Sem força e, como ontem, em nível que retrocede a meados de novembro, o Ibovespa permaneceu em baixa nesta quarta-feira, 29, que antecede feriado no Brasil, colhendo perdas em oito das últimas dez sessões, no intervalo que corresponde à segunda quinzena de maio. Faltando apenas a sessão de sexta-feira para o fechamento do mês, o índice recuou hoje 0,87%, a 122.707,28 pontos, tocando mínima a 122.457,54 pontos, em dia no qual a máxima correspondeu à abertura, aos 123.780,47 pontos.
Na semana, o índice acumula perda de 1,29%, após revés de 3% ao longo da anterior, que foi a sua pior semana desde a de 20 a 24 de março de 2023. Em maio, cede até agora 2,55%, elevando o revés no ano a 8,55%.
Com giro restrito a R$ 19,1 bilhões na sessão, e cedendo 1.072 pontos em relação ao encerramento anterior, o Ibovespa fechou o dia no menor nível desde 13 de novembro passado, então aos 120.410,17 pontos.
Como na terça-feira, as perdas do índice se aprofundaram à tarde, refletindo hoje a hesitação de Petrobras (ON +0,23%, PN -0,13% no fechamento), ações que na terça-feira haviam se contraposto ao peso de Vale ON – papel que ontem tinha cedido 2,16% e hoje caiu 1,02%.
Os grandes bancos também recuaram em bloco nesta véspera de feriado, com destaque para Bradesco (ON -1,03%, PN -1,01%) e Santander (Unit -0,82%). Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para nomes do ciclo doméstico, como Hypera (-6,02%) e Yduqs (-3,75%), à frente de Azul (-3,63%) e Dexco (-3,41%). No lado oposto, LWSA (+3,39%), Lojas Renner (+1,21%), MRV (+1,00%) e Iguatemi (+0,89%).
"Prevaleceu a aversão a risco hoje também no exterior, o que se refletiu nos ativos domésticos. Lá fora, houve forte inclinação nas curvas de juros, com pressão altista em grande parte das curvas globais, ainda que não tenham emergido, hoje, grandes catalisadores do ponto de vista dos fundamentos econômicos", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
"Chama atenção, desde ontem, a fraca demanda em leilões de títulos americanos, o que tem resultado em pressão especialmente na ponta mais longa da curva, neste segundo dia consecutivo de abertura das taxas de juros lá fora", acrescenta o economista, destacando, como consequência desse efeito na curva de juros americana, a apreciação do dólar, globalmente, e a mão pesada sobre a Bolsa. "O pano de fundo global continua a dar o tom local para os negócios, e não só aqui no Brasil – que permanece, assim, nesse padrão mais negativo", observa Ashikawa.
"Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano seguem subindo, após leilões fracos e comentários de dirigentes do Federal Reserve reforçarem as expectativas de manutenção das taxas de juros elevadas por um período prolongado", aponta em nota a Guide Investimentos.
Nesse contexto, as principais bolsas da Europa fecharam em baixa hoje, recuando como a B3 também pela segunda sessão consecutiva, em ambiente de maior cautela pela persistência da inflação e de taxas de juros altas por mais tempo do que se antevia. No velho continente, o destaque desta quarta-feira foi a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da Alemanha, que apresentou avanço, na margem.
A inflação na Alemanha "ilustra o nível arraigado de inflação em toda a zona do euro", na avaliação do ING. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) alemão subiu 2,4% na preliminar de maio, na comparação anual, acima dos 2,2% vistos em abril, mas ainda abaixo dos 2,5% de avanço registrado em fevereiro, aponta o banco holandês em comentário a clientes.
Em Nova York, o dia também foi de inapetência por risco, com o prosseguimento da pressão sobre os rendimentos dos Treasuries, movimento que reaproxima o yield do vencimento de dois anos do limiar de 5%, hoje a 4,99% na máxima da sessão, o que contribuiu para ajuste de alta na curva de juros brasileira. Os principais índices de ações em NY mostraram no fechamento perdas entre 0,58%, para o Nasdaq – que vem de renovação de máximas históricas – e 1,06%, para o Dow Jones.
Nesta quarta, "o Livro Bege dos EUA – um resumo do cenário macroeconômico do país – trouxe a informação de que a expansão da economia continua forte, nada de diferente do que vemos em dados como CPI inflação ao consumidor e PPI inflação ao produtor. Cada vez mais, vê-se a possibilidade de apenas um corte, ou até mesmo nenhum, na taxa de juros nos Estados Unidos em 2024", diz Anderson Silva, sócio da GT Capital.