O Ibovespa emendou nesta sessão a terceira perda diária superior a 1%, passado o alívio inicial proporcionado pela aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara, agora enfrentando obstáculos maiores, conforme se temia, na tramitação no Senado, entremeada por ensaio, pelo presidente Jair Bolsonaro, de concessão de aumento ao funcionalismo ante o espaço orçamentário a ser aberto pela proposta. Assim, com exterior negativo e petróleo em correção mais forte nesta quarta-feira, a referência da B3, em dia de vencimento de opções sobre o índice, acentuou perdas ao longo da tarde e fechou em baixa de 1,39%, aos 102.948,45 pontos, no menor nível de encerramento desde 12 de novembro do ano passado, então aos 102.507,01 pontos.
Reforçado pelo vencimento de opções, o giro financeiro totalizou R$ 48,9 bilhões na sessão e, com a queda de hoje, o Ibovespa passa a terreno negativo no mês, acumulando perda de 0,53% em novembro e estendendo a série negativa iniciada em julho. No ano, a retração chega a 13,50%, com perda de 3,18% até aqui na semana, em duas sessões apenas.
Na mínima desta quarta-feira, a 102.551,17 pontos (-1,77%), o Ibovespa rompeu o piso intradia de 22 de outubro (102.853,96 pontos), que até então era a pior marca do ano e também a menor desde 13 de novembro de 2020, quando a referência da B3 foi no intradia a 102.508,77 pontos. Mais cedo, até o começo da tarde, o desempenho moderadamente positivo de parte dos setores financeiro e de mineração e siderurgia contribuía para que a referência da B3 mostrasse ajuste menor do que o observado nas duas sessões anteriores.
"Se o Ibovespa consolidar o rompimento dos 103 mil pontos, abre espaço para movimentos de queda mais expressiva, para baixo até dos 100 mil pontos ou ao menos alcançando este patamar dos 100 mil, uma região falada pelo mercado já há bastante tempo", diz Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos. "Caso contrário, se esta região não for perdida, uma nova correção pode ocorrer, com recuperação até os 108,7 mil pontos", acrescenta a analista, destacando contudo os drivers negativos que têm "ditado" os preços dos ativos nos últimos dias.
No meio da tarde, relato de que o governo avalia usar brecha na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para dar reajuste aos servidores, conforme defendido anteontem por Bolsonaro, contribuiu para colocar pressão adicional sobre a Bolsa, em meio à percepção de que o presidente tende a redobrar a opção por mais gastos à medida que 2022 se aproxima e com previsões econômicas em contínua deterioração.
A eventual concessão de reajuste a servidores precisaria ser incluída pelo governo na mensagem modificativa do Orçamento de 2022 e incorporada pelo relator-geral, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), no chamado Anexo V, que traz as autorizações específicas para elevação de gastos com pessoal, segundo apurou o Broadcast.
"Reajuste do funcionalismo é algo inesperado, não estava na conta do mercado. O político e o fiscal continuam a prevalecer sobre os preços dos ativos, assim como os dados econômicos, com inflação e juros em alta, e constantes revisões, para baixo, na expectativa de crescimento econômico. No exterior, as falas mais recentes de autoridades do Fed sugerem um período mais curto de retirada de estímulos, com consequência para os juros e para a perspectiva da renda variável como um todo, não só nos Estados Unidos", observa Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, destacando em especial o efeito do viés de alta no custo de crédito para setores como o varejo, consumo e construção civil.
Nos Estados Unidos, uma carta em que o presidente Joe Biden pede que reguladores investiguem "condutas ilegais" de empresas do setor de petróleo e gás, que seriam prejudiciais aos consumidores ao impulsionar os preços da gasolina, acentuou a correção no petróleo desde o começo da tarde, com o Brent de volta à casa de US$ 80 por barril. Além disso, "um potencial esforço coordenado entre as duas maiores economias do mundo para liberar reservas de petróleo fez com que os preços do petróleo caíssem", observa em nota o analista Edward Moya, da OANDA em Nova York.
"O governo Biden pediu à China que liberasse reservas de petróleo e parece que Pequim está considerando isso", acrescenta o analista. Como pano de fundo, novo surto de Covid-19 na Europa, com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte, contribuiu também para maior grau de cautela na sessão, em que as perdas em Nova York chegaram a 0,58% (Dow Jones) no fechamento. Na B3, Petrobras ON e PN encerraram em baixa, respectivamente, de 2,30% e 2,53%. Vale ON caiu 2,01%.
Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Locaweb (-9,44%) e Banco Inter (PN -6,68%, Unit -7,32%). Eletrobras PNB (-6,61%) e ON (-6,63%) também se alinharam entre as ações da carteira teórica de pior desempenho na sessão, após o balanço da empresa no terceiro trimestre, na noite de ontem, com queda de 65,72% no lucro líquido ante o mesmo período de 2020. O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, disse nesta tarde que caso a privatização atrase e não seja realizada até 14 de maio, ainda será possível realizar o processo em meados de junho.
Na face oposta do Ibovespa, destaque para alta de 4,49% da Méliuz, movida por reação positiva ao balanço de ontem, à frente de Raia Drogasil (+1,35%) e de Alpargatas (+1,28%).