Temores de atraso na tramitação da reforma da Previdência, tombo das ações da Vale com o relatório da CPI de Brumadinho (MG) e, em menor medida, queda do petróleo pesaram sobre o mercado acionário doméstico nesta terça-feira, 2. Diante das negociações para inclusão de Estados e municípios e na expectativa para a leitura do voto complementar do relator na comissão especial da Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), o Ibovespa oscilou a maior parte da sessão em terreno negativo. Depois de quase perder a linha dos 100 mil pontos na mínima do dia (100.072,77 pontos, queda de 1,2%), fechou aos 100.605,17 pontos, recuo de 0,72%.
Programada inicialmente para as 16h, a leitura do voto complementar de Moreira começou por volta das 16h47. Ao chegar à comissão, o relator disse que o novo texto prevê um efeito fiscal “um pouquinho” maior que R$ 900 bilhões. No relatório apresentado por Moreira em 13 de junho, a economia prevista era de R$ 913,4 bilhões em dez anos.
O presidente da comissão especial, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), afirmou que haverá apreciação de requerimentos amanhã. Há dúvidas, portanto, se será possível votar o parecer do relator nesta quarta-feira (3) – passo considerado fundamental para que a reforma seja aprovada no plenário da Câmara antes do recesso parlamentar.
Em queda desde o início dos negócios, o Ibovespa chegou a esboçar uma reação e quase zerar as perdas no meio no início da tarde, após líderes partidários dizerem que o voto complementar seria realmente lido hoje. Havia temores de que o impasse sobre a inclusão de Estados e municípios na proposta, tema de encontro de governadores e líderes com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adiasse o cronograma da comissão especial.
“O mercado está muito preocupado com um possível atraso na questão da Previdência. Se a votação no plenário ficar para depois do recesso, podemos ver um estresse maior”, afirma Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença Corretora.
O índice voltou a aprofundar as perdas ao longo da tarde, em meio à queda expressiva das ações da Vale, que chegaram a recuar mais de 6%, e fecharam em baixa de 4,21%. As perdas dos papéis da mineradora vieram na esteira da leitura do relatório da CPI de Brumadinho no Senado (MG), que foi aprovado pela comissão. Como adiantado pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), pediu indiciamento do ex-presidente da Vale Fábio Schvartsman, da própria mineradora e da Tüv Süd, além de outros executivos da Vale.
Segundo operadores, o ponto mais sensível é que o relatório da CPI propõe que a cobrança de royalties no setor de mineração seja similar a do petróleo. Segundo Monteiro, o mercado já estava “azedo” com a questão da Previdência e acabou sucumbindo ao peso das ações da Vale, diante dos temores de aumento da cobrança de royalties. “O mercado estava com um pouco de gordura e essa questão da Vale acabou levando a uma onda de vendas”, disse.