Aversão a risco externa empurra o Ibovespa para baixo, com o índice renovando mínimas na faixa dos 117 mil pontos, apesar da alta do minério de ferro na China nesta quarta-feira superior a 2%. Com isso, entre a abertura (118.885,26 pontos) e a mínima (117.473,27 pontos), já perdeu cerca de 1.400 pontos.
"O fluxo de notícias piorou nos últimos dias, e hoje ainda temos dados fracos da China, sem falar nas falas de membros do Fed que tinham um discurso mais tranquilo, mas que adotaram um tom mais duro ontem. Já começa a ter uma pressão na curva dos juros de forma relevante", avalia Flávio Aragão, sócio da 051 Capital.
Dentre os dirigentes que falaram na véspera, a diretora do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Lael Brainard, afirmou que o balanço da instituição deve ser reduzido "de modo consideravelmente mais rápido agora", em comparação com processos anteriores do tipo. Na China, o PMI composto recuou a 43,9 em março, ante 50,1 em fevereiro.
Por isso, é crescente a expectativa com a divulgação da ata do Fed, às 15 horas, referente à reunião de política monetária passada. A expectativa é de que o documento reforce a ideia de aceleração do ritmo de alta do juro no país e detalhe o processo de redução de seu balanço, reduzindo a liquidez mundial. Somada a essa espera estão temores de novas sanções à Rússia, acusada de ter cometido crimes de guerra na Ucrânia, e em relação a dados de atividade mais fracos na Alemanha e China e mais fortes de inflação na zona do euro.
"Mercados com uma postura defensiva, investidores cautelosos da mesma forma como o visto ontem. Os temas são os mesmos. Preocupação com a imposição de novas sanções adicionais à Rússia, e está todo mundo de olho na política monetária norte-americana", afirma em nota o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.
Conforme Felipe Graciano, especialista em renda variável da Blue3, mesmo que a taxa Selic seja maior que em outros locais, este cenário de preocupação externa acaba contaminando o Ibovespa, provocando fuga de capital. "Mesmo que aqui os juros sejam mais altos, há uma tendência de aumento das taxas nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Com dúvidas sobre inflação, juros e crescimento, ninguém quer tomar tanto risco em locais com maior incerteza mesmo com taxas maiores, caso do Brasil, que tem uma política econômica e monetária fracas, avalia
Às 11h07, o Ibovespa caía 1,02%, aos 117.673,16 pontos, após mínima diária aos 117.473,27 pontos (-1,19%), e abertura aos 118.885,26 pontos. Petrobras cedia 0,34% (PN) e 0,03% (ON) enquanto bancos cedem mais, com destaque para Unit de Banco Inter, com recuo de 8,84%, além de ações de consumo, em meio a perspectivas de juros mais altos no mundo.
No mercado futuro de juros do Brasil, as taxas também avançam, após IGP-DI mostrar força, ao ficar em 2,37% em março, após 1,50% em fevereiro, acima da mediana de 2,10%.
Ainda prossegue o impasse em relação à escolha de uma indicação de um nome para a diretoria da estatal. Além disso, o novo cotado para assumir a presidência, o secretário do Ministério da Economia Caio Paes de Andrade é apontado como principal suspeito de utilizar os sistemas doa Pasta para checar, junto ao Serasa, a situação cadastral da Conclusiva Consultoria. Para completar, ficam no radar as paralisações dos servidores do Banco Central e do Tesouro, que já começam a afetar a divulgação de dados, inclusive do Copom.
Para completar, a LCA Consultores alerta que um fator de elevada incerteza reside na evolução da conjuntura chinesa. "O recente repique no número de novos casos de covid-19 tem provocado um recrudescimento de restrições sanitárias – o que prejudica a atividade econômica local e poderá prolongar os gargalos de oferta e congestionamentos logísticos globais", avalia em relatório.