Estadão

Ibovespa cai 2,30%, a 110,7 mil pontos, com foco na inflação dos EUA

Em linha com a aversão global a risco que se impôs após a surpreendente leitura sobre a inflação nos Estados Unidos em agosto, em alta de 0,1% quando se esperava uma leve deflação no mês, o Ibovespa sacudiu menos do que os índices de Nova York, onde as perdas chegaram a superar 5% no fechamento (Nasdaq -5,16%).

Na B3, vindo de três altas, o índice caiu hoje 2,30%, a 110.793,96 pontos, entre mínima de 110.521,95 e máxima de 113.400,22, saindo de abertura aos 113.398,09 pontos. Apesar da aversão a risco em véspera de vencimento de opções sobre o Ibovespa, o giro ficou em R$ 25,4 bilhões, acomodado na sessão. Na semana, a referência da B3 cede 1,34%, mas avança 1,16% no mês e 5,70% no ano.

"O volume que se desenhou na sessão parece mostrar um mercado em modo de espera aqui, ainda mostrando resiliência em vista do estágio bem mais avançado no ciclo de elevação de juros quando comparado ao exterior. Mesmo setores com exposição a juros, como os de consumo e construção, tiveram ajustes relativamente discretos na sessão", diz Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset.

"Lá fora, com o CPI de agosto, a expectativa de aumento de 75 pontos-base na taxa de juros dos Estados Unidos virou piso para setembro, com parte do mercado se posicionando agora para aumento de 100 pontos-base nesta reunião. E a incerteza se estende a novembro, com expectativa de que a alta de 75 pontos venha a se repetir."

Na B3, as perdas se distribuíram por ações e setores, com poucos nomes do Ibovespa conseguindo escapar à correção. No fechamento do dia, apenas MRV (+0,90%) e BB Seguridade (+0,67%) mostravam desempenho positivo na sessão. Na ponta oposta, Hapvida (-6,71%), Natura (-6,49%), Qualicorp (-6,15%) e BRF (-5,77%). Entre as blue chips, Petrobras (ON -2,86%, PN -2,94%) esteve entre as maiores perdedoras, assim como as siderúrgicas (CSN ON -4,78%, Usiminas PNA -4,10%), à frente de Vale (ON -2,71%) e dos grandes bancos (BB ON -1,49%).

"Os ativos de risco foram afetados de forma generalizada pelo ajuste, para cima, na curva de juros desde o exterior. A taxa de juros terminal nos Estados Unidos está indo agora para a faixa de 4,25%-4,50% nas projeções de mercado, o que afetou hoje em Nova York especialmente as ações dos setores de tecnologia e consumo", diz Naio.

"A perda no Ibovespa foi até ok quando se compara ao que foi visto lá, onde a taxa de juros ainda não alcançou um platô, ao contrário daqui, onde pode ainda vir um aumento marginal da Selic em setembro, de pouco efeito ao se considerar o nível em que a taxa já está. A discussão, no Brasil, é sobre quando os juros começarão a ser cortados, apesar do recente alerta do BC para os que estavam muito entusiasmados", acrescenta o gestor da Western Asset.

"Ainda mais importante do que a leitura sobe o índice cheio , o núcleo da inflação nos Estados Unidos veio bem acima do que era esperado para agosto. A inflação está ainda generalizada, praticamente, e o que veio pra baixo foi o preço dos combustíveis, em linha com a queda que se vê nas cotações internacionais do petróleo. A parte de alimentação, de serviços principalmente, e a habitação, tudo indo muito pra cima ainda, sem nenhum indicativo de folga na inflação (americana)", observa Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital.

"O núcleo (do CPI), que exclui preços de energia e alimentos, veio acima do esperado em ambas as leituras: alta de 0,6% e 6,3% ante expectativa de 0,3% e 6,1% na comparação mensal e anual", respectivamente, aponta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities. "O dado reforça os comentários recentes dos dirigentes do Fed de que há muito trabalho a ser feito no sentido de controlar a inflação", acrescenta.

"A leitura sobre a inflação acumulada em 12 meses nos Estados Unidos foi de 8,3% em agosto, quando se esperava desaceleração para um patamar próximo de 8,0%. Na margem, não houve a deflação esperada, de 0,1%, apesar da deflação de 10,60% no preço da gasolina", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, destacando também aceleração em alguns grupos importantes dentro do CPI, como o gás (+3,5%, na margem) e serviços (+0,6%), entre outros "preços com ritmo considerado ainda preocupante".

"O mercado vinha numa recuperação de curto prazo, encampando narrativa de que o Fed conseguiria fazer um pouso suave, na medida em que os índices de inflação estavam cedendo, e cederiam ainda mais, sem que se precisasse subir muito mais a taxa de juros", diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group.

"O cenário de inflação persistente reforça o discurso do Fed, de um cenário de juros elevados por mais tempo", o que "favorece a alta do dólar e penaliza os ativos de risco" com os investidores em busca de segurança, aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. "O mercado deve seguir atento à divulgação de mais dados de inflação amanhã (14), nos EUA, e na zona do euro na sexta-feira (16), que devem nortear a tomada de risco e o ritmo durante a semana", acrescenta.

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