A cautela em torno da economia global se impôs ao câmbio e à Bolsa nesta última sessão da semana, após descolamento em certos trechos do período, antes e mesmo depois do evento mais aguardado do intervalo, a decisão sobre juros nos Estados Unidos, na quarta-feira. Nesta sexta, o Ibovespa fechou em baixa de 2,06%, aos 111.716,00 pontos, após ter encerrado o dia anterior em alta de 1,91%, aos 114 mil pontos, no maior nível desde abril. Mais do que devolvendo a alta de quinta-feira, a retração desta sexta-feira foi a maior desde o último dia 13 (-2,30%). Ainda assim, a referência da B3 conserva ganho de 2,23% na semana, após perda de 2,69% na anterior. No mês, sobe 2,00% e, no ano, 6,58%. O giro financeiro foi a R$ 35,2 bilhões na sessão.
"As autoridades monetárias têm elevado o tom no combate à inflação e o custo, para isso, é o de bolsas em queda e atividade econômica mais fraca", observa em nota a Guide Investimentos, destacando nesta sexta-feira as leituras preliminares sobre os índices de atividade na Europa neste mês de setembro. "A avaliação para a economia europeia é extremamente negativa. Além de contar com pressões de custo devido à crise energética, o controle da inflação pelo BCE (Banco Central Europeu) dificilmente conseguirá evitar um hard landing (pouso forçado da economia)."
O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou nesta sexta-feira que a instituição está determinada a usar suas ferramentas para lidar com o que ele definiu como o "novo normal da economia americana". "Continuamos a lidar com uma situação econômica excepcional, à medida que os formuladores de políticas estão comprometidos em usar todas as ferramentas para ver a economia superar esse período desafiador", destacou, em discurso de abertura em evento.
A cautela quanto ao ritmo de atividade nas maiores economias pressionou o petróleo nesta última sessão da semana, afetando diretamente o desempenho do Ibovespa, com perdas superiores a 6% tanto para Petrobras ON (-7,06%) como para a PN (-6,26%) no fechamento. Mesmo com avanço de 1,34% para o minério de ferro em Dalian, na China, Vale ON (-2,07%) e as siderúrgicas (CSN ON -1,16%, Usiminas PNA -2,31%) não escaparam do sinal negativo na sessão, assim como outro setor de grande peso no índice, o financeiro (Itaú PN -1,97%, Bradesco ON -2,07%).
Prevaleceu na sessão "a interpretação de que a recessão mundial diminuirá a demanda global pelas commodities – o mesmo cenário se desenhou para minério de ferro e siderurgia, setores que caíram em média 2,5%", aponta Gabriel Felix, especialista em renda variável da Blue3. O petróleo WTI para novembro fechou em queda de 5,69% (US$ 4,75), a US$ 78,74 o barril, enquanto a referência global, o Brent, cedeu 4,76% (US$ 4,31), a US$ 86,15 por barril, para o mesmo mês.
Ainda assim, o otimismo do mercado financeiro para as ações na B3, no curtíssimo prazo, teve impulso no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, nenhum deles espera queda para o Ibovespa na próxima semana e a parcela dos que preveem alta saltou a 70,00%, enquanto 30,00% contam com variação neutra. Na pesquisa anterior, 53,33% estimavam ganhos e 40,00%, perdas para a Bolsa nesta semana, enquanto a expectativa era estabilidade para 6,67%.
Na ponta positiva do Ibovespa, destaque nesta sexta-feira para Equatorial (+7,75%), movida pela aquisição da Celg-D, à frente de Petz (+4,49%) e de Fleury (+3,69%). "Com um múltiplo de valor de firma sobre a base de ativos regulatória (EV/RAB) estimado em 0,94 vezes, tudo indica que a Equatorial adquiriu a Celg-D em um patamar de preço atrativo, de desconto, inclusive sobre outras aquisições recentes de distribuidoras pelo grupo (1,8 vezes na CEA e 2,0 vezes na CEEE-D)", aponta o analista Bernardo Viero, da Suno Research. No lado oposto do Ibovespa na sessão, Embraer (-7,46%), Petrobras (ON -7,06%) e Azul (-6,81%).
"Ontem, o Brasil havia sido um destaque impressionante, com descolamento não só da Bolsa, e em volume alto, mas também em outros ativos, como no câmbio, com o dólar chegando a ficar perto de R$ 5,10, e também nos juros futuros – um rali (de ativos brasileiros) que pode ser visto como de final de ciclo de alta da Selic, confirmado na quarta-feira com a taxa a 13,75%. Há uma demanda latente por Brasil, que ainda está barato", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "Mas, como visto hoje, numa queda muito forte lá fora, dificilmente o Brasil vai se segurar", acrescenta o economista, referindo-se ao temor de recessão nos Estados Unidos e à forte pressão sobre os juros globais.