Estadão

Ibovespa cai 2,28%, a 116.677,08 pontos, no menor nível desde 18 de agosto

Enquanto Nova York caminhava em passo moderado para novos recordes, mesmo tendo sido inundada na madrugada pelas águas trazidas por Ida, o Ibovespa patinava e caía desde cedo com as surpreendentes derrotas colhidas pelo governo na noite anterior, especialmente no Senado. Pela manhã veio pitada adicional de cautela, com a leitura abaixo do esperado sobre a produção industrial em julho (-1,3%, na margem), no dia seguinte ao anúncio de leve retração de 0,1% no PIB do segundo trimestre, que havia resultado em revisões sobre a expectativa de crescimento e também de inflação.

Nesta quinta-feira, o índice da B3 fechou em queda de 2,28%, aos 116.677,08 pontos, entre mínima de 116.534,32 e máxima de 119.396,59, saindo de abertura aos 119.394,46 pontos.

O giro financeiro foi de R$ 34,0 bilhões na sessão e, na semana, o Ibovespa amplia as perdas a 3,32%, com 1,77% de baixa nestes dois primeiros dias de setembro – no ano, mais uma vez o índice oscila para o negativo (-1,97%).

Foi a primeira vez desde 20 de agosto que a referência da B3 voltou a operar abaixo de 117 mil pontos no intradia, atingindo nesta quinta o menor fechamento desde 18 de agosto (116.642,62), que havia sido o pior desde 1º de abril (115.253,31). Em porcentual, foi a maior queda desde 30 de julho (-3,08%).

Nem a recuperação do petróleo, em alta em torno de 2%, contribuiu para que Petrobras (PN -1,63%, ON -1,73%, esta na mínima do dia no fechamento) mitigasse perdas que se espalharam por empresas e setores na B3, principalmente à tarde, quando o mercado acompanhou pari passu a votação dos destaques à reforma do IR, iniciada pouco depois das 13 horas – e que, após sinalização recente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), esperava-se que pudesse dormir por algum tempo na gaveta, ante aparente falta de consenso para que fosse levada adiante; na noite de quarta, o texto-base passou com apoio da oposição.

Na ponta negativa do Ibovespa, setores com exposição à economia doméstica, como Cielo (-6,47%), Via Varejo (-6,13%) e Lojas Americanas (-5,86%), refletindo também os fracos dados. No lado oposto, poucas empresas se descolaram do sentimento negativo, entre as quais Assaí (+2,99%), Engie (+1,03%) e PetroRio (+0,75%).

Entre os maiores perdedores do dia, os bancos, caindo "no fato", pressionados pelo "fim do JCP (juros sobre capital próprio) e o corte menor do que o esperado da CSLL", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Entre as maiores instituições, destaque para queda de 5,23% na Unit do Santander, de 4,14% para BB ON e de 3,81% em Bradesco ON.

A decepção do mercado com a aprovação do relatório do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) se acresce à derrubada de minirreforma trabalhista no Senado, com a qual o governo pretendia estimular a geração de empregos, e a aprovação de mudança em planos de saúde de estatais, que pode dificultar privatizações como a dos Correios.

O conjunto da obra contribui para reforçar a percepção de dificuldade do governo em dar direção à agenda, perdendo precedência sobre o Congresso, como também visto em episódios recentes, como o da inclusão de jabutis na MP da Eletrobras.

"Democracia é isso: você chega com uma proposta e ela sofre alteração", disse nesta quinta o ministro da Economia, Paulo Guedes, já antecipando que a reforma tributária também deve ter "um ajuste ou outro" quando for ao Senado.

Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, o risco fiscal sentido pelo mercado, que afeta condições financeiras e previsões para atividade, resulta de um conjunto de fatores, como a questão dos precatórios, a fonte de financiamento do Bolsa Família e a reforma do Imposto de Renda.

Segundo ele, o "desvio da rota" na reforma do IR e no projeto que permitiu a privatização da Eletrobras decorre da falta de esforço do governo para chegar ao desenho correto.

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