Após ter encerrado a última sexta-feira bem perto dos 120 mil pontos, com um ganho semanal de 7% que o reaproximou dos melhores níveis do ano, vistos no começo de abril, o Ibovespa recuou nesta terça pela segunda sessão, em ajuste mais discreto do que a perda de 3,27% colhida na terça-feira, a maior desde novembro passado. Ainda assim, nesta terça-feira, a referência da B3 fechou na mínima do dia, aos 114.625,59 pontos, em queda de 1,20% na sessão, na qual o giro financeiro foi a R$ 34,0 bilhões.
Na mesma sessão, os ganhos em Nova York chegaram a 2,25%, no Nasdaq. Na semana, o Ibovespa cede agora 4,42%, limitando o avanço do mês a 4,17%. No ano, o Ibovespa sobe 9,35%. Aqui, a incerteza sobre o desfecho da eleição, que tende a ser definido no domingo por margem apertada, soma-se à cautela com relação à economia chinesa, que ainda suscita dúvidas mesmo com a recente leitura sobre o PIB do país.
"A concentração de poder de Xi Jinping, visível na renovação de mandato, desperta dúvidas quanto a uma orientação ainda mais nacionalista, controladora e restritiva para empresas e a economia em geral, em especial daquelas listadas no exterior. É um fator de atenção por aqui, na medida em que setores como o de mineração e siderurgia, com peso na B3, têm exposição ao país", aponta Felipe Moura, sócio e analista de investimentos da Finacap.
Mas, para além do contexto externo em semana que traz agenda movimentada, com decisão de política monetária na zona do euro e divulgação do PIB americano, essas duas primeiras sessões do intervalo mostraram dinâmica própria na B3, desconectada em ambos os dias do sinal positivo que prevaleceu na segunda e terça-feira nos Estados Unidos e na Europa.
"Ainda que a semana tenha dados econômicos e balanços importantes, deve haver muita cautela nos próximos dias, para a eleição. O nome do jogo tende a ser volatilidade", acrescenta Moura, destacando a revogação parcial do otimismo do mercado visto na semana passada, momento em que o presidente Jair Bolsonaro parecia ganhar fôlego para a decisão do próximo domingo, dia 30.
"É improvável que isso aconteça, mas se houvesse sinal sobre quem seria o ministro da Fazenda de eventual governo Lula, isso poderia tranquilizar os investidores nesses dias que faltam para a eleição. Um nome como o do Meirelles agrada muito ao mercado (Henrique Meirelles, ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda)", observa Moura.
Em meio à indefinição eleitoral, os gestores de recursos continuaram nesta terça-feira a reduzir a exposição das carteiras a Petrobras e Banco do Brasil, estatais cujas ações haviam saltado entre 9% e 10% na semana passada com a expectativa de uma virada de Bolsonaro.
Nesta terça, Petrobras ON e PN fecharam, respectivamente, em baixa de 1,50% e 2,10%, acumulando até aqui perda de 11,24% e 11,11% nessas duas primeiras sessões da semana – na anterior, haviam avançado, respectivamente, 11,87% e 12,87%.
Banco do Brasil ON, por sua vez, encerrou o dia em baixa de 1,72%, como na segunda na ponta negativa entre as ações das maiores instituições financeiras. Nesta segunda e terça-feira, as perdas acumuladas por BB ON chegam agora a 11,57%, após terem avançado 14,10% ao longo da semana passada.
Na ponta positiva do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para Magazine Luiza (+5,15%), Yduqs (+4,61%), Embraer (+4,20%), Méliuz (+3,74%), Cogna (+2,78%) e MRV (+1,21%). No lado oposto, BRF (-11,24%), IRB (-7,22%), Azul (-7,06%), Carrefour Brasil (-5,95%) e Gol (-5,66%). Entre as blue chips, Vale zerou o leve ganho que sustentou em boa parte da sessão e fechou sem variação, cotada a R$ 71,93 no encerramento, em dia em geral negativo para as ações de siderurgia, à exceção de Usiminas (PNA +0,53%).
"O mercado externo segue em rali de alta iniciado no dia 13 de outubro, com os investidores atentos à temporada de resultados (corporativos). Aqui, o dólar segue com 3% de alta na semana, o que demonstra um clima de aversão ao risco local, descolando dos pares emergentes na reta final da corrida presidencial no Brasil", observa Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.
Na agenda doméstica, o destaque do dia seria o IPCA-15 de outubro, divulgado pela manhã, que, embora acima do esperado, não chegou a ganhar muita atenção, com o foco do mercado voltado nesta semana para a política. Prévia da inflação oficial do mês, o IPCA-15 surpreendeu ao subir 0,16% em outubro – ante mediana de 0,09% na pesquisa Projeções Broadcast -, mas é compatível com a expectativa de desinflação gradual à frente, na avaliação do Itaú Unibanco, que reiterou a projeção de IPCA de 5,5% em 2022, com um viés "ligeiramente positivo".
"Destacamos a queda menor do grupo de Transportes em relação ao mês anterior. Os preços defasados da gasolina e do diesel no Brasil em relação ao mercado internacional e a expectativa de manutenção ou de um possível aumento da cotação do petróleo devem reverter esse quadro deflacionário dos combustíveis nos próximos meses", observa em nota Rafael Perez, economista da Suno Research.