A suave ata do Copom e o desempenho positivo dos índices em Nova York (S&P 500 +1,15%, Nasdaq +1,65%) não foram o suficiente para impedir o segundo dia de recuo do Ibovespa, em sessão na qual Vale (ON +1,20%) foi a principal exceção entre as ações de maior peso na referência da B3. Contudo, o índice conseguiu moderar perdas em relação ao início da tarde e fechar em baixa de 0,61%, a 117.522,87 pontos, entre mínima de 116.561,04 e máxima de 119.211,58, após abertura aos 118.246,17 pontos.
O giro financeiro avançou nesta terça-feira, a R$ 25,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 1,22% nessas duas primeiras sessões, colocando os ganhos do mês a 8,48%. No ano, o índice sobe 7,10%.
Com o petróleo em queda superior a 2% no encerramento das sessões da commodity em Londres (Brent) e Nova York (WTI), Petrobras (ON e PN) devolveu o sinal positivo da segunda-feira, hoje em baixa de 0,87% e 0,78%, respectivamente, suavizada ao longo da tarde, o que contribuiu para limitar o sinal negativo do Ibovespa na sessão. Entre os grandes bancos, as perdas chegaram a 1,84% (BB ON) no fechamento do dia, com Bradesco PN conseguindo leve ganho de 0,18%.
Na ponta do Ibovespa, destaque para os frigoríficos Minerva (+3,98%) e JBS (+2,46%), com expectativa mais favorável à demanda da China, após o país asiático liberar o ingresso de 40 mil toneladas de carne bovina que estavam retidas em portos. Ao lado dos frigoríficos, destaque também para Gol, em alta de 3,26% nesta terça-feira. No canto oposto, Alpargatas (-7,76%), Assai (-5,83%) e Petz (-5,42%).
"O dia foi positivo para as bolsas de Nova York, com índices mostrando resiliência da atividade econômica americana, hoje com o conhecimento de dados de confiança, que surpreenderam positivamente, acima do esperado, assim como os de vendas e preços de residências – o que, por outro lado, mantêm cenário difícil para a política monetária, com possibilidade ainda de aumento de juros nos Estados Unidos", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
"Aqui, a ata do Copom veio menos dura do que o comunicado da semana passada, indicando maior possibilidade de início do ciclo de corte de juros em agosto. Mas, para o início de cortes, esperamos algo bem cauteloso, de 0,25 ponto porcentual, considerando alguns núcleos ainda elevados para a inflação e a necessidade de ancorar as expectativas para o longo prazo, e uma atividade econômica que continua surpreendendo positivamente, na margem", acrescenta.
A leitura do IPCA-15 referente a junho, divulgada nesta manhã assim como a ata do Copom, também contribuiu para a perspectiva de que um primeiro corte da Selic possa vir em agosto, e não em setembro como o comunicado da semana passada do comitê do BC – sem referência a redução da taxa básica de juros – parecia sugerir.
"Serviços, serviços subjacentes e a média dos núcleos arrefeceram no acumulado dos últimos 12 meses. E o índice de difusão – que mostra o porcentual de itens que aumentaram de preços no mês – teve queda, de 64% em maio para 51% em junho", observa em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Em junho, o IPCA-15 teve pequena alta de 0,04%, após avanço de 0,51% no mês anterior.
No acumulado em 12 meses, a leitura passou de 4,07% em maio para 3,40% em junho, menor variação desde setembro de 2020, de acordo com Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena. "A desaceleração na leitura mensal, de 0,51% para 0,04%, se deve em grande medida ao arrefecimento em combustíveis e alimentação: juntos contribuem com -0,42 p.p, na margem", acrescenta.
Conforme aponta Sung, da Suno, no mês atual seis dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram alta de preços, com destaque para Habitação (0,96%), que teve impacto de 0,14 ponto porcentual para o IPCA-15 em junho, o maior efeito de alta sobre o índice na divulgação desta manhã.
"Nossa estimativa para o IPCA dezembro de 2023 passa a ser de 4,80%, IPCA que estará no limiar do teto da meta de inflação do ano, de 4,75% (3,25% de meta + 1,50% de margem superior de flutuação)", indica em nota Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
"Esse cenário deverá promover queda das expectativas de inflação para 2024 e 2025, contribuindo para início da redução de juros em agosto (cenário base) ou em setembro. Mantemos nossa avaliação de início de corte de juros no Copom de agosto, com redução de 0,25 p.p., e de redução de 0,50 p.p. a cada reunião até o fim do ano", acrescenta.
Para a Nova Futura Investimentos, a ata desta manhã é "condizente com uma maior inclinação na curva, com os juros curtos precificando o início antecipado do ciclo, com corte de 0,25 p.p. em agosto, mas uma taxa terminal mais alta, prevista no trecho 6 da ata, com o Copom sinalizando juro real neutro mais alto", aponta em nota o economista-chefe, Nicolas Borsoi.
Na avaliação da casa, o sexto parágrafo da ata do Copom de junho eleva a estimativa de taxa real de juros neutra, de 4,0% para 4,5%. A taxa neutra corresponde a nível de juros que, teoricamente, não estimula nem restringe a atividade econômica.