Após o pior fevereiro desde 2020 (então -8,43%), quando o mundo ingressava numa pandemia, o Ibovespa inicia março de 2023 da forma como encerrou o mês anterior, em baixa, emendando nesta quarta-feira, 1º, a quarta perda diária, a mais longa série negativa desde as cinco perdas entre 7 e 14 de outubro passado. Bem moderada ao fim, o índice fechou o dia em baixa de 0,52%, aos 104.384,67 pontos, no menor nível de encerramento desde 3 de janeiro (104.165,74), tendo permanecido em boa parte da tarde abaixo dos 104 mil, parecendo então a caminho do pior fechamento do ano.
Hoje, a referência da B3 oscilou entre mínima de 103.104,81, menor nível intradia desde 19 de dezembro (102.769,76), e máxima de 105.497,01, saindo de abertura aos 104.933,17 pontos. Na semana, o Ibovespa cai 1,34% e no ano cede 4,88%, vindo de perda de 7,49% ao longo de fevereiro. O giro financeiro desta quarta-feira subiu para R$ 32,9 bilhões.
Março ganha significado por ter marcado um dos topos mais recentes do Ibovespa, aos 120,2 mil pontos no dia 30, em 2022 – em abril iria mais longe, chegando aos 121,5 mil pontos na abertura do mês. Antes, marcas semelhantes haviam sido vistas em 27 de agosto de 2021, aos 120,6 mil pontos naquele fechamento, em um mês no qual chegou a mostrar 123,5 mil pontos no encerramento de 3 de agosto. Contudo, as referências em 2021 eram outras, com o Ibovespa vindo dos 128 mil, em meados de julho, e dos 130 mil pontos, na primeira quinzena de junho.
"Agora é difícil pensar mesmo em 120 mil pontos para o Ibovespa, com os juros americanos no patamar onde estão, e continuando a subir", observa Rodrigo Jolig, diretor de investimentos e co-CEO da Alphatree Capital. "O cenário macro desafiador continua a dar o tom. Hoje, mesmo com o PMI dos Estados Unidos em linha com o consenso, a preocupação continuou a ser o nível de atividade americano e a recuperação do mercado de trabalho por lá, com efeito sobre a inflação e, consequentemente, sobre os juros do Federal Reserve, ante a incerteza quanto ao nível até onde precisarão chegar para acomodar os preços", diz Karina Okazaki, sócia da Legend Investimentos.
Nesta quarta-feira, o yield de dois anos dos Estados Unidos, mais sensível à perspectiva de curto prazo da política monetária americana, foi negociado na máxima do dia quase a 4,90%, a 4,8993%, bem acima de máxima a 4,0092% para o vencimento de 10 anos – uma inversão que, pelo histórico, costuma ser vista como sinal antecedente de recessão nos Estados Unidos, na percepção do mercado. Em Nova York, os índices de ações fecharam o dia entre leve ganho de 0,02% (Dow Jones) e perda de 0,66% (Nasdaq).
Na B3, a queda, bem moderada em direção ao fechamento, foi em grande medida decorrente da correção nas ações de grandes bancos, como Santander Brasil (Unit -1,98%), Itaú (PN -1,61%) e especialmente o estatal BB (ON -3,23%), no momento em que os investidores acompanham de perto os efeitos do contingenciamento de crédito suscitado pela crise da Americanas e o que poderá produzir ainda à frente, nos balanços como também na distribuição de dividendos pelas instituições financeiras, mais cautelosas após o tombo da gigante do varejo.
Como no fechamento de ontem, em que tocaram as mínimas do dia com o anúncio da tributação das exportações de petróleo bruto e a exigência, do ministro Fernando Haddad (Fazenda), de "maior transparência" na Petrobras, as ações da estatal seguiram na defensiva nesta quarta-feira, mas conseguiram reagir perto do fechamento, antes do balanço do quarto trimestre de 2022, com a ON sem variação e a PN virando para leve ganho de 0,24% na sessão.
Por outro lado, a forte leitura sobre o PMI da China deu impulso ao setor metálico, com destaque para Vale (ON +4,55%), em dia de recuperação também para a siderurgia, que vinha refletindo, como a Vale, ajustes negativos nos preços do minério de ferro – hoje, destaque para a forte retomada em CSN, em alta de 7,62% no fechamento. O minério de ferro subiu 2,42% em Dalian, China, nesta quarta-feira.
"O PMI mais forte nas China ajuda nossas empresas exportadoras, como Vale e Gerdau (PN +3,11%). Fevereiro foi muito afetado pela questão externa, pelos dados americanos e quanto de aperto monetário ainda haverá lá fora. Aqui, na discussão interna, muito impacto negativo ainda derivado da questão fiscal. Para março, está dado que os juros americanos ficarão altos por mais tempo, e há o contraponto da retomada chinesa, que passa por um bom momento", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Ele ressalva que a taxação das exportações de óleo cru, anunciada ontem pelo governo, é um desdobramento negativo que deve continuar no radar, pelo sinal dado. "Caiu muito mal no mercado, e pode se refletir em outras exportadoras, embora não tenha sido o caso hoje. Vai taxar amanhã proteína? Vai taxar minério?", questiona Moliterno.
Hoje, as ações da Petrobras reagiram em parte da sessão à "notícia de que o Ministério de Minas e Energia pediu à empresa que suspendesse a venda de ativos por 90 dias", aponta Antonio Sanches, especialista da Rico Investimentos. "Essa notícia impactou todo o setor, especialmente empresas relacionadas à aquisição de ativos da Petrobras."
Por outro lado, na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, além de CSN e Vale, destaque também para BRF (+5,36%) e Bradespar (+4,23%), assim como para Usiminas (+4,98%), Gerdau (+3,11%) e Marfrig (+3,14%). No lado oposto do índice, Hapvida (-32,74%), em acentuada correção após o balanço com prejuízo líquido consolidado de R$ 316,7 milhões, após lucro de R$ 200,2 milhões um ano antes. Além de Petrobras, a tributação das exportações de petróleo bruto afetou também, hoje, as ações da 3R Petroleum (-10,46%). O dia também foi bem negativo para nomes do setor de consumo, como Pão de Açúcar (-8,11%) e Magazine Luiza (-10,03%).
O índice de consumo fechou o dia com perda de 3,54%, mas o efeito sobre o Ibovespa foi em parte amortecido pelo avanço de ações de commodities, com o índice de materiais básicos em alta de 2,13% na sessão, puxado pelas metálicas.