O Ibovespa encerrou a semana da forma como se manteve desde a última terça-feira, no negativo, contido pela cautela em torno da inflação americana e o efeito que terá nas próximas decisões sobre juros nos Estados Unidos, uma combinação que reduz o apetite por ações e outros ativos de risco associados à atividade econômica, como as commodities. O cenário de <i>hard landing</i> , que se conjuga a outros fatores de risco no horizonte imediato, como a crise de energia na Europa às vésperas do outono e a desaceleração chinesa, mantém os investidores na defensiva neste início de segunda quinzena de setembro, após a retomada do Ibovespa de julho para agosto.
Com a queda de 0,61%, aos 109.280,37 pontos no fechamento desta sexta-feira, a referência da B3 oscila para o vermelho em setembro (-0,22%), acumulando perda de 2,69% na semana depois da sequência de quatro baixas diárias. Na semana anterior, o índice havia avançado 1,30%.
O desempenho desta semana que chega ao fim foi o pior desde o recuo de 3,73% no intervalo entre os dias 11 e 15 de julho, há dois meses.
Nesta sexta, o Ibovespa oscilou entre mínima de 108.488,90 e máxima de 109.952,49 pontos, quase igual à abertura aos 109.950,92 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro foi a R$ 39,7 bilhões. No ano, o Ibovespa avança 4,25%.
"Em moeda local, a Bolsa brasileira é uma das poucas que ainda sobem no ano, como a chilena – no caso de lá, pelo alívio proporcionado pela rejeição, em plebiscito, do que seria a nova Constituição. Havia gordura aqui e o mercado tem se ajustado desde a última terça-feira com a inflação nos Estados Unidos em agosto. Está bem precificado que o Fed vai elevar em 75 pontos-base os juros americanos na próxima quarta-feira", diz Erminio Lucci, CEO da BGC Liquidez. "Ficou muito claro o compromisso deles Fed em controlar a inflação mesmo que ao custo da atividade econômica. O cenário de hard landing ganha força e, combinado a outros fatores, como a grave crise na Europa, mantém o risco de recessão global. As incertezas são ainda muito grandes", acrescenta.
Nesta última sessão da semana, as perdas na B3 voltaram a se espalhar pelos segmentos de maior liquidez e peso no índice, com destaque para o setor financeiro, em que os grandes bancos, como Bradesco PN (-1,14%) e BB (ON -1,13%), recuaram. Dia negativo também para Petrobras (ON -0,55%, PN -0,90%) mesmo com ajuste marginal, para cima, nas cotações do petróleo na sessão.
Vale mostrava leves ganhos à tarde, mas também cedeu terreno no fechamento (ON -0,15%), com poucas siderúrgicas (CSN ON +1,31%, Gerdau PN +0,83%) conseguindo chegar ao fim do dia no positivo, em semana ruim também para o segmento (Vale ON -1,87%, Gerdau PN -6,32%, CSN ON -7,16%). Na ponta negativa do Ibovespa, destaque nesta sexta-feira para Natura (-10,47%), Cogna (-9,22%) e Yduqs (-5,52%). No lado oposto, BB Seguridade (+4,02%), Fleury (+2,97%), Magazine Luiza (+2,76%) e Carrefour Brasil (+2,60%).
Ante as incertezas externas e domésticas – entre as quais, sobre como ficará a gestão fiscal no próximo ano, com pressão decorrente de desonerações tributárias e concessões de benefícios sociais -, cresceu fortemente o pessimismo do mercado financeiro sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, embora a percepção de alta ainda predomine. Com a perspectiva de estabilidade para o Ibovespa na próxima semana reunindo apenas 6,67% dos participantes, o quadro das expectativas ficou quase binário, com 53,33% acreditando em ganhos e 40,00%, em perdas. Na pesquisa anterior, 60,00% esperavam avanço do Ibovespa nesta semana; 20,00%, queda; e outros 20,00%, variação neutra.
"A piora de perspectiva sobre o crescimento econômico nos EUA com a manutenção de um Fed duro no combate à inflação, ilustrada por forte inversão na curva de juros americana, segue atuando como principal vetor de pressão para os mercados", observa em nota a Guide Investimentos. "A crise energética europeia, que ameaça colocar a economia do bloco em grave recessão, além da postura mais amena do BC japonês na política monetária, dá força adicional ao dólar, já beneficiado pela busca por proteção", acrescenta a casa, referindo-se a novo recorde atingido nesta sexta, acima de 110 pontos. pelo índice DXY, que contrapõe a moeda americana a referências como euro, iene e libra.
"As bolsas seguem em tendência de queda desde a surpresa com o CPI índice de preços ao consumidor nos EUA, na última terça-feira. Foi a pior semana desde junho para as bolsas americanas. No Brasil, as surpresas continuam positivas, como o IBC-Br, mostrando atividade mais forte do que o previsto, o que bateu um pouco na curva de juros daqui, ontem, com abertura, alta de juros futuros refletindo percepção de convergência mais lenta da inflação para a meta no Brasil, e também, claro, juros mais altos nos Estados Unidos, com o yield da Treasury de 10 anos na máxima de 10 anos, acima de 3,40%", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Se os rendimentos de 10 anos escalaram à elevada faixa de 3,44%, os de 2 anos estão agora em torno de 3,85%, ainda mais altos – a inversão vista entre os juros de 2 e 10 anos é considerada um prenúncio de recessão nos Estados Unidos.
"A fraqueza do S&P 500 foi destaque do dia, os ativos de risco em geral sofreram bastante com a abertura da Treasury e a perspectiva de o BC americano puxar mais fortemente a taxa de juros na semana que vem. Declarações de membros do Fomc o comitê de política monetária do Fed e os dados de inflação mostraram que isso é possível", diz Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset.