Acompanhando mais uma vez o mau humor externo, o Ibovespa estendeu correção pelo segundo dia, após ter fechado a sexta-feira com perda de 2,04% na sessão. Nesta segunda-feira, a referência da B3 cedeu 0,89%, aos 110.500,53 pontos, entre mínima de 109.858,38 e máxima de 111.486,78 pontos, correspondente à abertura. O giro financeiro ficou em R$ 25,8 bilhões nesta segunda-feira. Após ter chegado a subir mais de 10% no mês, o Ibovespa apara os ganhos de agosto a 7,11%, ainda avançando 5,42% no ano.
"Começamos a semana de Jackson Hole e os mercados estão bastante cautelosos, para não dizer que desfazendo o grande rali de julho e agosto, de recuperação, onde o S&P 500 voltou para o patamar da média móvel de 200 dias nesses últimos dois meses. Fica sempre a dúvida se foi um <i>bear market rally</i> recuperação ante um grau acentuado de correção que o distanciou do nível recorde mais recente, se o índice vai desfazer tudo ou se vai consolidar e continuar subindo", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, chamando atenção também para dados importantes na semana, como o PCE, métrica preferida do Federal Reserve para a inflação ao consumidor nos EUA, e o IPCA-15, no Brasil.
Em Nova York, uma série de ações participou da recente recuperação do mercado, tipicamente um sinal encorajador quanto à durabilidade de um rali. O S&P 500 subiu 15% em relação à mínima de 2022 em meados de junho, com todos os 11 setores do benchmark avançando na passagem para o terceiro trimestre. Dezenas de ações estabeleceram novas máximas de 52 semanas na semana passada, de acordo com relato da Dow Jones Newswires.
Na B3, vindo de um rali desde as mínimas de meados de julho, o ajuste, como na sexta-feira, espalhou-se pelos setores e ações de maior liquidez, mas desta vez Petrobras fez uma pausa na correção, após ter fechado a sessão anterior em queda de 4,07% (ON) e 5,06% (PN) – nesta segunda, subiram respectivamente 1,59% e 2,14%. Vale ON cedeu 1,46% nesta segunda-feira e as perdas entre as ações de grandes bancos chegaram a 1,38% (Bradesco PN), à exceção de BB ON (+1,02%), que esteve entre as maiores realizações de lucro no setor na sexta-feira.
"Houve uma recuperação forte, dos 96 aos 113 mil pontos, e é natural vir uma realização, que já era esperada para a semana passada. Considerando a mínima de onde saiu em julho, se corrigir uns 5% agora é uma realização natural. Está dentro do preço", diz José Simão, sócio e head de renda variável da Legend Investimentos, antecipando mais algumas sessões de realização ou lateralização do Ibovespa, antes de o índice retomar a trajetória ascendente.
"Com o grau de desconto que havia e a temporada de resultados trimestrais – números, em geral, em linha ou acima do esperado – não está tão fácil para o Ibovespa cair muito. Mas Estados Unidos, China, Europa estão crescendo menos, diferente da situação aqui, em que as projeções de PIB tiveram recuperação. Ainda assim, não há como caminhar sozinho, indiferente ao que está acontecendo fora", observa Simão.
Ele espera "tom duro" do Federal Reserve no evento anual de Jackson Hole, no fim desta semana, sinalizando novo aumento de 75 pontos-base para a taxa de juros de referência dos Estados Unidos em setembro. "Tem que remar para trazer a inflação de 8,5% para 4% e depois 2% ao ano", acrescenta o gestor, apontando que o Fed ainda tem trabalho adiante para desfazer a percepção de que continua "atrás da curva".
"Houve otimismo no mercado desde recentes leituras sobre a inflação ao consumidor e ao produtor nos Estados Unidos, mais baixas, e agora vem uma certa correção de expectativas, na medida em que os problemas estão longe de se dissiparem", diz o sócio da Legend, destacando também outras questões que têm emergido, com efeito sobre a economia global, como a seca na China.
Preocupações com a demanda no gigante asiático e interrupções de produção em siderúrgicas devido a fortes ondas de calor por lá pressionaram em especial as commodities metálicas nesta segunda-feira, aponta Pedro Galdi, analista da Mirae Asset. "As altas temperaturas tendem a atrapalhar a economia do país. Além de hoje ser sell-off global em renda variável", acrescenta. Destaque para queda de 3,32% em CSN ON e de 2,49% para Gerdau PN.
Na ponta perdedora do Ibovespa nesta segunda-feira, Petz (-7,07%), Méliuz (-4,84%), Embraer (-4,66%) e Hapvida (-4,57%), com Americanas (+22,49%), Petrobras PN (+2,14%), Positivo (+2,12%) e Cielo (+2,01%) no lado oposto.