Apesar da grande pressão nas ações de commodities, em reação a queda de 3% no petróleo Brent e superior a 13% no minério de ferro negociado na China – agora no menor nível desde 30 de novembro -, o Ibovespa encontrou algum fôlego ainda no começo da tarde para interromper a sequência de três perdas que o havia retirado dos 121,1 mil pontos, no fechamento da semana passada, para 116,6 mil no de quarta-feira, em perda de 4.551 pontos no intervalo. Nesta quinta-feira, obteve leve recuperação, em alta de 0,45%, a 117.164,69 pontos, entre mínima de 114.801,00, menor nível intradia desde 29 de março, e máxima de 117.453,34, com giro financeiro reforçado a R$ 43,7 bilhões nesta véspera de vencimento de opções sobre ações.
"Em função de enquadramento de risco e da alta volatilidade, teve muito fundo multimercado zerando posição, o que contribuiu para essa forte correção vista no Ibovespa, abrindo caminho, pelo preço, para retomada de fluxo estrangeiro, que vê oportunidade em Brasil também com a expectativa de Selic mais alta até o fim do ano", diz Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual. "Ações como as de Vale, Gerdau e Usiminas tendem a continuar voláteis, com a possibilidade de o minério continuar caindo, mas setores descontados, como bancos e a própria Petrobras, podem recompor, assim como varejo", acrescenta a operadora, chamando atenção para avaliação do JPMorgan de que o Ibovespa pode encerrar o ano aos 130 mil pontos.
Tendo fechado a sessão anterior no menor nível desde 1º de abril, o índice da B3 acumula na semana perda de 3,32% e, em agosto, de 3,81%, colocando o ajuste negativo do ano a 1,56%. Sem muitas novidades da quarta para a quinta-feira, para corrigir eventuais excessos, os investidores buscaram em especial ações ligadas à demanda doméstica, como as do setor de serviços, que pode apresentar recuperação mais forte à medida que o ano se aproxima do fim, com a normalização das atividades – na quarta, o governador de São Paulo, João Doria, declarou que a quarentena terminou no Estado.
Assim, o desempenho de CVC (+7,91%), Locaweb (+7,79%), Totvs (+5,78%) e Localiza (+5,31%), na ponta do Ibovespa, contribuiu para mitigar o efeito negativo de pesos-pesados como Vale (ON -5,71%, segunda maior perda do índice), CSN (ON -5,78%, maior queda do dia no Ibov) e Petrobras (ON -0,95%, PN -0,56%). E o Ibovespa conseguiu carregar a tímida recuperação desta tarde ao fechamento, mesmo com os índices de Nova York chegando a reverter ao negativo no intervalo – ao final, S&P 500 e Nasdaq mostravam avanço, aliviando um pouco mais a referência da B3. O câmbio também esteve pressionado nesta quinta-feira, embora a meio caminho entre a mínima (R$ 5,3808) e a máxima (R$ 5,4565) do dia, em alta de 0,89%, a R$ 5,4228 no fechamento.
"Foi o segundo pregão com forte volatilidade e bastante alta no mercado de dólar, que segue puxado também pelo embate entre os Poderes e pelo acompanhamento do fiscal, com possível risco, que o mercado vê, de modificações criativas em cima do teto de gastos", diz Rafael Ramos, especialista em câmbio da Valor Investimentos.
Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a reforçar que a autoridade monetária tem como prioridade alcançar a meta de inflação a partir do próximo ano, e enfatizou que a instituição possui os instrumentos para isso, o que contribuiu para moderar, em alguma medida, o ajuste no câmbio e para que a Bolsa neutralizasse as perdas na sessão.
Por outro lado, em audiência em comissão do Senado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que se a proposta de parcelamento de precatórios não passar no Congresso, não haverá verba suficiente para fazer rodar a máquina pública e poderá faltar recursos para pagamento de salários – "Brasília vai parar", chegou a dizer o ministro. Ele apontou também que será um erro se a reforma do Imposto de Renda não for aprovada. Nesta semana, a votação foi adiada na Câmara por falta de acordo.
A incerteza sobre o fiscal, no momento em que o governo tenta impulsionar benefícios sociais e reconhece dificuldade para pagar precatórios, é agravada agora pela perspectiva de menos liquidez a partir da maior economia do mundo, sinal reforçado na quarta na ata do Fed: uma combinação que dificulta recuperação sustentada do Ibovespa. Tal sinalização tem se refletido de maneira mais visível também nos preços de commodities, como o petróleo, a que a B3 tem grande exposição, apontam analistas.