O Ibovespa retomou em baixa os negócios nesta Quarta-feira de Cinzas, em sessão mais curta na qual procurou se alinhar ao ajuste do dia anterior nos mercados do exterior, em que havia prevalecido a cautela por leitura acima do esperado para a inflação ao consumidor nos EUA, com efeitos para as bolsas, dólar e Treasuries.
Hoje, o humor externo foi melhor do que o de ontem, mas o índice da B3 fechou em baixa de 0,79%, aos 127.018,29 pontos, entre mínima de 126.662,85 e máxima de 128.025,70, quase equivalente ao nível de abertura (128.025,57). Foi a quarta perda consecutiva para o índice, aproximando-o de série de cinco sessões negativas em outubro passado. Com vencimento de opções sobre o Ibovespa nesta quarta-feira, 14, o giro financeiro subiu a R$ 40,9 bilhões na sessão. Em fevereiro, o Ibovespa cede 0,57% e, no ano, cai 5,34%.
"O CPI de janeiro nos Estados Unidos, divulgado ontem, mostrou alta de 3,1% ao ano, frente expectativa a 2,9% para o mês – ainda assim, em desaceleração ante a leitura de 3,4% ao ano, no mês anterior. Como não tivemos pregão na segunda e na terça, o ajuste veio hoje, em meio ao feriado prolongado na China pela passagem do ano-novo lunar", diz Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos.
Apesar da relativa descompressão vista hoje nos rendimentos dos títulos públicos americanos – os Treasuries -, a curva de juros avançou nesta quarta-feira no Brasil, com os DIs colocando pressão, em especial, sobre as ações do ciclo doméstico, mais sensíveis às taxas. Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para Rede D Or (-5,22%), Eneva (-3,82%) e SLC Agrícola (-3,28%). No lado oposto, Alpargatas (+3,02%), Telefônica Brasil (+1,55%) e BB Seguridade (+1,35%).
Entre as ações de maior liquidez, quase todas fecharam em baixa, à exceção, entre os grandes bancos, de BB (ON +1,35%) – parte do setor metálico também avançou na sessão, com CSN (ON +0,39%) e Usiminas (PNA +0,86%, na máxima do dia no fechamento). Vale ON cedeu 0,30% e Petrobras também fechou o dia no negativo, com a ON em baixa de 1,01% e a PN, de 0,75%.
"Em pregão mais curto depois do feriado, veio essa surpresa com a inflação americana, mais forte do que o esperado, com alta do dólar e nos rendimentos dos títulos americanos, ontem. Veio alguma recuperação lá fora, hoje, mas o ajuste na B3 foi com o dia anterior. A perspectiva é de que os juros do Fed fiquem onde estão por algum tempo ainda. Na zona do euro, também veio alerta sobre pressões salariais e nas margens de lucro das empresas, num cenário ainda de guerra no Leste Europeu e no Oriente Médio que pode afetar ainda o custo de energia e, em consequência, a inflação ao consumidor", diz Gabriel Freitas, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.
"O ajuste de hoje correspondeu a dois dias em que não houve negócios na B3, negativos lá fora. No ano, a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos começou em março, depois foi rolada para maio e agora está indo para junho, com os dados mais recentes de inflação – que resultaram em elevação dos DIs por aqui, afetando em particular os ativos associados ao desempenho da economia doméstica, como bancos e varejo", diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que nenhum "papel pesado" do Ibovespa conseguiu se decolar hoje da correção.
"O CPI jogou água no chope – e principalmente quando se olha os núcleos, também acima do esperado. O setor de serviços ainda mostra a economia americana bem aquecida, e que esse último degrau da inflação vai ser mais difícil de cair – é a parte mais dura, que requer mais atenção", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, destacando também o nível elevado de emprego mantido nos Estados Unidos, o que reforça a percepção de que os juros, ainda altos, não produziram tanto efeito sobre a atividade econômica.