A volatilidade se impôs ao Ibovespa desde o comunicado sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve, às 15 horas, mas especialmente durante a entrevista do presidente do BC americano, Jerome Powell, a partir das 15h30, que contribuiu para recuperação de ânimo, ainda que transitória, em Nova York e por extensão na B3. Em primeiro momento, prevalecia o susto decorrente do gráfico de pontos, com as projeções atualizadas do Fed para fatores como juros e PIB. Ao fim, a referência da B3 mostrou ajuste menos amplo do que os de Nova York, mas também em terreno negativo, com perda de 0,52%, a 111.935,86 pontos na sessão, vindo de duas altas.
O giro financeiro desta quarta-feira foi a R$ 31,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa ainda sobe 2,43%, com ganho a 2,20% no mês e a 6,79% no ano.
Apesar da deterioração das projeções divulgadas no período da tarde pelo Fed, Powell chegou a dizer, durante a coletiva, haver "razões para acreditar que a economia seguirá razoavelmente forte". "Crescimento mais fraco pode levar a alta no desemprego, mas precisamos ter isso", observou também o presidente do Fed. Apesar de alguns comentários que contribuíram para mitigar parte do susto com o gráfico de pontos, outras declarações tiveram viés decididamente hawkish, que cortaram o entusiasmo que chegou a inspirar o mercado, aqui e fora, em parte da coletiva de Powell.
Ele deixou clara a disposição de "agir de modo agressivo agora". "Queremos chegar rapidamente à política monetária restritiva", afirmou, sem dar indicação do ritmo exato das altas futuras. E ressaltou, mais uma vez, que a trajetória dependerá "da situação da economia". "Tomamos decisão a cada reunião, as próximas não foram fechadas hoje. É difícil prever exatamente a trajetória da política monetária neste momento", disse. Além disso, para Powell, ainda não é possível saber se a política do BC americano levará a uma recessão, o que é uma preocupação atual do mercado.
"Acredito que foi uma decisão bem hawkish do BC americano. A alta de 0,75 ponto porcentual era a mais esperada pelo mercado para a reunião, mas as projeções do Fed passam uma mensagem mais dura do que boa parte do mercado estava precificando. Se antes estava fragmentada, a expectativa para novembro e dezembro deve alinhar", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. "Outro ponto importante são as projeções menores para o PIB, neste e no próximo ano. Cenário bem mais desafiador que vai exigir taxa de juros mais alta por período prolongado, ninguém está esperando corte de juros no ano que vem. Por enquanto, só projetam corte de juros para 2024, diante de todo o cenário", acrescenta.
"A decisão veio em linha com o esperado, mas a decisão foi lida como dura, pelo sumário das projeções, com mudança bastante grande para a trajetória de juros esperada pelos membros do comitê de política monetária do Fed, e também na expectativa de crescimento para a economia", diz Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital. "Houve na prática endurecimento do discurso, ainda mais firme no combate à inflação", acrescenta.
O Ibovespa mostrava perdas pouco acima de 0,1% antes do comunicado sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve, e, quando detalhes da deliberação vieram a público, às 15h, como o gráfico de pontos com projeções atualizadas do Fed para juros e a economia, a referência da B3 acentuou o sinal negativo ainda mais do que Nova York, então também nas mínimas da sessão. Aqui, o Ibovespa foi aos 111.380,13 no piso do dia, em queda de 1,01%, enquanto as perdas em NY chegavam a 0,57% (Nasdaq) no mesmo momento.
Depois, com Powell, o índice da B3 chegou a renovar máxima da sessão, em alta de 0,69%, aos 113.294,37 pontos, enquanto os índices de Nova York também se firmavam no positivo, nas respectivas máximas do dia. Ao fim, os índices de lá também murcharam, devolvendo a recuperação da tarde e fechando em baixa entre 1,70% (Dow Jones) e 1,79% (Nasdaq).
"Para o restante do ano ainda precisamos aguardar mais dados econômicos para saber melhor a magnitude das próximas altas, mas o aperto monetário (do Fed) deve continuar na mesma intensidade. Com isso, esperamos uma desaceleração ainda maior e aumento das chances de uma recessão em 2023", observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Na B3, poucas ações entre as mais líquidas conseguiram se descolar do ajuste desta quarta-feira, como Gerdau (PN +0,17%). Na ponta do Ibovespa, destaque para Magazine Luiza (+6,50%) e Via (+5,02%), com as ações do setor de consumo refletindo o ajuste na curva do DI, além de Soma (+3,47%), Alpargatas (+3,15%) e Lojas Renner (+2,98%). No lado oposto, BTG (-5,17%), CSN (-4,43%) e Cielo (-3,23%). Vale ON fechou o dia em baixa de 1,44%, enquanto Petrobras ON mostrava perdas menores (-0,20%) e a PN oscilou para o positivo no fechamento (+0,26%). Entre os grandes bancos, a queda chegou a 1,05% (Itaú PN) no fechamento desta quarta-feira.
"Juros futuros recuaram por toda a curva, principalmente vencimentos a partir de 2024, precificando um cenário de juros mais baixo em dia de divulgação da decisão do Copom, que impulsionou ações de empresas dos setores de varejo e construtoras", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. Assim, o Icon, índice de consumo, fechou o dia em leve alta de 0,15%, enquanto as perdas no segmento de materiais básicos, que reúne as ações de commodities, chegaram a 1,36% (Imat).