Apesar de ter se mantido em baixa nas últimas três sessões, aparando lucros que chegaram a superar 6% no mês, o Ibovespa encerrou maio com ganho de 3,74%, no que foi seu melhor desempenho desde outubro passado, quando havia avançado 5,45%. Foi também o segundo mês de retomada para a referência da B3, que havia subido 2,50% em abril, após perdas de 2,91% e 7,49%, respectivamente, em março e fevereiro. No ano, o Ibovespa fecha o quinto mês de 2023 ainda no negativo, em retração de 1,28%. Na semana, cede agora 2,32%, com as três perdas diárias. Nesta última sessão de maio, o giro financeiro se fortaleceu na B3, a R$ 34,2 bilhões.
Hoje, o índice oscilou dos 108.193,41 aos 109.136,79, após abertura aos 108.967,03, e fechou em baixa de 0,58%, aos 108.335,07 pontos. Em Nova York, o dia também foi negativo, com recuo entre 0,41% (Dow Jones) e 0,63% (Nasdaq) na sessão.
Em dólar, após ter chegado ao final do primeiro trimestre aos 20.100,65 pontos, com a moeda americana em baixa de 2,99% em março frente ao real, o Ibovespa concluiu abril perto dos 21 mil, aos 20.939,09 pontos, com recuo de 1,60% para o dólar ante a moeda brasileira no mês, na casa de R$ 4,98. Agora, um mês depois, está em 21.355,22 pontos, refletindo não apenas a recuperação do Ibovespa em maio, mas também o avanço do dólar frente ao real, na casa de R$ 5,07 (alta de 1,72% no mês).
Esta última sessão de maio foi condicionada pela decepcionante leitura sobre o PMI industrial da China, ainda em terreno de contração, a 48,8, e abaixo do que se esperava para o mês. O resultado sobre o ritmo de atividade chega em momento no qual os preços de commodities, como o minério, já vinham refletindo incertezas quanto ao dinamismo da segunda maior economia do mundo, que não tem contado com estímulos do governo – um indutor tradicional no país – para mudar de marcha.
Em relatório, a Pantheon Macroeconomics aponta que a leitura do PMI industrial da China em maio foi a menor desde abril de 2022, quando o país estava em lockdown, e que a retomada da economia está sendo dificultada pela falta de estímulos, na medida em que o governo tem optado por deixar que o consumo faça sua parte – sem interferir de forma ampla na indução da recuperação do ritmo de atividade.
"As ações correlacionadas a commodities sofreram mais uma vez hoje desde a abertura, com o PMI chinês da noite anterior, um resultado de maio que contraria a tese do crescimento chinês. Na zona do euro, índices de preços na França e Alemanha, divulgados hoje, mostram que o aperto monetário começa a fazer efeito por lá. E, no Brasil, também pela manhã, a leitura sobre a taxa de desemprego veio acompanhada por queda na população ocupada, um sinal ruim sobre o mercado laboral", diz Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos.
Ainda assim, o levantamento sobre o mercado de trabalho no trimestre até abril, do IBGE, trouxe aspectos positivos e importantes, observa Rafael Perez, economista da Suno Research. Houve queda de 0,3 ponto porcentual na taxa de desemprego, a 8,5%, mostrando "resiliência" do mercado de trabalho nos primeiros meses do ano, aponta Perez. "Vale ressaltar que o rendimento médio real está em R$ 2.891, apresentando estabilidade na variação trimestral e crescimento de 7,5% na anual", acrescenta o economista, que antevê que a perda de dinamismo do emprego ao longo do ano tende a ser "mais moderada".
Nos Estados Unidos, por outro lado, o relatório Jolts, métrica mensal sobre o mercado de trabalho americano focada no giro da mão de obra, mostrou ritmo forte de contratações em abril, acima do esperado, o que sugere que o Federal Reserve possa manter o aperto da política monetária, diz Gabriel Felix, especialista da Blue3 Investimentos. De fato, logo depois do relatório desta quarta-feira, a chance de o Fed elevar em 25 pontos-base os juros de referência chegou a subir de 55% para 72%, na reunião de junho.
"A ideia de que o Fed poderia estabilizar os juros no patamar atual volta a ficar distante, no momento", diz Felix. "As dúvidas sobre a demanda chinesa e a perspectiva de mais altas de juros nos Estados Unidos colocaram a maioria das bolsas no negativo na sessão de hoje, assim como as commodities, com o petróleo estendendo as perdas de ontem", quando já havia cedido mais de 4%, acrescenta o analista da Blue3. Hoje, o barril do WTI para julho, referência dos Estados Unidos, cedeu quase 2%, e o Brent de agosto, referência global, caiu 1,5%.
Assim, Petrobras ON e PN encerraram a sessão, respectivamente, em baixa de 1,22% e 1,02%, enquanto Vale ON chegou a oscilar para cima à tarde, mas fechou ainda em baixa de 0,73% – cedendo 11,86% no mês, enquanto Petrobras ON e PN avançaram 9,52% e 10,21% no intervalo. Outro segmento de peso no Ibovespa, as ações de bancos também fecharam o dia no negativo (BB ON -0,18%, Bradesco PN -1,21%, Itaú PN -0,79% e Unit do Santander -0,94%).
Na ponta do Ibovespa, destaque nesta quarta-feira para BRF (+11,83%), após a empresa ter comunicado aval do conselho de administração para realizar oferta primária de ações, considerando a distribuição de 500 milhões de novos papéis a R$ 9 por ação – ou seja, um prêmio de quase 24% em relação ao fechamento da ON da BRF, ontem, então a R$ 7,27 – hoje, fechou a R$ 8,13.
A Marfrig e a Salic, fundo soberano da Arábia Saudita, vão injetar até R$ 4,5 bilhões na BRF, o que deve acelerar o processo de recuperação da empresa. A Salic e a Marfrig têm compromisso de subscrição de metade da oferta, cada uma. Assim, logo atrás de BRF na sessão, a ação da Marfrig fechou em alta de 6,24% – destaque também para CVC (+13,42%). No lado oposto do Ibovespa nesta quarta-feira, Assaí (-4,19%), TIM (-2,85%) e Locaweb (-2,54%).