Estadão

Ibovespa cede 0,55%, a 115 mil pontos, no menor nível desde 17 de março

Mesmo com ganhos de até 2,15% (Nasdaq) no fechamento de Nova York nesta terça-feira, o Ibovespa encerrou o dia no menor nível desde 17 de março, mas conseguindo se sustentar acima dos 115 mil pontos, após ter operado abaixo deste limiar em boa parte da sessão. Nesta terça-feira, a referência da B3 encerrou em baixa limitada a 0,55%, a 115.056,66 pontos, entre mínima de 114.277,16 e máxima de 115.686,95 pontos, saindo de abertura aos 115.686,95. Moderado, embora superior ao da segunda-feira, o giro financeiro ficou em R$ 26,2 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cede 0,97% e, no mês, 4,12%, emendando nesta terça a terceira perda diária – no ano, a alta é de 9,76%.

A revisão da expectativa de crescimento global pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2022, de 4,4% para 3,6%, resultou em forte ajuste do petróleo nesta terça-feira, em queda de cerca de 5%, com o Brent a US$ 107 e o WTI a US$ 102 por barril, após sequência de recuperação vista em ambas as referências.

Apesar da correção, o avanço de Petrobras (ON +1,73%, PN +3,03%), acentuado no fim da tarde, contribuiu para mitigar os efeitos de Vale (ON -3,19%), que divulgará dados de produção após o fechamento desta terça, e da realização de lucros nas ações de grandes bancos, com destaque para BB (ON -3,53%), parte dos quais ainda conserva ganhos bem acima do Ibovespa no ano (caso do próprio BB, de Itaú e Santander).

Na ponta do índice da B3, destaque nesta terça-feira para Banco Inter (+9,15%), BR Malls (+7,66%) e Soma (+6,92%). No lado oposto, Cemig (-5,84%), Eletrobras ON (-4,40%) e Carrefour Brasil (-4,30%).

"A atualização na estimativa de crescimento global do FMI para o ano ajuda a entender a correção em Vale, ação muito correlacionada à economia mundial e, em particular, à demanda da China, que tem sofrido com os lockdowns. No quadro doméstico, pesam também as pressões do funcionalismo por aumento salarial. Uma combinação que produz efeito sobre o dólar, em alta na sessão frente ao real, e também na curva de juros, que deu uma puxada, na ponta curta como na longa", diz Antonio Pontes, especialista em renda variável da Blue3, destacando também o avanço dos juros americanos de 2 anos, ainda mais forte do que o dos vencimentos de 10 e 30 anos na sessão, refletindo aumento da incerteza no curto prazo.

"Depois de um primeiro trimestre bastante positivo para ativos brasileiros, especialmente ações de empresas ligadas a commodities e outros setores tradicionais e menos sensíveis ao ciclo de alta de juros, como bancos, abril vem sendo marcado por um cenário um pouco mais desafiador", observa Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

"A perda de força da economia chinesa, refletida nos dados do comércio varejista de março, revela os primeiros impactos da volta dos <i>lockdowns</i> no país – que devem seguir impactando a inflação global, além de balançar expectativas para demanda de insumos básicos de produção, como as commodities", acrescenta a economista, ressaltando, na B3, "certa realização de lucros por investidores que apostaram em altas, na esteira da elevação de commodities e de ativos até então bastante descontados."

Na segunda-feira, o Ibovespa havia fechado na região de 115,7 mil pontos, após ter testado "a importante região de suporte em 115,3 mil pontos", observam em nota de análise gráfica Fábio Perina e Lucas Piza, do Itaú BBA. Na segunda-feira, "o índice foi capaz de manter o viés positivo", mantendo-se então acima desta região, o último suporte para manutenção da tendência de alta, acrescentam os analistas. Em sentido contrário, eventual "superação dos 117,4 mil pontos sinalizará que o mercado retomou o movimento de aceleração em busca dos 119,3 mil pontos, antes de buscar a região dos 121,6 mil pontos".

Por outro lado, "os preços dos ativos, nas últimas semanas como hoje, tendem a continuar reagindo à inflação global. Depois da pandemia, que amainou no começo deste ano, veio a guerra na Ucrânia, com mais um choque de oferta sobre energia e alimentos, duas coisas fundamentais para as populações", diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group.

"A inflação está mais espalhada, chegando ao setor de serviços, e alimentando a indexação de preços e salários, o que se reflete também em abertura de curva de juros, nos Estados Unidos especialmente. O mercado ainda não encontrou patamar de juros nominal que vai brecar essa inflação", acrescenta o economista. Ele prevê deliberação "mais forte do que o mercado espera" na próxima reunião de política monetária do Federal Reserve, em maio, com alta de até 0,75 ponto porcentual na taxa de juros americana. "Os BCs precisarão ser mais duros (na Europa e nos EUA), e isso trará commodities para baixo, principalmente petróleo, ainda bastante esticado pela guerra (no Leste Europeu)."

Tags
Posso ajudar?