Após seis altas consecutivas, o Ibovespa dá uma trégua e cai apesar da alta dos ativos de ações internacionais, na esteira do índice de inflação ao consumidor dos Estados Unidos. Por aqui, pesa o rombo informado pela Americanas, cujas ações ainda estão em leilão. A noticia contamina os papéis da maioria do setor e ainda do segmento de bancos, com receio sobre as finanças de instituições que fizeram empréstimos para a Americanas.
Na quarta-feira à noite, a companhia informou que foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis na rubrica "redutores da conta fornecedores" na ordem de R$ 20 bilhões na data-base de 30 de setembro de 2022. O presidente da companhia, Sérgio Rial, e o diretor de Relações com Investidores, André Covre, deixaram os cargos 11 dias após tomarem posse. João Guerra assume interinamente. Nesta quinta, ao falar sobre o caso, Rial afirmou: "basicamente, estamos dizendo que a dívida da companhia é maior."
Há riscos de a companhia enfrentar processos judiciais nos Estados Unidos, dado que possui ADRs negociadas no país. Por ora, a XP Investimentos coloca a cobertura de Americanas sob revisão, dada a falta de visibilidade sobre o que de fato aconteceu e os impactos efetivos a serem observados nas demonstrações financeiras da companhia.
"Afeta não só os papéis da Americanas, mas do setor em si e ainda do financeiro, pois tem muito banco com empréstimo com a empresa. Há o receio de que o que aconteceu com a Americanas afete outras varejistas. Temos de ver qual será a implicação disso tudo nos bancos, como responderão. Como bancos pesam, afetam bem", avalia Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.
Conforme Rodrigo Jolig, CIO da Alphatree Capital, ainda é cedo para afirmar se tratar de um risco sistêmico, pois é importante esperar mais informações sobre o caso da Americanas. "Mas é este o assunto que domina a Bolsa hoje. Ninguém sabe ao certo o que tem lá inconsistência. É cedo para qualquer análise, mas o setor sofre. Não acho que seja um risco sistêmico. Só que na dúvida, o investidor vende", avalia.
Por aqui, o mercado ainda espera o anúncio das medidas econômicas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (14h30), na expectativa de que atenuem o risco fiscal do Brasil.
Nos Estados Unidos, destaque para o CPI, que caiu 0,1% em dezembro ante novembro (previsão de estabilidade) e taxa anual desacelerou a 6,5%. Já o núcleo do CPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, subiu 0,3% na comparação mensal de dezembro, vindo em linha com o consenso do mercado.
"Tem um pouco de frustração com o CPI. Talvez deixe o Fed em uma bola dividida quanto aos juros", diz Rodrigo Jolig, CIO da Alphatree Capital, ao se referir à indefinição da taxa de juros nos EUA, se vão continuar subindo meio ponto ou se o BC americano reduzirá o ritmo para 0,25 ponto em fevereiro.
Além do desempenho positivo dos mercados de ações, a alta das commodities também não serve de consolo, por ora, no Ibovespa. Os papéis do segmento têm sinais divergentes ainda que o petróleo suba quase 2% e o minério de ferro tenha fechado em alta de 1,36% em Dalian, na China.
Hoje, saíram dados de inflação do gigante asiático. Apesar da aceleração, a expectativa é para os próximos dados que contemplarão o alívio recente das medidas contra a covid-19. "A partir dos próximos dados é que teremos a real dimensão das condições econômicas do país", avalia Gustavo Neves, especialista de renda variável da Blue3.
Às 11h31, o Ibovespa caía 0,69%, aos 111.737,02 pontos, após abertura na faixa dos 112 mil pontos.
As ações de varejistas puxam o grupo das quedas, com Via ON cedendo 9,23%; Magazine Luiza ON recuando 7,92%. Meliuz perdia 6,67%. Entre o setor financeiro, o recuo maior era de Unit de Santander, de 3,02%, que contaminava o setor.