Estadão

Ibovespa cai 1,67%, a 105,7 mil pontos, e recua 3,09% na semana

Após a leve recuperação de 1,02% na semana anterior, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta semana, faltando apenas as sessões de segunda e terça-feira para o fechamento de fevereiro, mês em que acumula até aqui perda de 6,73%. Assim, o índice segue firme rumo a seu pior desempenho mensal desde junho passado (-11,50%).

Na semana, a retração ficou em 3,09% – a terceira perda semanal no mês. Hoje, pressionado por leituras acima do esperado para a inflação ao consumidor nos EUA (PCE) e no Brasil (IPCA-15), o Ibovespa oscilou entre mínima de 105.359,92, ainda o menor nível intradia desde 5 de janeiro (105.333,08), e máxima de 107.610,59, pouco acima da abertura aos 107.581,79 pontos.

Ao fim, mostrava queda de 1,67%, aos 105.798,43, renovando o menor nível de fechamento desde 4 de janeiro, então aos 105.334,46 pontos. Como nas últimas sessões, o giro financeiro permaneceu fraco nesta sexta-feira, a R$ 19,0 bilhões. No ano, o Ibovespa cede agora 3,59%. Em Nova York, os recuos desta sexta-feira ficaram entre 1,02% (Dow Jones) e 1,69% (Nasdaq).

Na B3, "as perdas se acentuaram ao longo da tarde muito em função do fraquíssimo volume financeiro, bem abaixo do habitual, o que amplifica os movimentos de preço. A cautela vinha desde mais cedo, com as leituras sobre inflação aqui e nos Estados Unidos se refletindo também nos juros futuros", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

Hoje, a percepção de que a evolução dos preços ainda requer política monetária em viés restritivo especialmente nos Estados Unidos voltou a abalar a confiança dos investidores – e o apetite por ativos de risco -, em sexta-feira de avanço não apenas dos juros futuros, mas também do dólar, que fechou bem perto de R$ 5,20.

"Os dados de inflação e consumo vieram mais fortes do que o esperado para os Estados Unidos, e trouxeram uma renovação das preocupações com a política monetária, no sentido de que venha a ser um pouco mais agressiva, no BC americano", diz Bruno Madruga, sócio e head de renda variável da Monte Bravo Investimentos. "O PCE desta manhã reforçou a expectativa por mais altas de juros nos Estados Unidos, elevando a chance de vir um aumento de 50 pontos-base em março, o que resultou em fortalecimento do dólar, hoje, mundo afora", acrescenta.

Dessa forma, as ações e os setores de maior peso e liquidez na B3 não escaparam ao ajuste negativo, com destaque para Vale (ON -2,20%), em dia de recuo nos preços do minério de ferro na Ásia, que "voltaram à mira dos órgãos reguladores tanto na China como em Cingapura", observa Lucas Martins da Silva, especialista em renda variável da Blue3.

Para os grandes bancos, com Bradesco (PN -3,20%) à frente, o dia também foi de baixa. Entre as siderúrgicas, as perdas chegaram a 5,22% (CSN ON) na sessão. Petrobras ON (-1,50%) e PN (-2,18%) tiveram ajuste um pouco mais discreto, com o petróleo em alta à tarde. Na ponta perdedora do Ibovespa, além de CSN e de CSN Mineração (-5,52%), destaque para Dexco (-6,14%), Raízen (-4,93%) e Alpargatas (-4,74%). No lado oposto, Azul (+4,96%), Gol (+1,44%) e Magazine Luiza (+1,40%).

Conhecido pela abordagem hawkish para a política monetária, mas atualmente sem direito a voto no comitê que delibera sobre os juros, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, afirmou hoje que, como os bancos centrais modernos têm mais credibilidade do que era o caso na década de 1970 – período que resultou em choque de juros decorrente da explosão de preços suscitada pela crise do petróleo -, o Fed será capaz de reduzir desta vez a inflação de maneira ordenada, de forma a alcançar um pouso relativamente suave para a economia.

Apesar das palavras de conforto, os investidores se mostram cada vez mais em dúvida quanto ao nível terminal da taxa de juros de referência nos EUA, com aumento das apostas – ainda que não majoritárias no momento – de que o Fed venha a retomar elevação de 50 pontos-base logo à frente, após ter desacelerado o ritmo de ajuste à casa de 25 pontos-base.

"O relatório desta manhã (do PCE) não foi uma boa notícia e talvez seja uma indicação de que a trajetória da inflação de volta à meta de 2%, do Federal Reserve, provavelmente será mais irregular e prolongada do que os mercados esperam", observa em nota Greg Wilensky, diretor de renda fixa dos EUA na Janus Henderson Investors.

A política monetária do Fed precisará ser mais rígida, com a taxa básica de juros podendo chegar a 6,5%, e o custo de reduzir a inflação para a meta de 2% até 2025 provavelmente estará associado a pelo menos uma leve recessão, conforme estudo realizado por um grupo de economistas de grandes bancos internacionais, entre os quais o vice-presidente de pesquisa do Deutsche Bank, Peter Hooper, e o chefe de pesquisa nos EUA do JPMorgan, Michael Feroli, reporta a jornalista Letícia Simionato, do Broadcast.

Aqui, na seara fiscal, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, veio a público confirmar a posição da ala política do governo, favorável à prorrogação da desoneração dos combustíveis à revelia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reporta o jornalista Eduardo Gayer, do Broadcast em Brasília. Para Gleisi, a discussão sobre a volta de impostos federais sobre combustíveis deve ser feita apenas depois de a Petrobras adotar uma nova política de preços – hoje, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, esteve reunido com o presidente Lula.

O Congresso não deverá arbitrar, pelo menos neste primeiro momento, quanto ao retorno dos impostos sobre combustíveis. Com o prazo para a prorrogação da desoneração da gasolina e do álcool terminando na próxima quarta-feira, 1º, a avaliação de parlamentares próximos à cúpula do Legislativo, ouvidos pelo Broadcast Político, é de que não há tempo hábil para votação de Medida Provisória sobre o tema até lá – o texto ainda nem começou a tramitar no Congresso Nacional.

Com tantos fatores de dúvida no horizonte imediato, o mercado financeiro está mais conservador sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a fatia dos que esperam alta para o Ibovespa na próxima semana teve forte recuo, de 50,00% na pesquisa anterior, para 28,57%. Os que esperam estabilidade agora são 57,14%, de 50,00% no último Termômetro, e os que preveem perda representam 14,29% – no levantamento da semana passada, nenhuma resposta apontava queda.

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