Estadão

Ibovespa cai 0,7%, aos 109,1 mil pontos, mas sobe 1% na semana

Acompanhando o sinal negativo do exterior, o Ibovespa aparou os ganhos da semana a 1,02% nesta sexta-feira, 17, ao encerrar a sessão em baixa de 0,70%, a 109.176,92 pontos, vindo de alta nos dois dias anteriores. Com feriado na segunda-feira nos Estados Unidos e retomada dos negócios na B3 apenas na quarta-feira de cinzas, os investidores optaram pela cautela, o que se refletiu também no giro financeiro, muito enfraquecido na sessão (R$ 21,2 bilhões) mesmo com o vencimento de opções sobre ações.

Apesar do recuo nesta última sessão do intervalo, o ganho de 1,02% foi o primeiro para o Ibovespa nas últimas três semanas, após perdas de 0,41% e 3,38% nas anteriores. No mês, o índice cai 3,75% e, no ano, cede 0,51%. Hoje, oscilou em faixa restrita, de pouco menos de mil pontos entre a mínima (108.968,48) e a máxima (109.941,46), correspondente à abertura do dia.

O índice MSCI do Brasil em reais deve cair de 5% a 10% nos próximos dois trimestres antes de começar a melhorar, estima a Capital Economics. O indicador é composto por 48 ações que representam cerca de 85% do peso do Ibovespa. A consultoria alerta que há pouco espaço para melhora consistente dos valuations no País, devido à tendência de redução do apetite global por risco com o enfraquecimento da economia mundial. Ruídos internos também podem prejudicar o cenário, avalia a Capital Economics.

No exterior, a sexta-feira foi de queda forte para as cotações do petróleo, o que segurou as ações de Petrobras (ON -1,53%, na mínima do dia no fechamento; PN também -1,53%), enquanto as da Vale (ON -1,30%), apesar do avanço de 2% no minério de ferro na China (Dalian), refletiram a retração do lucro da empresa no quarto trimestre. O dia também foi ruim para as ações de siderurgia, com CSN (ON -3,12%) à frente.

As utilities, por outro lado, foram relativamente bem na sessão, mas sem sinal único no fechamento, com destaque para a PNB de Eletrobras (+0,80%). Entre os bancos, o sinal também foi misto, com BB (ON +0,99%) e Santander Brasil (Unit +0,37%) no campo positivo, e Bradesco (PN -0,57%) e Itaú (PN -0,33%) no lado contrário. Na ponta vencedora do Ibovespa nesta sexta-feira, Telefônica Brasil (+2,69%), Ultrapar (+2,48%), Soma (+2,29%) e WEG (+2,17%), com Pão de Açúcar (-5,07%), PetroRio (-5,07% também), Hypera (-4,90%) e Magazine Luiza (-3,94%) no canto oposto.

"A semana foi marcada por dados fortes sobre a economia americana, com a inflação e o mercado de trabalho ainda mostrando aquecimento", observa Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3, destacando também, no período, declarações "hawkish" de autoridades do Federal Reserve, como o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, no sentido de uma orientação ainda restritiva para a política monetária, com novos aumentos de juros para os Estados Unidos.

"Na margem, o dia foi ruim para as ações de commodities, como Petrobras e Vale, mas o câmbio, em baixa, sugere entrada de fluxo, com o dólar futuro mostrando queda acima de 1% durante a sessão. Ainda assim, o Ibovespa não reagiu hoje, em dia um pouco mais confuso nas curvas de juros, com os vértices mais curtos subindo um pouco e os mais longos, flat estabilizados", acrescenta o analista.

Assim, a sessão na B3 foi negativa tanto para ações com exposição à demanda externa como as de commodities, com o índice de materiais básicos em baixa de 1,30%, como para as voltadas à economia doméstica, do índice de consumo (-0,30%).

No Brasil, ontem, em entrevista à CNN, o presidente Lula voltou a fazer referência à meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e também sinalizou que pode discutir a autonomia do Banco Central, caso as ações da autoridade monetária não contribuam para melhorar a economia.

Até a negativa do ministro Fernando Haddad (Fazenda) nesta semana, a poucos dias da reunião, "muito se falava que o CMN (de ontem) pudesse já trazer resposta sobre a meta de inflação, deste como dos próximos anos", observa Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos. "É uma discussão muito importante e deve seguir no radar dos investidores. Caso a elevação da meta venha a se confirmar adiante, o ciclo de corte de juros pode ser antecipado, e talvez até de forma mais intensa."

"Na entrevista de ontem à CNN, não dá pra falar em Lula paz e amor, bem longe disso. Mas deu para sentir tom um pouco mais brando nos ataques e críticas ao Banco Central, parte de um movimento (de moderação) que parece ter sido liderado nesta semana pelo Haddad, para acalmar os ânimos. O cachimbo da paz parece estar funcionando por enquanto, assim como o anúncio antecipado do arcabouço fiscal, para março", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

No front externo, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Hemisfério Ocidental, Andrew Hodge, argumenta que o Federal Reserve (Fed) precisa continuar elevando as taxas de juros este ano para poder "domar" a inflação nos Estados Unidos, sobretudo no setor de serviços, que somente deve cair com a desaceleração do aumento de salários.

Em artigo, Hodge afirma que "as taxas de juros mais altas enfraqueceriam a demanda por trabalhadores e aumentariam modestamente o desemprego", e, a longo prazo, reduziriam os aumentos salariais e, consequentemente, os preços, especialmente no setor de serviços.

Apesar dos desafios domésticos e externos, o mercado financeiro está relativamente otimista quanto ao desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, 50% esperam alta e 50% estabilidade para o Ibovespa na próxima semana, sem nenhuma resposta indicando perda. No Termômetro anterior, 70,0% disseram que a presente semana seria de ganhos; 20,0%, de variação neutra; e 10,0%, queda.

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