Nestas últimas duas sessões, negativas, o Ibovespa devolveu a recuperação observada nas duas anteriores, desfazendo movimento que o havia alçado dos 98 aos 100 mil pontos na semana passada, marca mantida na sexta mesmo com baixa do índice. Hoje, a referência da B3 retrocedeu aos 98.212,46 pontos, em queda de 2,07% no fechamento, a mais aguda em porcentual desde 17 de junho (-2,90%). Entre máxima aos 100.282,06, da abertura, e mínima aos 97.854,22 pontos, o índice chegou a ceder mais de 2,4 mil pontos, voltando no encerramento a acumular perdas no mês (-0,33%), que elevam as do ano a 6,31%. Muito fraco, o giro foi de R$ 16,5 bilhões na sessão.
A aversão a risco nesta abertura de semana se estendeu da Ásia à Europa e aos Estados Unidos, afetando também emergentes como o Brasil, em dia de apreciação do dólar frente a referências como euro, iene e libra, que compõem, com outras moedas, a cesta do índice DXY. Aqui, a moeda americana foi negociada a R$ 5,3755 na máxima do dia, à tarde, e ao fim mostrava ganho de 1,96%, aos R$ 5,3710 no fechamento.
"O cenário ainda é de muita cautela, que deve se estender pela semana. O Ibovespa renovou mínimas ao longo da tarde, acomodando-se abaixo dos 98 mil pontos com os temores sobre novos lockdowns na China, bem como sobre a inflação e o risco de recessão nos Estados Unidos. O dólar foi a R$ 5,37 na máxima do dia, em alta de 2%", diz Davi Lelis, economista e sócio da Valor Investimentos. "A discussão, hoje, não é mais sobre se haverá ou não recessão nos Estados Unidos, mas quando acontecerá e em que intensidade", acrescenta.
Em meio às dificuldades na Europa e ao processo de elevação de juros nos Estados Unidos, analistas apontam alto risco de que o euro caia para a paridade, ou mesmo abaixo do dólar, com a perspectiva de agravamento das interrupções no fornecimento de gás europeu resultantes da invasão da Ucrânia pela Rússia. Os temores em torno do fornecimento de energia na Europa se intensificaram no fim de semana depois de o ministro de Finanças da França, Bruno Le Maire, ter dito que o governo está se preparando para um corte total do fornecimento de gás russo.
Por sua vez, o petróleo foi pressionado abaixo em parte do dia, em sessão na qual as commodities também refletiram temores sobre a demanda chinesa, ainda às voltas com surto de subvariantes da covid-19 – em um quadro de atividade já enfraquecido para a economia global, exposta ainda a pressões inflacionárias.
Na B3, o índice de materiais básicos fechou o dia em baixa de 2,07%, semelhante à queda do índice de consumo (-1,94%), com exposição à economia doméstica. Entre as blue chips, destaque para a queda de 3,41% em Vale ON, com Petrobras (ON -0,06%, PN -0,49%) mostrando perdas discretas no fim do dia, com o fechamento sem sinal único para o petróleo. Entre os grandes bancos, as perdas ficaram entre 1,52% (Bradesco ON) e 2,01% (Bradesco PN).
Apenas oito ações do Ibovespa conseguiram se descolar da correção vista na sessão, com Telefônica Brasil (+0,80%), PetroRio (+0,74%), Assaí (+0,46%), Magazine Luiza (+0,38%), JBS (+0,19%) e Suzano (+0,15%) à frente. Na ponta oposta, destaque para Gol (-11,79%), Méliuz (-8,00%), Azul (-7,55%) e B3 (-5,86%).
No noticiário do dia, o índice de indicadores antecedentes composto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) continua a mostrar perda do impulso no crescimento econômico na maioria das grandes economias do grupo, informou a OCDE nesta segunda-feira. Na leitura mais recente, recuou de 99,69 em maio para 99,51 em junho.
Aqui, o governo trabalha até o momento com a inclusão, a partir de agosto, de cerca de 2 milhões a mais de novas famílias no programa Auxílio Brasil. Com o aumento, o número de famílias contempladas pelo programa social pode subir para um patamar próximo de 20,15 milhões, segundo apurou o Estadão/Broadcast. O texto da PEC Kamikaze, que amplia e cria novos benefícios sociais, estabelece o início do pagamento da parcela adicional de R$ 200 em 1º de agosto. Uma folha extra em julho não poderá ser rodada, apesar da expectativa de aliados do governo.
"Após mais uma semana marcada pela volatilidade e incerteza, investidores começaram a segunda-feira já de olho na quarta – dia em que será divulgado o resultado da inflação ao consumidor referente a junho nos Estados Unidos", observa Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos. "A alta de preços está no epicentro dos movimentos de mercado nos últimos meses, com todos os olhos voltados para o desfecho do processo de alta de juros na economia americana, e no resto do mundo. Se muito forte, pode acabar mergulhando os Estados Unidos em uma recessão; se muito fraco, a inflação reduz o poder de compra e aumenta a incerteza", acrescenta.
"A temporada de balanços está próxima. Tem início nesta semana nos EUA, e na próxima, aqui no Brasil, o que pode trazer mais informações para o investidor dosar o apetite a risco", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.