Estadão

Ibovespa cai com temor externo e espera por apresentação de arcabouço fiscal

Durou pouco a alta do Ibovespa, que buscava algum ajuste após perder 1,58% na semana passada. O vai e vem em relação a uma data de apresentação do novo arcabouço fiscal gera insegurança, o que é reforçado pela cautela no exterior. Os investidores mantêm certa prudência em semana de decisões importantes sobre juros. Há um crescentes temores de desaceleração mundial, sobretudo após os anúncios de dificuldades financeiras de bancos na Europa e nos Estados Unidos recentemente.

"Seguem as preocupações dos mercados com a liquidez mundial. Comparações com a crise bancária de 2008 são inevitáveis, mas hoje temos um outro mundo, as regras mudaram bastante. Também temos um cenário diferente em relação aos bancos daqui, e vemos alta das ações, mas, claro, sem relativizar o problema", avalia Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos.

No Brasil, segue a indefinição em relação à apresentação das novas regras fiscais. Hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que ele faça reuniões com os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de economistas, antes de apresentar oficialmente a proposta de novo arcabouço fiscal do País.

Enquanto o mercado espera a apresentação do novo arcabouço fiscal, diz Cozzolino, o quadro em relação às contas públicas segue gerando preocupação seja por conta do avanço das expectativas do IPCA na Focus, seja por conta da retomada do governo do "Mais Médicos". Isso, afirma, "pode refletir em piora fiscal. Coloca-se mais gasolina na gasolina", diz o sócio da Levante Investimentos.

Neste cenário, o índice Bovespa cai, sem forças para voltar ao nível dos 102 mil pontos, da máxima intradia dos 102.328,44 pontos, quando subiu 0,34%. As bolsas asiáticas fecharam em baixa, enquanto as da Europa avançam em torno de 1%. Já em Nova York, a elevação era menor perto de 11h40, entre 0,99% (Dow Jones) e 0,59% (S&P 500), enquanto o Nasdaq caía 0,04%.

Os investidores avaliam o esforço coordenado de grandes bancos centrais, como o Fed dos Estados Unidos, anunciado ontem, para aumentar a liquidez de dólar norte-americano, além da compra do Credit Suisse pelo UBS. O negócio é uma resposta à turbulência em curso no setor bancário global e acontece cerca de uma semana após a quebra de dois bancos regionais nos EUA, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank. Ao mesmo tempo, prosseguem as preocupações com o First Repúblic, que precisou de injeção de recursos na semana passada de um grupo dos maiores bancos do país.

Na avaliação do economista-chefe do BV, Roberto Padovani, os investidores se mantêm cautelosos nesta segunda-feira em que a agenda de dados importa. "Saiu a inflação ao produtor na Alemanha, que veio em queda, e tivemos também mais sinais do Banco Central Europeu em uma semana em que os principais bancos centrais do mundo se reúnem. Isso coloca pressão de queda nas taxas de juros, há aumento de uma retração global e mesmo com a queda dos juros a aversão a risco sobe e atrapalha as bolsas", descreve em comentário matinal.

As decisões de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) no Brasil, do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e do Banco da Inglaterra (BoE) são os destaques. Os investidores ficam à espera também da divulgação dos parâmetros da nova âncora fiscal, prometida pelo ministro da Fazenda para antes do Copom, mas agora com prazo final para o anúncio até sexta-feira, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja à China.

No último dia da semana passada, o Ibovespa fechou em baixa d 1,40%, aos 101.981,53 pontos. Em meio ao quadro de incertezas externas e internas, o economista Álvaro Bandeira destaca em nota que o índice pode chegar aos 101 mil pontos, como já vem citando, podendo perder novamente a importante marca psicológica dos 100 mil pontos.

Diante do cenário incerto, o petróleo cai cerca de 1%, pesando nas ações da Petrobras, que recuavam acima de 1%. Apesar da retração de 2,48% do minério de ferro em Dalian, na China, os papéis da Vale destoavam do setor, subindo 1%, em tentativa de recuperar parte das recentes perdas. Destaque ainda para alguns bancos.

Às 11h43, o Ibovespa caía 0,26%, aos 101.718,63 pontos.

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