Após duas sessões de recuperação parcial ante as perdas acumuladas nos primeiros dias do ano, o Ibovespa segue em terreno negativo nesta segunda semana de 2022, na sequência de retração de 2,01% ao longo do intervalo anterior. Nesta segunda-feira, 10, fechou em baixa de 0,75%, aos 101.945,20, depois de testar o limite inferior dos 101 mil pontos, chegando na mínima aos 101.037,81 pontos, no começo da tarde, saindo de máxima, na abertura, aos 102.719,00 pontos. Em janeiro e no ano, a referência da B3 registra agora perda de 2,74%. O giro ficou em R$ 24,3 bilhões nesta segunda-feira.
Em Nova York, este começo de semana também foi majoritariamente negativo, com retração para o índice amplo (S&P 500 -0,14%) iniciada ainda na véspera da ata do Federal Reserve, divulgada na última quarta-feira, que também colocou o Dow Jones (-0,45%) em terreno negativo desde então, vindo o blue chip de renovação de máximas históricas. Nesta segunda, o índice de tecnologia, na ponta negativa mais cedo, virou perto do fim da sessão (Nasdaq – alta de 0,05% no fechamento).
"A Bolsa está com bons fundamentos e bem descontada, com potencial para retornar aos 107 ou 108 mil pontos no curto prazo, especialmente em setores muito descontados e que se beneficiam do ciclo de alta de juros, como os bancos", diz André Rolha, líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice Investimentos. Nesta segunda-feira, o desempenho positivo de ações do setor (Bradesco ON +1,31%, Itaú PN +0,93%, Unit do Santander +1,28%), embora moderado na reta final, contribuiu para segurar um pouco as perdas do Ibovespa.
Por outro lado, ele acrescenta que a perspectiva hawkish para a política monetária americana, enfatizada na semana passada pelo Fed, traz desafios para os emergentes, observando que instituições como Goldman Sachs e Citi já antecipam quatro altas de juros para os Estados Unidos. O ajuste das expectativas sobre os juros de referência tem se refletido em escalada dos rendimentos dos Treasuries, com o do vencimento de 10 anos convergindo para 1,80%, aponta Rolha. No fechamento de 2021, observa Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, o yield da T-note de 10 anos estava em 1,5%.
Em relatório do time de estratégia divulgado nesta segunda-feira, o Itaú BBA projeta preço-alvo para o Ibovespa a 115 mil pontos no fim de 2022. "Esse target leva em conta um custo de capital mais elevado para as empresas este ano, assim como expectativas de lucros menores em meio a um ambiente macroeconômico desafiador", aponta o texto. "Também estão no radar as implicações do processo de elevação de juros nos EUA para mercados emergentes, especialmente para empresas de crescimento", acrescenta.
"Em termos setoriais, estamos mais otimistas com companhias ligadas a commodities e utilities, e cautelosos com tecnologia, varejo, construtoras e setor financeiro", diz o texto, dos analistas Marcelo Sá e Matheus Marques.
Na terça, a atenção do mercado se volta para a divulgação do IPCA de 2021. "É bem capaz de fechar o ano um pouco abaixo de 10%. Mas se vai fechar a 9,99% ou a 10,01% ou 10,02% não é o grande foco do mercado agora, já voltado para as expectativas para 2022, que estão bem no topo da meta", diz Miraglia, da Integral Group.
O Itaú BBA prevê que o IPCA encerre 2022 em 5% – o Focus desta semana manteve projeção em 5,03%, acima do teto da meta deste ano, desacelerando a 3,36% em 2023, ainda superior ao centro da meta. "Sobre isso, uma eventual queda mais acelerada do que a esperada nos preços pode ser um direcionador positivo para o mercado de ações, já que pode resultar em níveis menores de juros", observa a instituição.
Na ponta positiva do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para Usiminas (+4,77%), Fleury (+3,74%), CSN (+3,32%) e Pão de Açúcar (+2,11%). No lado oposto, Banco Inter (Unit -8,57%), Magazine Luiza (-7,72%) e Méliuz (-5,75%). Entre as blue chips, Petrobras (ON – 0,36%, PN -0,60%) e Vale (ON -1,19%) tiveram desempenho negativo.