas operacionais, mais altas. O banco também apresentou um guidance para 2024 que, estimamos, implica lucro de cerca de R$ 17 bilhões, abaixo do consenso de R$ 22,5 bilhões – mostrando alguma recuperação, mas em base muito deprimida, e ainda com nível muito elevado de despesas com provisões", observa em relatório a equipe de Research do Citi. "Embora consideremos que as expectativas já eram baixas para os resultados e o guidance, vemos esses números como um grande revés."

O setor financeiro como um todo, que havia reagido bem aos números sólidos apresentados nesta semana pelo Itaú (PN -0,72%) no trimestre outubro-dezembro de 2023, caiu hoje em bloco com o Bradesco – destaque também para Santander (Unit -2,35%) e para Banco do Brasil (ON -0,27%), entre as maiores instituições financeiras listadas na B3. Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, além das duas ações do Bradesco, apareceram também Hapvida (-4,19%), Azul (-2,91%) e Pão de Açúcar (-2,70%), logo à frente de Santander Brasil. Do lado ganhador, destaque para Petz (+9,49%), Locaweb (+4,95%) e Carrefour Brasil (+4,39%).

A perda do Ibovespa não foi maior porque as gigantes das commodities Vale (ON +0,19%) e Petrobras (ON +0,95%; PN +1,47%, na máxima do dia no fechamento) deram contribuição positiva na sessão.

"As ações do Bradesco sofreram bastante, com o banco mostrando números bem diferentes dos de Itaú, uma discrepância que chama atenção especialmente em relação ao RoE uma métrica de rentabilidade, o retorno sobre patrimônio líquido, com o Itaú entregando 21% e o Bradesco, apenas 6,9% – uma diferença muito grande", diz Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos, acrescentando que o Bradesco já tinha reconhecido, anteriormente, que durante a pandemia o banco emprestou "muito mal". "A inadimplência do Bradesco é de 5,1% e a do Itaú, cerca da metade disso 2,8%", aponta o analista, em referência a um índice em baixa de 0,1 ponto porcentual em 12 meses, no caso do Itaú, e em alta de 0,8 ponto, para o Bradesco.

"O Bradesco busca agora inovação tecnológica, algo positivo se de fato acontecer, bem como reestruturação e corte de gastos" para melhorar a eficiência, acrescenta o analista. "O novo CEO Marcelo Noronha disse que o pior já passou com relação à inadimplência. Pode ser o momento oportuno para comprar uma ação que já vinha acumulando perdas, com trimestres ruins", diz Coser, observando que, de todos os números, a inadimplência é ainda o que assusta mais.

No ano, Bradesco ON acumula perda de 17,18% e a PN, de 18,17%, até o fechamento desta quarta-feira – comparadas a -8,99% para Santander Unit, +1,77% para Itaú PN e +7,31% para Banco do Brasil ON no mesmo intervalo. Neste começo de fevereiro, a ação do banco cede 7,61% (ON) e 8,94% (PN), contra ganhos de 1,43% para Santander, 5,43% para Itaú e 5,30% para Banco do Brasil.

"A reestruturação do Bradesco é um processo de médio a longo prazo. O Bradesco de certa forma perdeu um pouco da credibilidade por apresentar resultados ano após ano abaixo do esperado. Então, o mercado vai esperar que a gestão do banco mostre bons resultados. No curtíssimo prazo, eu não vejo <i>upside</i> muito grande, mesmo com o fechamento da OPA da Cielo. Precisará apresentar resultados mais consistentes para recuperar a confiança dos investidores", diz Dierson Richetti, sócio da GT Capital.

"Bradesco veio ainda bem ruim após uma série de resultados negativos. O que ajudou hoje o Ibovespa foram as ações de commodities, com recuperação de valor na semana vindo de quedas relevantes, seguindo fluxo de dias passados", diz Lucca Ramos, sócio da One Investimentos.

Posso ajudar?