Estadão

Ibovespa despenca mais de 2%, com cenário externo e temor fical local

A aversão a risco no exterior, em meio a preocupações com inflação elevada, baixo crescimento e juros altos no mundo, soma-se ao desconforto dos agentes do mercado financeiro nesta quinta-feira com o texto preliminar da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição apresentado na quarta-feira, 16, ao Congresso.

Com isso, o Ibovespa cai forte desde o começo do pregão, caminhando para um segundo dia seguido de baixa e eventualmente perdendo marcas importantes. Ontem mesmo já testou a faixa dos 109,5 mil pontos ao longo do dia, para fechar com recuo de 2,58%, aos 110.243,33 pontos. Na mínima intradia, cedeu 2,72%, aos 107.245 pontos, com declínio praticamente geral na carteira. Às 11h22, apenas Bradesco PN subia (0,79%). O dólar também avança ante o real, tendo batido máxima a R$ 5,5298. Porém, o que mais chama a atenção é a abertura da curva de juros.

"O principal nem é tanto a queda da Bolsa, mas subida rápida dos Dis Contratos de depósito interfinanceiros, é a referência para qualquer tipo de precificação de ativos. Precisaria cair para ficar atrativo, só que a postura do futuro governo, como ele está agindo, basicamente indica que gastará mais e sem responsabilidade fiscal", avalia André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.

Com juros indicando alta, o custo para se emprestar ao País tende a ficar maior e o cenário para as empresas pode ficar complicado, observa Luzbel. "Difícil pensar em queda da Selic agora. Isso começa a frear o consumo, a gerar possibilidade de quebradeira de empresas."

Como ressalta Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos, o mercado já estava pessimista com o desenho da PEC de Transição, que colocava um estouro grande e agora a minuta veio como um cenário possível.

Segundo Takeo, neste momento, fica difícil vislumbrar algum tipo de sinalização sobre o fiscal pelo novo governo que atenue a postura defensiva dos investidores. "Vamos ver se na Câmara, os parlamentares conseguem segurar um pouco reduzir o rombo fora do teto de gastos. O Pacheco Rodrigo, presidente do Senado parece estar fechado com o novo governo. Esperamos que na Câmara tenha algum freio", diz Takeo.

Dentre outras propostas, a minuta da PEC prevê a retirada do Auxílio Brasil do teto de gastos por tempo indeterminado e permite que o governo gaste em 2023 cerca de R$ 200 bilhões acima do limite previsto para as despesas.

"A PEC traz preocupações fortes e indicações também fortes para o futuro fiscal do próximo governo", avalia o estrategista da Davos Investimentos, Mauro Morelli". Agora, a proposta segue para o Senado. "Vamos ver quais serão as alternativas por lá e como a sociedade reagirá a essas alternativas", diz.

Nem mesmo a alta de 1,65% no minério de ferro, negociado na bolsa de Dalian, na China, alivia. Além de temores fiscais locais, persistem dúvidas a respeito do expansão da economia chinesa, que tem relaxado restrições contra o coronavírus, mas sem abrir mão de sua política de covid-zero, o que eleva temores sobre a demanda. O petróleo cai no exterior, pressionando ainda mais as ações do setor na B3. Ainda há perspectiva de crescimento mais fraco no Japão.

A maioria das bolsas asiáticas fechou em baixa, as europeias e as americanas estão na mesma direção. "Os mercados aguardam as falas de cinco membros do Fed, que podem trazer novas sinalizações sobre o próximo passo da instituição. Na Europa, atenção para o anúncio do novo plano fiscal do Reino Unido", cita em nota o Bradesco.

Às 11h30, o Ibovespa caía 2,38%, aos 107.622,98 pontos ante mínima aos 107.245,13 pontos (-2,72%).

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