Estadão

Ibovespa cai 1,71%, a 103,5 mil pontos, com foco em Mercadante no BNDES

A perda de força dos índices de Nova York no meio da tarde já cortava a recuperação do Ibovespa na sessão, na qual chegou aos 106.689,38 pontos no melhor momento, pela manhã, quando o apetite por risco era instigado pela leitura abaixo do esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos. Após as 16h, contudo, a confirmação, por Lula, de que o economista Aloizio Mercadante será o próximo presidente do BNDES aprofundou as perdas do índice, que passou a renovar mínimas da sessão. Ao fim, a referência da B3 mostrava baixa de 1,71%, aos 103.539,67 pontos, enquanto os índices de Nova York, nesta véspera de deliberação do Federal Reserve sobre juros, variavam entre alta de 0,30% (Dow Jones) e de 1,01% (Nasdaq), recuperando parte do fôlego em direção ao fechamento por lá.

Na mínima desta terça-feira, o Ibovespa retrocedeu aos 103.409,27 pontos, no fim da tarde, saindo de abertura aos 105.345,14 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 30,9 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cede agora 3,70% e, no mês, 7,95%, passando nesta terça-feira a acumular perda de 1,22% em 2022. O nível de fechamento foi o menor para o Ibovespa desde 2 de agosto, então aos 103.361,70 pontos.

Até a confirmação de Mercadante no BNDES, o Ibovespa mostrava perda moderada na sessão, recuando em torno de 0,5% nos piores momentos da tarde. Entre as 16h06, aos 105.299,07 pontos no minuto anterior ao que Mercadante foi anunciado oficialmente para a presidência do BNDES, e o piso do dia, às 16h32, o Ibovespa perdeu o correspondente a 1.889,80 pontos – uma queda de quase 2 mil pontos no intervalo de 26 minutos. O economista é conhecido no mercado pela inclinação heterodoxa, o que faz reviver temores sobre a condução do banco de fomento, marcada nas primeiras gestões do PT pela política das "campeãs nacionais".

Mais cedo, o anúncio de que o economista Gabriel Galípolo será o secretário-executivo da Fazenda sob o futuro ministro Fernando Haddad havia sido recebido de forma neutra pelo mercado. "O ano vai chegando ao fim e os fundos, os grandes investidores, têm mostrado cautela, o que se traduz na redução de fluxo para a Bolsa. Muita expectativa e incertezas ainda com relação à PEC da Transição e a situação fiscal, sobre como as coisas vão ficar. Teve a indicação do Gabriel Galípolo, mas o que dava mais direção, à tarde (até a confirmação de Mercadante no BNDES), era mesmo a perda de fôlego em Nova York, após o entusiasmo inicial com a leitura sobre a inflação", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B. Side Investimentos.

Em Brasília, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou hoje que a Casa pode votar a PEC da Transição somente na semana que vem. A declaração ocorreu horas após encontro do deputado com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no qual havia se comprometido a não barrar a apreciação da PEC. Mas, no encontro, Lira mencionou também insatisfações de seus pares com o novo governo, em especial com as questões relacionadas à indefinição sobre o futuro do orçamento secreto.

Ante as incertezas domésticas e externas, que envolvem também o processo de elevação dos juros nas maiores economias, apenas 12% dos gestores de fundos esperam que o Ibovespa encerre 2023 acima dos 130 mil pontos, segundo a edição de dezembro da pesquisa <i>LatAm Fund Manager Survey</i>, do Bank of America (BofA). Em novembro, 45% dos gestores consultados esperavam que o índice superasse o nível no fim do ano que vem.

Como ontem, o petróleo manteve boa recuperação na sessão, com ganho acima de 3% para o Brent nesta terça-feira, o que recoloca a referência global a US$ 80 por barril. Ainda assim, Petrobras fechou em sinal único, negativo (ON -1,36%, PN -2,47%), após ter permanecido em baixa em boa parte da sessão, desde ontem refletindo a percepção de que o próximo governo deve adotar postura ativa em relação a estatais e às instituições públicas de fomento e crédito, entre as quais BNDES e Banco do Brasil (ON -4,90%, na mínima do dia no fechamento).

"O mercado tem entendido que haverá maior intervenção governamental na estatal (Petrobras) e isso aí traz o preço para baixo. O mercado gosta que a empresa atue com autonomia, quase como uma empresa privada. Essa é uma dor de cabeça que ocorreu ao longo do ano, desde a guerra da Rússia com a Ucrânia (iniciada no fim de fevereiro)", observa Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos. No mês de dezembro, Petrobras ON acumula perda de 11,39% e a PN, de 12,53% – na semana, cedem respectivamente 4,03% e 5,63%.

"Petrobras, com perda de mais de R$ 180 bilhões em valor de mercado, tem correlação com a posição do próximo governo, de histórico conhecido. Com todo o histórico do PT, de interferência (em estatais), o investidor acaba fugindo. A razão Preço/Lucro da Petrobras está hoje em 1,7 vez, enquanto seus pares internacionais rodam na casa de 5, 6, 8 vezes. A empresa está barata, mas, para atrair o investidor, depende de um horizonte tranquilo", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Na B3, além de Petrobras, o dia foi negativo para os bancos em geral (Itaú PN -3,78%, Bradesco PN -2,97%, Santander Unit -3,51%), enquanto Vale (ON) avançou apenas 0,37%, após mais cedo ter contribuído para tirar parte da pressão negativa sobre o índice derivada das blue chips. Até o começo da tarde, os setores de varejo, construção civil e tecnologia subiam também com mais intensidade, em razão da inflação ao consumidor dos Estados Unidos (CPI) abaixo do esperado, divulgada na manhã desta terça-feira e que despertou algum apetite por risco. Ao fim do dia, o índice de consumo (ICON) mostrava sinal oposto, acompanhando a deterioração geral do Ibovespa: o índice setorial cedeu 2,14%, exatamente a mesma retração vista no de materiais básicos (IMAT) no encerramento da sessão.

Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para Petz (+2,69%), Braskem (+1,48%), 3R Petroleum (+0,90%) e PetroRio (+0,72%), com Suzano (-6,43%), Rumo (-5,22%), Banco do Brasil (-4,90%) e Marfrig (-4,82%) no lado oposto.

Pela manhã, na agenda doméstica, destaque para a divulgação da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida na semana passada. "A ata veio praticamente em consonância com o comunicado, então por enquanto não há razão para mudar de opinião sobre a taxa Selic à frente: manutenção em 13,75% até julho do próximo ano, seguida de uma trajetória de queda gradual, terminando 2023 em 11,75%, condicionada à expectativa de inflação em torno da meta central em 2024", aponta em nota o Banco MUFG (Mitsubishi) Brasil.

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