Estadão

Ibovespa ignora NY fraca e sobe a 121 mil pontos

O Ibovespa sobe nesta sexta-feira, 21, na contramão da queda da maioria dos índices das bolsas norte-americanas. O principal indicador da B3 tenta defender a marca dos 121 mil pontos, depois de ceder mais cedo 0,32% à mínima de 120.061,04 pontos.

Mesmo sem motivadores, a visão de analistas é de que o índice tem espaço para subir, depois de amargar quatro quedas semanais seguidas. Desta forma, avançava 1,24% na semana por volta das 11 horas. Ontem, o Ibovespa subiu 0,15%, aos 120.445,91 pontos. No horário citado acima, avançava 0,65%, aos 121.228,19 pontos.

Além do noticiário corporativo que influencia os negócios, há uma tentativa de recuperação de preços de alguns papéis que sofreram recentemente. Petrobras é um dos indutores da alta.

Como relembra Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, as cotações do petróleo avançaram bastante recentemente, enquanto as ações da estatal não acompanharam. "Estava em torno de R$ 42 o papel e hoje está em torno de R$ 36 PN. Além do mais, tem o vencimento de opções sobre ações. O Índice sobe mais por fluxo do que por fundamento", explica Mota.

De acordo com o operador da Manchester, ainda há um sentimento positivo após o Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, que manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano. Ainda que o nível seja elevado, o fato de a decisão ter sido unânime, afastando eventuais influências políticas como surgiram no Copom de maio, alivia um pouco.

"O gatilho ainda é a decisão do Banco Central na quarta-feira, que foi unânime. Isso alivia um pouco as tensões recentes. Indica que foi uma decisão técnica", avalia Mota.

No entanto, a queda em Nova York o recuo de 1,7% do minério de ferro em Dalian, na China, bem como as crescentes preocupações fiscais e ao futuro do Banco Central limita a alta do Ibovespa.

Os recentes ruídos políticos e fiscais têm pressionado para cima os juros futuros e impedido o Índice Bovespa de adotar uma alta. "O que assusta é esse avanço dos juros futuros, que têm voltado às máximas. Desta forma, os ativos de risco não conseguem ter um bom desempenho", analisa Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos.

Segundo Costa, se não fossem as preocupações crescentes com os gastos fiscais, haveria até espaço para corte de juros no Brasil.

Em relação ao fiscal, o governo calcula que o processo de redução de gastos em cadastros de programas sociais pode gerar uma economia de cerca de R$ 20 bilhões em 2025. Integrantes da área política citam nos bastidores um alívio de até R$ 30 bilhões.

Para Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital, dificilmente o resultado primário vai zerar conforme estima a meta da equipe econômica, o que já é tido como certo pelo mercado. No entanto, os investidores esperam um anúncio efetivo de redução de despesas pelo governo para diminuírem a desconfiança no País. "Precisa de medidas mais eficientes. Está chegando um momento que não é mais possível aumentar a arrecadação", diz.

Apesar de não ter nada programado para hoje que envolva o debate fiscal diretamente, os investidores vão monitorar a agenda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com empresários, e eventuais novas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema e os juros altos no Brasil. Mais cedo, Lula voltou a criticar os juros altos no Brasil. "Taxa de juros está a 10,50% sem nenhuma explicação, sem nenhum critério."

Já no exterior, novos sinais de desaquecimento na Europa e de demora no início do corte dos juros nos Estados Unidos estão no radar.

No campo corporativo brasileiro, Sabesp subia 3,57%, depois que a companhia afirmou que foram definidos os termos e condições finais para seleção do investidor de referência no âmbito da oferta pública para privatização.

Já Petrobras avançava entre 0,63% (PN) e 0,03% (ON), em meio ao ligeiro aumento do petróleo hoje e à notícia de que a estatal, a Gerdau e a Naturgy assinaram contratos para o fornecimento de gás natural no ambiente livre de comercialização para atendimento à Cosigua, unidade de produção de aços longos da Gerdau, localizada no Rio de Janeiro. Vale ON, por sua vez, perdia 0,44%.

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